Presidente da Colômbia doa dinheiro do Nobel às vítimas do conflito com as FARC
Prémio de 800 mil euros vai para as vítimas, anunciou Juan Manuel Santos, num dia em que o seu antecessor, Álvaro Uribe, exigiu penas de prisão para os guerrilheiros.
O Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, que há dois dias foi galardoado com o Nobel da Paz, anunciou neste domingo através do Twitter que vai doar os 825 mil euros que acompanham o prémio às vítimas do conflito armado com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).
“Este grande prémio Nobel (...) é acompanhado por uma soma de dinheiro (...) quero dizer-vos que me reuni com a minha família e decidimos doar estes oito milhões de coroas suecas (cerca de 825 mil euros) às vítimas”, disse o presidente colombiano à margem de uma cerimónia religiosa realizada em Bojaya, no Nordeste da Colômbia, noticiou a AFP.
O Nobel da Paz foi atribuída na sexta-feira a Juan Manuel Santos pelo seu empenho em pôr fim ao conflito que durante mais de meio século afectou a Colômbia. Apesar de os colombianos terem rejeitado, através de referendo, o acordo proposto pelo chefe de Estado e pelo líder das FARC Rodrigo Londoño (conhecido como "Timoleon Jiménez" ou "Timochenko") para selar o fim do conflito, o Comité Nobel entendeu premiar o esforço de conciliação feito pelo líder colombiano e deixar claro que o mundo espera que a luta armada tenha efectivamente chegado ao fim.
Assim que foram conhecidos os resultados do referendo do último domingo, em que 50,2% dos colombianos que votaram rejeitaram o texto do acordo, Juan Manuel Santos e as FARC prontificaram-se a dizer que não iam desistir do caminho da paz.
Depois da atribuição do Nobel a Santos, "Timochenko", que não partilhou o prémio, ao contrário do se chegou a pensar, garantiu no Twitter que “o único prémio” que as FARC pretendem “é a paz com justiça social para a Colômbia sem paramilitarismo, sem retaliações ou mentiras”. E, nessa mesma sexta-feira, as autoridades colombianas e os guerrilheiros reafirmaram, num comunicado comum, o seu compromisso em manter um cessar fogo “bilateral e definitivo” e a procurar “ajustamentos” que tornem o acordo aceitável aos olhos dos colombianos (a primeira votação popular, além de rejeitar o acordo, rejeitou uma abstenção recorde de 62%).
A tarefa dos negociadores não se afigura fácil no meio de vozes sonantes como a do ex-Presidente colombiano Álvaro Uribe, que neste domingo voltou a manifestar-se contra perdões aos guerrilheiros. Num comunicado partilhado via Twitter, o actual senador colombiano sustentou que os membros das FARC que tenham sido responsáveis por crimes graves devem pagar com “penas de privação de liberdade de entre cinco a oito anos, mesmo que em sítios alternativos, como explorações agrícolas”.
Segundo Uribe, garantir a “impunidade total aos responsáveis por delitos atrozes” pode converter-se num “mau exemplo, criador de novas violências”.