300 crianças a "pouco dias" de irem da "Selva" de Calais para o Reino Unido

Franceses querem demolir campo onde vivem uns dez mil refugiados até ao fim do mês, mas várias ONG dizem que nem toda a gente tem para onde ir.

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Vista aérea da "Selva", numa imagem de Junho Phillipe Huguen/AFP

No maior campo improvisado da região de Calais, conhecido como "Selva", onde milhares de refugiados sobrevivem enquanto esperam para tentar dar o salto e chegar ao Reino Unido, estarão hoje dez mil pessoas, de acordo com as ONG que lá trabalham. Entre estas, há 1290 menores desacompanhados, a maioria com familiares a viver em Inglaterra.

“Tudo está a avançar depressa e devemos ver um número significativo de crianças a chegar ao Reino Unido nos próximos dias”, diz um responsável ao diário The Telegraph.

Anne Longfield, Comissária da Infância para a Inglaterra, citada pelo mesmo jornal, afirma que são umas 300 as crianças a acolher de acordo com as regras europeias (um refugiado tem de pedir asilo no país de entrada, mas os menores podem transferir os seus processos para onde tenham familiares), a maioria sírias e afegãs. As onze organizações não-governamentais que têm funcionado como porta-vozes da população da "Selva" suspeitam que são mais as crianças que o Reino Unido poderia acolher.

Estas organizações estão decididas a tentar impedir o encerramento do campo (está previsto que comece a ser demolido no dia 24) e na sexta-feira apresentaram um recurso nos tribunais, sustentando que as autoridades francesas não podem desmantelá-lo sem terem onde pôr toda a gente que lá se encontra. As crianças são uma das maiores preocupações, já que os centros de acolhimento espalhados por França não estão preparados para as proteger.

Anne Longfield também faz um aviso, lembrando que a última vez que uma parte do campo de Calais foi demolida, em Março, desapareceram 130 crianças.

Luto e o afegão de 14 anos

“Calais chegou ao fim, acabou”, afirmou Pascal Brice, director da Ofpra, a agência que recebe os pedidos de asilo em França, já depois do recurso das ONG. “O que está em causa é passar esta mensagem, dizer às pessoas que não vale a pena tentarem ir por esse caminho, é um beco sem saída”, disse, numa entrevista com a Reuters e alguns jornais europeus. “O importante é tirar as pessoas destas barracas. Vamos ter de as acompanhar enquanto abandonam o seu plano de ir para o Reino Unido. É difícil, vai ser um processo de luto.”

Os franceses garantem que actualmente “é quase impossível” sair de Calais a caminho dos túneis do canal da Mancha (a maioria tenta atravessar a pé ou esconde-se em camiões) porque a segurança foi muito apertada. Mas em Setembro um menino afegão de 14 anos tornou-se na pessoa mais nova a morrer na travessia, quando foi atropelado por um camião – o rapaz cumpria os critérios para ser recolocado no Reino Unido, a 33 quilómetros de distância do campo.

O Reino Unido pediu aos franceses para retirarem as crianças que vai receber do campo antes das demolições. “Os que vão chegar de Calais vão precisar de pacotes de apoio e cuidados”, diz a ministra do Interior, Anne Rudd, citada pelo The Independent. “Muitas destas crianças passaram por condições terríveis nos seus países de origem e desde que fugiram.”

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