Até os turistas param para ver a guarda de honra ao Parlamento

Cerimónia realiza-se, de preferência, na primeira sessão plenária de cada mês. Por vezes, há turistas a assistir à curta marcha de continência.

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Ferro Rodrigues mantém a tradição mensal da guarda de honra militar ao Palácio de S. Bento Miguel Manso

Dezoito elementos da GNR alinham-se, em formatura, três a três, em sentido, com o fato de gala e arma na mão, ao alto. Estáticos, muitos limitam-se a mexer os olhos. Esperam que Ferro Rodrigues, o presidente da Assembleia da República, saia pela porta principal do edifício, pontualmente às 14h50, acompanhado pelas suas chefes de gabinete e protocolo e pelo secretário-geral da AR, e se coloque na frente da companhia.

Do lado de fora das imponentes arcadas de mármore sente-se o fresco do Outono, apesar do sol do início da tarde e dos 20 graus. Do lado de dentro, a pequena Anna balança o corpo ao ritmo da marcha da continência que sai afinada da corneta, mas estremece de susto quando os guardas batem com o pé no chão às ordens do comandante. A menina loura, de quatro anos, não percebe o que se passa e agarra-se à perna da mãe, Laura, que filma a cerimónia.

É mais uma guarda de honra militar ao Palácio de S. Bento. Por regra, com Ferro Rodrigues, a tradição cumpre-se no dia da primeira sessão plenária de cada mês. Mas não é rígido.

Entre Ferro Rodrigues e os elementos da guarda de honra está o tapete vermelho, aspirado e estendido para as ocasiões especiais. O tenente Ferrão, comandante da guarda de honra, faz sinal ao corneteiro, para um primeiro toque, dá ordem de sentido e de ombro-arma. Começa, depois, a ouvir-se a marcha de continência, que é de menos de um minuto. No final, Ferro Rodrigues e os seus acompanhantes sobem os degraus e voltam a entrar no edifício. Fechada a porta principal, a guarda de honra desmobiliza, em formatura, e entra pela sua porta de serviço. Meia dúzia de funcionários vieram até às arcadas para cerimónia, e eram mais os turistas a assistir.

Laura e John, ela alemã, ele escocês, estão em Lisboa pela segunda vez para uma semana de férias. Passavam pela escadaria quando deram com a guarda de honra. Estranharam a informalidade. “Em Inglaterra ou na Escócia isto estaria cercado por grades; nunca poderia subir a escada e ir conversar com o guarda da porta, como fui”, constata o escocês. Também ficou impressionado por não ser um momento criado para turistas, que resiste pela simbologia intrínseca. Por oposição, lembra o tiro de canhão do castelo de Edimburgo, à uma da tarde, feita há 150 anos “que se mantém por questões turísticas”.

O ritual português tem três décadas. Com Mota Amaral, realizava-se no início e no final de cada semana de trabalhos; mas com Almeida Santos era apenas no início do mês. Recuando, Barbosa de Melo além da periodicidade mensal, decidiu que a cerimónia assinalava também o início e o fim de cada sessão legislativa.

maria.lopes@publico.pt

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