População civil começa a fugir dos arredores de Mossul

ONU estima que nas primeiras semanas da ofensiva 200 mil pessoas fiquem deslocadas. No total, um milhão poderá precisar de ser alojada.

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Iraquianos deslocados numa aldeia nos arredores de Mossul ALAA AL-MARJANI/Reuters

Enquanto as tropas iraquianas avançam sobre os arredores de Mossul, retomando aldeias limítrofes, a população civil começou a fugir. Responsáveis da ONU já tinham alertado para um êxodo de civis durante a batalha pela reconquista da grande cidade do Norte do Iraque ao Estado Islâmico.

Até agora, a actividade militar tem tido lugar em zonas mais desertas, mas as Nações Unidas temem o que acontecerá quando os combates chegarem perto de zonas densamente povoadas, disse o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric. “Estimamos que possam ficar deslocadas 200 mil pessoas nas primeiras semanas da ofensiva, e até um milhão na pior hipótese”, declarou, citado pela agência francesa AFP.

Até agora, as preocupações em relação aos civis que estão em Mossul  sob domínio do Estado Islâmico, prendiam-se mais com uma possível tentativa dos islamistas não deixarem sair os civis e os estarem a manter em locais que deverão ser bombardeados. Há acusações, por parte dos Estados Unidos, de que estão a ser usados como escudos humanos.

O Alto-Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) está a preparar cinco campos na área com capacidade para 45 mil pessoas e espera conseguir chegar a onze nas próximas semanas, aumentando a capacidade para 120 mil pessoas. Mesmo assim, não chega ao que será necessário segundo as estimativas.

Mas se a ONU diz que para já não houve movimentações importantes, a organização não-governamental Save the Children afirma que cerca de 5000 pessoas passaram do Iraque para a Síria nos últimos dez dias, chegando a um campo de refugiados que já está com muito mais pessoas do que a sua capacidade - as condições são deploráveis, diz a organização. A ONU diz que algumas destas novas chegadas poderão ser sírias e não relacionadas com os acontecimentos de Mossul. O campo tem capacidade para 7500 pessoas mas alberga neste momento nove mil.

“Estas famílias chegam sem nada, apenas com a roupa que têm no corpo”, descreveu Tarik Kadir, responsável da Save the Children em Mossul. “O campo está a rebentar pelas costuras”, continuou. “As condições aqui estão entre as piores que já vimos, e esperamos que em breve mais milhares de pessoas estejam a caminho.”

Os residentes de Mossul receberam conselho do Governo iraquiano para se manterem na cidade. As autoridades de Bagdad temem que haja estradas armadilhadas para impedir o avanço das suas tropas.

O Presidente norte-americano, Barack Obama, mostrou-se preocupado com a falta de possibilidade dos habitantes de Mossul fugirem aos confrontos. “Se não formos capazes de ajudar as pessoas comuns na sua fuga do ISIL [o EI], isso torna-nos vulneráveis a um possível regresso” dos jihadistas, declarou, citado pela emissora britânica BBC. 

Omar Ali Hussein foi um dos que decidiu – e conseguiu – escapar. “A nossa vida era muito difícil, todos os dias eles matavam alguém”, contou ao diário britânico The Guardian. Na terça-feira, Omar e a sua mulher, que é deficiente, conseguiram sair. “Estivemos cercados dois dias, porque o Daesh tinha atiradores furtivos”, contou.

Mas estes foram entretanto embora. Outros habitantes que ainda estão na cidade contaram, sob anonimato, como alguns dos combatentes do Daesh largaram postos de controlo e tentaram misturar-se com a população civil. “Cerca de 25 combatentes mudaram-se para casas vazias de cristãos e xiitas, tomando posição nestas casas”, contou um habitante.  

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