As curvas e contracurvas de Buchinho no Porto de Leixões
Dois desfiles no novo Terminal de Cruzeiros e o balanço de quatro dias de moda. À 39.ª edição, evento mostra crescente poder centralizador.
Há uma curva que se desenha nos ombros das modelos, ou no início da perna de um vestido – e essa curva parece em casa no edifício do Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões, obra de arquitectura marcante na sua brancura curvilínea. O designer Luís Buchinho encontrou a tela certa para o desfile da sua colecção do próximo Verão, que tem recortes e contracurvas desportivos. “Dificilmente encontraria um espaço com esta proximidade do mar e que mostrasse as cores primárias com uma luz que não fosse artificial”, explicava após um dos desfiles mais concorridos do último dia do 39.º Portugal Fashion.
Já tinha mostrado a colecção em Paris e agora trouxe-a a centenas de convidados que encheram, no final da manhã de um sábado cinzento que se iluminou de azul e sol para o desfile, o novo edifício projectado por Luís Pedro Silva. Buchinho, explicou ao PÚBLICO após o desfile, tem forte ligação à arquitectura e jogou também com o “contexto industrial” para emoldurar a sua colecção Verão 2017 – o porto, com cargueiros a passar e ondas a galgar o molhe, serviu de palco à sua versão quase nocturna do sportswear e aos estampados de inspiração mecânica, que desfilaram ao longo de uma parede de vidro com vista para o Atlântico.
Antes de regressar à Alfândega do Porto para findar a maratona de desfiles encetada quarta-feira em Lisboa, o evento organizado pela Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) e pela Associação de Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) acolheu ainda Katty Xiomara. A sua Corrente das Agulhas, vinda, por seu turno, de uma apresentação prévia em Nova Iorque, foi uma sequência de rosa pálido, azuis e muitas evocações do mar em versão girly, desta feita mostrada ao público no anfiteatro ao ar livre no topo do novo edifício.
À beira das 40 edições, a tarde de sábado seria depois a mescla que há anos identifica o evento – apresentações de calçado, marcas de vestuário ligadas à indústria e desfiles de moda de autor. Nos quatro dias, houve ainda um dia e meio só para a plataforma de jovens autores Bloom, com entrada livre, aberto ao público e pontuado por concertos no Palácio dos CTT; o Portugal Fashion começara na véspera com outro local de desfiles associado à grande arquitectura portuguesa, o Pavilhão de Portugal, em Lisboa, com desfiles de autores mais ligados à cidade como Alexandra Moura, Pedro Pedro, Storytailors ou Alves/Gonçalves.
Paris, Milão, Londres e Nova Iorque
Esta edição, informa a organização, teve um orçamento de cerca de 600 mil euros, e em 2017 o Portugal Fashion prevê regressar a Paris, Milão, Londres e Nova Iorque. Mas tem “outros mercados em análise, como Copenhaga”, onde esteve na feira Vision em 2013 “e outras capitais do Oriente, provavelmente na China”, precisa João Rafael Koehler, presidente da ANJE. Questionado sobre que criadores vão estar presentes, visto que o elenco tem sofrido algumas alterações para “rotatividade” de “visibilidade e negócio”, o presidente diz que “o objectivo é manter critérios de selecção baseados no cruzamento entre o perfil dos criadores, marcas e mercados” e dos “pré-requisitos” dos eventos.
O Verão 2017, ou a sua antecipação neste Outono de 2016, viu o Portugal Fashion a progredir num caminho centralizador, num sector que tende a apostar cada vez mais no sonho da exportação. O movimento tem já um par de anos e esta estação nomes como Alexandra Moura, Pedro Pedro, Carlos Gil e Miguel Vieira passaram a apresentar-se em exclusivo no evento nascido no Porto depois de anos com a ModaLisboa como palco – o financiamento comunitário de desenvolvimento regional, no âmbito do programa Portugal 2020 e Compete 2020, assegura presenças internacionais destes designers via Portugal Fashion, condição para a sua participação em feiras e desfiles em Londres, Milão, Nova Iorque e Paris. São deles, ou de Diogo Miranda e Luís Onofre, alguns dos desfiles mais concorridos, e muitas vezes sem lotações esgotadas, com outros a ocupar sobretudo um público mais especializado ou local.
Ausente esteve um dos grandes chamarizes de público, Nuno Baltazar, cuja moda senhoril regressará em Março com uma colecção adaptada à mais recente tendência de vendas da moda autoral – “see now, buy now”, ou “veja agora, compre agora”, ao invés do lapso de seis meses entre a estação da colecção e a sua venda.
Um Next Step para tentar comercializar a moda
Sexta-feira e sábado, a Alfândega do Porto, centro do Portugal Fashion, teve à sua entrada o showroom Brand Up, parte do programa de internacionalização Next Step da ANJE – o mesmo que leva ao estrangeiro, com fundos comunitários, designers escolhidos pela organização. Expositores negros com as colecções de 14 criadores à passagem do público e de potenciais compradores, que regressam após ano e meio de interrupção. “O nosso foco entretanto centrou-se no reforço das acções e mercados internacionais, complementadas por outras iniciativas de continuidade em Portugal”, diz o presidente da ANJE, sem um balanço do Brand Up até agora. O conjunto dessas acções – showrooms e feiras nas capitais de moda e em Moçambique – entre Julho de 2015 e até Dezembro deste ano, indica a mesma fonte, tem 2,5 milhões de euros de orçamento. Os criadores falam em contactos e algum crescimento, mas sem quantificar.