Marcelo Rebelo de Sousa já tem retrato holográfico

Faculdade de Ciências da Universidade do Porto cria o terceiro holograma no mundo feito a um chefe de Estado em exercício com recurso a placas holográficas de elevada resolução.

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O Chefe de Estado entra para a lista dos que, ainda em exercício, tem disponível retrato holográfico daniel rocha

Investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) criaram um retrato holográfico do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o terceiro holograma no mundo feito a um chefe de Estado em exercício.

O retrato holográfico, produzido durante a visita do Presidente à FCUP no âmbito das comemorações do 105.º aniversário da instituição de ensino superior, no passado dia 7, é da autoria dos investigadores do Femtolab, um laboratório que integra o Instituto de Física dos Materiais da faculdade.

De acordo com o professor do departamento de Física e Astronomia, Helder Crespo, dos três retratos a chefes de Estado existentes, dois foram criados na FCUP - do Jorge Sampaio, em 2003, e o de Marcelo Rebelo de Sousa, que o próprio teve oportunidade de ver, no fim da sua visita.

"A ideia que se tem quando se olha para um holograma é que se está realmente a olhar para a pessoa como ela é, a única diferença é que está imóvel, congelada no tempo", indicou Helder Crespo, afirmando que, neste tipo de trabalho, é preservada a perspectiva e a profundidade.

Num holograma existe "um número de vistas quase infinito". Esta tridimensionalidade, segundo o professor, é "muito diferente" do 3D do cinema, que se baseia apenas em duas vistas diferentes.

Este tipo de trabalho é feito com recurso a uma holocâmara, de construção "mais complexa e maior" do que a máquina fotográfica compacta, e que inclui uma fonte de luz muita específica - o laser -, que tem as características necessárias para tal, nomeadamente a propriedade coerência (capacidade que a luz tem de produzir interferência com ela mesma).

"Ao contrário do que acontece com a luz normal, com o laser é possível fazer com que dois feixes, ao se encontrarem, diminuam o brilho, o que se conhece por interferência destrutiva".

Quando "gravamos um holograma de uma pessoa, o que fazemos é gravar o que resulta da luz que vem dela provém, ao ser iluminada pelo laser, com as devidas precauções de segurança", explicou o professor.

"Essa luz vai parar à placa holográfica e, a seguir, nesse mesmo plano, chega o feixe de referência, partindo do laser original e que, ao encontrar a luz que vem da pessoa, vai produzir uma interferência microscópica, que é o holograma em si".

Ou seja, "o holograma é esse registo de um padrão de interferência da luz, uma estrutura microscópica de zonas claras e escuras", referiu Helder Crespo.

Para a criação do holograma do actual Presidente foi necessário um procedimento que envolve a "manipulação de um laser com muita potência" (à volta de 300 megawatts) e a realização de uma "montagem de alta precisão, com vários componentes, testada e calibrada".

"Uma vez tendo isso, o retrato demora o tempo de uma pessoa se sentar, olhar para o plano onde está a placa montada, enquanto o laser é accionado e origina um flash de luz que dura 30 nanosegundos, sendo que um nano segundo corresponde a 0,000000001 segundos".

A duração desse impulso do laser é cerca de "mil vezes mais curta que a do melhor flash fotográfico, pois só assim é possível fazer hologramas de objectos em movimento, como as pessoas", acrescentou o investigador.

A principal diferença entre os retratos dos chefes de Estado portugueses, segundo o investigador, prende-se no facto de terem sido usadas placas holográficas diferentes, tendo a segunda uma resolução "muito elevada" e também numa melhoria da coerência do laser usado, o que se traduziu numa imagem com "maior definição, menos ruído e melhor contraste".

O terceiro holograma, "embora um pouco diferente dos outros por causa da tecnologia digital que envolve", produzido em 2004, em Inglaterra, é o retrato da rainha Isabel II.

Uma versão do retrato holográfico, que pode ser visto com luz natural, vai ser oferecido ao Museu da Presidência da República, em Lisboa, enquanto outra vai ficar na FCUP para que possa ser vista por quem vá visitar a faculdade.