Alice Vieira, “uma figura rara” celebrada na Escritaria

Termina neste domingo em Penafiel o festival literário Escritaria, quatro dias dedicados à autora de livros para crianças e jovens Alice Vieira.

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Alice Vieira: “Tenho-me sentido a Rainha de Inglaterra" Joana Bourgard

Ao terceiro dia, Mário Zambujal disse: “Já levo para aí 50 anos de a conhecer. É uma figura rara.” O jornalista e escritor falava informalmente antes da conferência Alice Vieira: Vida e Obra, no Museu Municipal de Penafiel, com mais convidados e amigos: Vítor de Sousa, Carla Nazareth, Fernando Alvim, Jorge Paixão da Costa, Leonor Riscado e Sílvia Alves.

As várias facetas de Alice foram exploradas e elogiadas: jornalista, poeta, escritora de livros para crianças, jovens, mas também para adultos, mediadora de leitura e guionista.

“Os livros de Alice nunca nos desiludem”, disse a professora Leonor Riscado; “Alice é um hino à existência”, afirmou o realizador Jorge Paixão da Costa, que foi “homenagear a guionista, muito versátil”; o actor Vítor de Sousa reclamou, “Alice, este ano falhaste o envio do postal da Ericeira”, e, com humor, mostrou-se agradado com a presença de imagens de Alice Vieira por toda a cidade: “Até uma loja de soutiens fez homenagem a Alice!”

Para a ilustradora Carla Nazareth, “trabalhar com a Alice Vieira é a coisa mais fácil deste mundo”; já o humorista Fernando Alvim disse que faltavam umas coisas na cidade: “Uma estátua em bronze, mudar o nome do estádio de Penafiel para Alice Vieira, um bolo Alice Vieira…” Mas, afinal, segundo o comissário cultural do encontro Alberto Santos, já havia um busto… de Alice descerrado na véspera.

Sílvia Alves disse que “nos livros de Alice Vieira encontramos sempre a Alice” e Zambujal invocou as memórias do seu trabalho no suplemento Diário de Lisboa Juvenil: “Ela já era escritora antes de ser jornalista.” E falou na “claridade da escrita de Alice”.

Antes de se ouvir a voz dos convidados, foi lida uma mensagem do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, que considerou “justa a homenagem a uma grande amiga”. E afirmou sermos “todos devedores a Alice Vieira”.

O também escritor de livros para crianças e jovens António Mota, na assistência, disse-nos sobre a autora: “Uma longa amizade, reencontros temperados de gargalhadas e uma grande admiração.”

A frase que a escritora escolheu para ficar registada no muro de uma antiga escola primária da cidade foi esta: “Há cheiros da infância que não morrem nunca, nem sequer envelhecem como a nossa pele.” E Alice Vieira nem tem muitas memórias de infância, como contou ao PÚBLICO quando se assinalaram os seus 30 anos de livros. Na altura, disse: “Recordo-me de muito pouca coisa da minha infância. Não me lembro de mim. Acho que é uma defesa.” E ainda: “Só gosto da minha vida a partir dos 20 e tal anos.” Mas agora percebe-se que gosta muito.

No final da conferência, a escritora disse sobre estes dias: “Tenho-me sentido a Rainha de Inglaterra ou o Presidente da República, fartei-me de tirar selfies. Uma experiência extraordinária.” E lembrou: “Conversarmos uns com os outros parece ser agora um desporto fora de moda. Mas sempre que pudermos devemos aproveitar.”

Antes de um momento musical a encerrar a conferência, foi entregue o Prémio Carreira Escritaria 2016 a Mário Zambujal por Fernando Alves, distinguido no ano passado. Surpreendido, disse: “Desculpem lá, mas a malta nova comove-se.” Tal como Alice, foi aplaudido de pé.

 

rpimenta@publico.pt 

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