Um militar da GNR e um civil mortos e dois feridos em Aguiar da Beira

Autores dos disparos continuam em fuga. O militar morto foi encontrado na bagageira da viatura da GNR ainda com vida. Perto, a polícia encontrou um casal baleado. "Há um elevado grau de probabilidade" de as duas situações estarem relacionadas, diz GNR

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Os corpos foram encontrados numa mata perto da Estrada Nacional 229 Hugo Santos
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Na manhã desta terça-feira, um militar da GNR foi morto a tiro e outro agente ficou ferido em Aguiar da Beira, distrito da Guarda. Horas mais tarde, outro militar foi baleado numa perna em Candal, São Pedro do Sul.

O militar que acabou por morrer com ferimentos de bala na cabeça foi encontrado ainda com vida na bagageira da viatura militar que, num momento inicial, foi usada pelos autores dos disparos. Nas imediações do local onde o carro da GNR foi encontrado, a cerca de cinco quilómetros da zona onde foram disparados os tiros, a polícia encontrou ainda um casal de civis com ferimentos de bala. Com idades "entre os 40 e os 50 anos", o homem estava já sem vida e a mulher foi transportada para o Hospital de Viseu, onde se encontra numa situação "bastante complicada". 

Por enquanto, a GNR limita-se a dizer que "há um elevado grau de probabilidade" de as duas situações estarem relacionadas.  

Ao início da tarde, as buscas das autoridades aos criminosos concentravam-se na zona das aldeias do Candal e de Póvoa das Leiras, no concelho de S. Pedro do Sul, onde foi encontrada uma carrinha que os autores dos disparos usaram. Aí, houve uma nova troca de tiros que provocaram ferimentos num terceiro militar do Núcleo de Investigação Criminal da GNR, que foi baleado numa perna e transportado para o Hospital de Viseu. Dentro da viatura estava uma arma que pertencia aos militares da GNR que estiveram envolvidos no primeiro confronto com os criminosos, em Aguiar da Beira. 

A GNR de Viseu diz que ainda não houve nenhuma detenção. No entanto, avança que o indivíduo que continua fugido está devidamente identificado e que as autoridades têm fotografias do mesmo. Trata-se de um homem de Arouca e é considerado perigoso. As buscas continuam e a GNR não deixa passar viaturas para as aldeias de Candal e de Póvoa de Leiras.

Apesar do que está ainda por esclarecer, o porta-voz do Comando Territorial da GNR da Guarda, Pedro Gonçalves, não hesita em qualificar o que se passou de madrugada em Aguiar da Beira como "uma situação macabra". "A viatura da GNR terá sido utilizada pelos suspeitos. Um dos militares ficou ferido no local onde foram disparados os tiros e ao outro fomos encontrá-lo no interior da bagageira da viatura militar, que tinha sido abandonada a cerca de cinco quilómetros do local dos disparos. Infelizmente, faleceu pouco depois", relatou ao PÚBLICO. 

O que se sabe é que os dois militares da GNR se encontravam numa rotineira acção de patrulha perto da zona industrial de Aguiar da Beira, em Vila Chã, perto do sítio onde está a ser construído um hotel. Sem confirmar que os militares estivessem a tentar aplacar qualquer assalto (como foi aventado, até por se tratar de uma zona isolada, sem casas habitadas e onde os assaltos são frequentes), a GNR adianta apenas que os dois militares terão esbarrado nalguma "situação inopinada" no decurso da qual foram alvejados, sem qualquer possibilidade de reacção.

Militar em estado estável

Um dos militares, António Ferreira, de 41 anos, foi encontrado baleado no local. Dali foi transportado para o Hospital de Viseu. O seu estado, inicialmente considerado muito grave, tem tido uma evolução aparentemente favorável, nas últimas horas. O director do serviço de urgência do Hospital de S. Teotónio, em Viseu, Miguel Sequeira, disse que o militar entrou com um traumatismo crânio-encefálico causado por arma de fogo e que ficou internado no serviço de neurocirurgia, depois de ter sido avaliado pelos serviços de otorrino e cirurgia maxilo-facial.  O seu estado foi classificado como "bastante favorável"

O segundo militar, Carlos Caetano, com 29 anos, viria a ser encontrado ainda com vida, no interior da bagageira da viatura militar que os suspeitos usaram para se pôr em fuga, mas viria a morrer pouco depois. "Dada a gravidade dos ferimentos, não chegou a ser transportado para o hospital", adiantou o major Pedro Gonçalves. Quando chegou ao hospital de Viseu, estava já cadáver.

Foi nas cercanias do local onde foi deixada a viatura militar, na Estrada Nacional 229, que liga Aguiar da Beira e Viseu, que a GNR encontrarou pouco depois os dois civis, a cerca de dez metros da estrada. O homem já não apresentava "sinais vitais". A mulher sim. Foi encaminhada para o Hospital de Viseu, onde entrou com um traumatismo crânio-encefálico e a meio da tarde estava no bloco operatório a ser intervencionada.

A polícia calcula que os confrontos tenham ocorrido "entre as cinco e as seis horas da manhã" e nenhum dos militares terá tido tempo de alertar o posto territorial de Aguiar da Beira. "Não tiveram tempo para pedir ajuda. O comandante do posto é que estranhou que a viatura da patrulha estivesse parada há tanto tempo, num local ermo", adiantou. Ao que o PÚBLICO apurou, o único contacto dos militares com o posto territorial tinha sido para pedir informações sobre a matrícula de um veículo suspeito que ali tinham avistado. 

A Polícia Judiciária foi chamada a coordenar a operação montada para capturar os suspeitos em fuga. E que se manterá até que estes sejam capturados", asseverou o major Pedro Gonçalves. Depois do aparato instalado no local onde foi encontrada a viatura da GNR, para recolha de provas, ter sido desmobilizado, ao início da tarde, os esforços concentraram-se na caça aos suspeitos em fuga, com especial incidência nas zonas de fronteira. A Guarda Civil espanhola está, de resto, a colaborar com as autoridades portuguesas. Um dos suspeitos, qualificados como perigosos, já foi identificado pelas autoridades, que aponta um indivíduo com "antecedentes criminais" e residente em Arouca.

"Criminalidade cada vez mais violenta"

Entretanto, a Associação Sócio-Profissional Independente da Guarda (ASPIG) já lamentou a morte do militar, frisando que os agentes que fazem patrulhas deveriam ser valorizados porque arriscam a vida. "Ainda esta noite enviámos ao Comando Geral da Guarda a nossa proposta para alterar o estatuto do militar da GNR, em que realçamos que o patrulheiro é a essência da guarda", disse o presidente da ASPIG, José Alho, citado pela Lusa.

“É aquele que morre, que vai aos assaltos, à desordem pública, sozinho com outro camarada, e é aquele que ganha menos", lembrou ainda aquele responsável, para quem os patrulheiros “deveriam ser os militares mais bem pagos” da GNR, até porque “a criminalidade está cada vez mais violenta”.

A ASPIG enviou a proposta de revisão do estatuto por correio eletrónico, no término do prazo, e espera agora ser chamada pela ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, para uma reunião. “Pensamos que há vontade política por parte da senhora ministra para fechar este assunto este ano”, indicou. 

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