Apenas uma em cada seis crianças até aos dois anos recebe nutrientes suficientes
Relatório da Unicef adverte que as práticas nutricionais, uma vez melhoradas, salvariam a vida a 100 mil crianças. No entanto ainda se verificam grandes discrepâncias na quantidade e qualidade do que é consumido pelas crianças em idade pré-escolar.
Apenas uma em cada seis crianças com menos de dois anos recebe alimentos em quantidade e diversidade suficientes para a sua idade, o que deixa as restantes em risco de danos físicos e mentais irreversíveis.
A conclusão é de um relatório da agência das Nações Unidas para a infância, a Unicef, hoje divulgado. Intitulado "Desde a primeira hora de vida", o relatório revela um mundo onde uma dieta saudável está fora do alcance da maioria.
"Os bebés e as crianças pequenas têm maior necessidade de nutrientes do que em qualquer outra fase da vida. Mas milhões de crianças pequenas não desenvolvem todo o seu potencial físico e intelectual porque recebem pouca comida e demasiado tarde", disse France Begin, conselheira sénior para os assuntos de Nutrição da Unicef, citada num comunicado da organização.
O relatório adverte, ainda, que apenas 52% das crianças de entre os seis e os 23 meses recebem o número mínimo de refeições diárias para a sua idade e a diversidade alimentar é outro problema: menos de metade das crianças recebe diariamente alimentos de pelo menos quatro grupos alimentares diferentes.
Entre os seis e os 11 meses, a faixa etária em que a nutrição é mais importante, a situação é ainda mais preocupante: apenas 20% estão a receber alimentos de quatro grupos diferentes por dia, o que provoca carências de vitaminas e minerais.
As consequências da introdução tardia de alimentos sólidos na faixa etária correspondente são, invariavelmente, o atraso no desenvolvimento físico e intelectual das crianças.
A importância da amamentação na primeira hora de vida
No relatório, a Unicef frisa que, em 2015, apenas 45% dos 140 milhões de bebés que nasceram foram amamentados na sua primeira hora de vida, e três em cada cinco bebés com menos de seis meses não recebem os benefícios da amamentação exclusiva.
Segundo as recomendações da Organização Mundial de Saúde, a amamentação deveria de ser a forma exclusiva de alimentação dos bebés até aos seis meses de idade. No entanto, quase metade das crianças em idade pré-escolar sofre de anemia e metade das crianças entre os seis e os 11 meses não recebe qualquer tipo de alimento de origem animal.
A Unicef alerta ainda para as desigualdades. Na África subsaariana e no Sul da Ásia, apenas uma em cada seis crianças dos agregados familiares mais pobres com idades entre os seis e os 11 meses têm uma dieta minimamente diversificada, comparando com uma em cada três dos agregados mais ricos.
Esforço para garantir uma dieta saudável
Uma melhoria das condições de nutrição das crianças poderia salvar 100 mil vidas, sublinha a organização, mas será necessário haver um esforço conjunto de várias entidades, uma vez que as famílias, embora façam o seu melhor com os recursos a que têm acesso, não podem fazer tudo sozinhas.
É precisa a liderança dos governos e os contributos de sectores-chave da sociedade para fornecer uma dieta saudável às crianças, pode ler-se no relatório.
"Não podemos permitir-nos falhar nesta nossa luta para melhorar a nutrição das crianças pequenas. A sua capacidade para crescer, aprender e contribuir para o futuro dos seus países depende disso", concluiu France Begin.
Tornar os alimentos nutritivos mais baratos e acessíveis para as crianças mais pobres exige investimentos mais consistentes e direccionados por parte dos governos e do sector privado.
Transferências em dinheiro ou em géneros para as famílias vulneráveis; programas de diversificação de colheitas; e o enriquecimento de alimentos básicos são essenciais para a melhorar a nutrição das crianças pequenas.
Serviços de saúde comunitários com capacidade para ajudar a ensinar aos cuidadores melhores práticas alimentares, bem como a água e o saneamento adequados – essenciais para a prevenção de doenças diarreicas nas crianças – são igualmente cruciais.