Nove morreram entre o início do curso de Comandos em 1988 e a suspensão em 1993
Exército afirma que depois de 2002, quando o curso foi retomado, houve duas mortes – as de Hugo Abreu e de Dylan da Silva. Para as mortes ocorridas antes de 1988 não foram esclarecidas responsabilidades.
Entre 1988 e 1993, morreram nove instruendos do Curso de Comandos. Por afogamento ou suspeitas de espancamento, exaustão durante ou logo após exercícios da instrução. De acordo com uma recolha de arquivos de imprensa feita pelo PÚBLICO, foi possível chegar a essa contagem não oficial e à conclusão de que em nenhum desses casos, houve conclusões sobre as causas das mortes.
O gabinete de relações públicas do Exército, quando questionado sobre o número de mortes ocorridas desde a criação do curso de comandos, responde que houve duas ocorridas em Setembro de 2016 – as mortes de Hugo Abreu e Dylan da Silva que estão a ser investigadas judicialmente – e não faz referência aos episódios ocorridos antes da interrupção do curso em 1993. “Com o actual modelo de curso implantado em 2001, registaram-se as duas mortes ocorridas no Curso 127”, respondeu por email o porta-voz do Exército, tenente-coronel Vicente Pereira.
Também não quantifica as situações de urgência ocorridas ao longo dos anos – antes de 1993 e depois da reabertura do curso em 2002 – mas garante que “todas as ocorrências que ultrapassem as capacidades instaladas no posto de socorros devem ser evacuadas para um estabelecimento hospitalar – das Forças Armadas ou civil”.
Desde 2002, garante Vicente Pereira, “não existe no decorrer da formação ou treino dos militares comandos nenhuma prova referida como ‘prova de choque’ ou ‘prova da sede’”. Foi quando tentavam terminar a “prova de choque” que Joaquim Teixeira Bastos e José Luís Barata morreram a 14 de Abril de 1988, sem nunca as famílias terem obtido explicações sobras a causa das mortes.
Muitos desistem da recruta
Ainda segundo dados do Exército, entre 2012 e o ano passado, e havendo vários cursos em cada ano (com a duração de 84 dias de formação), 418 instruendos começaram o curso mas apenas 148 o concluíram. Nesses quatro anos, 270 foram eliminados – por desistência, falta de aptidão técnica ou razões médicas – o que equivale a quase o dobro dos que termiraram com sucesso, recebendo o diploma e a boina.
O curso com a duração de 84 dias de formação tem “diferentes módulos que são executados em todo o país, desde as planícies a grandes massas de água do Alqueva (no Alentejo) até às zonas de montanha no Norte, passando por zonas de floresta no Centro”, diz ainda o porta-voz do Exército. “Sempre que possível são realizados nas imediações e com o apoio de uma unidade militar como, por exemplo, o Campo Militar de Santa Margarida ou o Campo de Tiro em Alcochete”, explica ainda o Exército.