Moradores organizam cordão humano contra abate de árvores no Campo Grande
Apesar de terem conhecimento do plano de reestruturação da área do Nó de Entrecampos, aprovado pela Câmara Municipal de Lisboa, os moradores da área vão avançar, na segunda-feira de manhã, com um protesto em forma de cordão humano.
Nos últimos dias, teve início a transformação do jardim em frente à Câmara Municipal de Lisboa (CML) e aos prédios nº 35 e 37, no Campo Grande, numa zona de estacionamento. O projecto pretende reordenar a circulação automóvel na Praça de Entrecampos, onde vão ser criadas duas novas vias e um corredor reservado a transportes públicos. Mas pelo caminho estão ameaçadas três dezenas de árvores pelo que os moradores estão a organizar um cordão humano no local, marcado para segunda-feira às 8h00, contra o abate. Na quinta-feira, um casal decidiu entrar na obra e sentar-se, em protesto, junto às árvores.
Nos finais de Setembro, o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, afirmava que o objectivo da remodelação na área era evitar congestionamentos de trânsito”. “A obra consiste única e exclusivamente em usar o parque de estacionamento [à superfície] da Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa – EMEL para fazer duas vias mais um corredor Bus paralelo ao túnel a ir dar à rotunda”, noticiava a Lusa.
Contudo, a obra, afinal, está a afectar o jardim e um grupo de residentes da zona decidiu intervir. “Na tarde da passada sexta-feira (14 de Outubro) interpelámos os senhores das máquinas, que já estavam a destruir o jardim e um conjunto de árvores com cerca de 50, 60 anos, e eles informaram-nos de que havia um plano, aprovado camarariamente, para transformar o jardim num parque de estacionamento, bem como em novas vias de acesso. Procurámos intervir junto da Câmara para que se parasse a obra, mas ninguém nos conseguia informar nem pôr-nos em contacto com quem pudesse dar-nos um esclarecimento”, relatou ao PÚBLICO João Costa Guerra, um dos manifestantes. “Isto foi deliberadamente feito para que não tivéssemos qualquer espécie de informação”.
Os residentes conseguiram, entretanto, uma reunião, na manhã de segunda-feira (17 de Outubro), com responsáveis pelo projecto, entre eles a arquitecta Luísa Pinto, que lhes confirmaram que este tinha a aprovação da CML. Foi deixado um abaixo-assinado na câmara e foi solicitada uma entrevista com o vereador do pelouro do urbanismo, Manuel Salgado. A CML já confirmou entretanto aos manifestantes que não é possível travar a reconversão do jardim, mas que as árvores já não vão ser abatidas. “Mas como retiraram a relva, os passeios e a calçada em volta, acabaram por levantar também parte das raízes das árvores. E árvores com 50, 60 anos, com as raízes afectadas, certamente não vão sobreviver, e aí a Câmara já terá todo o direito de dizer que têm de ser deitadas abaixo porque estão estragadas”, acrescentou João Costa Guerra.
Também Duarte e Isabel Raposo Magalhães, residentes na zona, decidiram protestar. “Entrámos na obra e sentámo-nos na base das árvores mas, antes disso, fizemos tudo para chegar à fala com a câmara. Enviei vários emails, pedi para entrar em contacto com o sr. vereador, e não consegui que me dessem uma resposta. Na reunião que tivemos com a arquitecta Luísa Pinto (na manhã de quinta-feira, 20 de Outubro), ela mostrou-nos o plano das obras e do parque de estacionamento e garantiu-nos que as árvores não seriam afectadas, mas as obras continuaram e as árvores estão condenadas”. Assim, Duarte e Isabel entraram no jardim, sentaram-se sob dois troncos que estavam prestes a ser derrubados e lá ficaram mesmo sob ameaça de se chamar a Polícia. “Disse que tinha muita pena mas que não saíamos dali enquanto não conseguissem pôr-nos a falar com o sr. vereador”.
Até ao fecho desta edição, nem conseguiram entrar em contacto com Manuel Salgado nem receberam outros esclarecimentos. Ao PÚBLICO também não houve resposta por parte da CML.
Assim, o grupo vai avançar, na próxima segunda-feira, com o cordão humano. “Vamos tentar chamar a atenção para se parar com este atentado ambiental”, esclareceu João Costa Guerra. Duarte Raposo Magalhães acrescentou: “O jardim sofreu obras há quatro anos para instalar novos sistemas de rega, novos passeios, mais relva e mais árvores. A minha pergunta é ‘porquê’? Porque é que se deram ao trabalho de fazer as modernizações se agora vão deitar tudo abaixo?”.
O grupo criou uma página no Facebook “Cordão pelas Árvores de Entrecampos” para informar quem a eles se queira juntar.
Texto editado por Ana Fernandes