Ainda é domingo
Domingo é a primeira-feira. A primeira feira é boa. A segunda-feira é uma falsa feira. A segunda-feira é má. Agora só resta sermos capazes de nos esquecermos do que estamos a fingir.
Este domingo vamos seguir o exemplo de uma leitora e não falar nem na segunda-feira nem no domingo. Só se pode falar no fim-de-semana.
Domingo é o segundo dia do fim-de-semana. São só dois dias e, por conseguinte, estamos a falar de 50 por cento. Trata-se de uma parte substancial, que merece ser celebrada como o dia inteiro que é e não denegrida como dia final (“já é domingo...”) ou como véspera de segunda-feira. Viveremos o domingo como véspera de nada.
Na sexta-feira à noite é glorioso dizer que amanhã “ainda é sábado”. No sábado sabe bem dizer “E amanhã ainda é domingo”. É esse domingo delicioso, que passou do futuro para o presente, a que chegámos hoje. E será domingo todo o dia.
Na segunda-feira, quando acordarmos, é que será a altura certa para exclamarmos, horrorizados: “Já é segunda-feira!” E, se tivermos passado o domingo como dia inteiro, como combinámos passar, diremos “que pena ter acabado aquele domingo tão bom...”
É na segunda-feira que se chora o domingo que passou. Não é ao domingo que se chora a segunda-feira que aí vem. As tardes e noites de domingo prestam-se particularmente à lamechice. Esse desperdício é um luxo ao qual não nos podemos dar. Temos tempo para isso mas esse tempo faz-nos falta para fabricarmos memórias das quais vamos precisar mais depressa do que pensamos.
Domingo é a primeira-feira. A primeira feira é boa. A segunda-feira é uma falsa feira. A segunda-feira é má. Agora só resta sermos capazes de nos esquecermos do que estamos a fingir.