Nas histórias de vida de alguns dos supercentenários do mundo há pontos comuns. Percebemos, por exemplo, que ser mulher significará uma vantagem para ultrapassar a linha dos 115 anos. Na lista das 15 pessoas que ultrapassaram os 115 anos desde 1990, publicada no trabalho Supercentenários divulgado na Base de dados Internacional da Longevidade, existem apenas dois homens. Mas há mais: a maioria dos supercentenários não tinha filhos ou tinha apenas um, muitos gostavam de comer doces (notando-se uma preferência pelo chocolate), a maioria não fumava, alguns bebiam pequenas quantidades diárias de álcool (um copo de vinho do Porto, por exemplo) e quase todos eram considerados pessoas activas e bem-dispostas. Então, será que o segredo da longevidade está numa receita que, entre outras coisas, inclui chocolate e bom humor? É pouco provável. Ao que tudo indica, as vidas mais longas do planeta serão o resultado de uma misteriosa combinação entre sorte e genética.
Jeanne Calment (1875-1997)
Nasceu em Arles, no Sul de França, e morreu na mesma cidade com 122 anos. Quando ficou famosa pela sua longevidade, aos 110, dizia que esperava a morte e os jornalistas e que iria tentar aproveitar o momento de fama durante muito tempo. Aos 88 anos já não tinha qualquer parente próximo, tinha perdido o marido, a filha e o neto. Segundo os registos históricos e testemunhos, Jeanne Calment nunca precisou de trabalhar, adorava o pai que era um construtor de navios e conheceu Van Gogh quando tinha 13 anos.
Todos os dias, bebia um copo de vinho do Porto, fumava um cigarro e comia um pouco de chocolate. Até tarde na vida, fazia caminhadas que lhe davam prazer. Tinha sentido de humor. Aos 110 anos foi viver para um lar de idosos. Aos 115 anos caiu nas escapadas depois de uma visita ao quarto de uma enfermeira com quem fumava cigarros. Foi preciso fazer uma cirurgia que correu bem mas os médicos avisaram que provavelmente não iria voltar a andar. “Eu espero, tenho muito tempo”, terá respondido.
Chegou aos últimos anos de vida praticamente cega, a ouvir muito mal e presa a uma cadeira de rodas. Porém, não sofria de nenhuma doença grave, além de alguns problemas cardíacos, reumatismo e uma tosse crónica. Entre as várias conversas que tinha com jornalistas e investigadores, fazia questão de passar uma mensagem. Uma espécie de segredo para a longevidade. “Mantenham sempre o sentido de humor. Será a isso que devo a minha longa vida. Julgo que vou morrer a rir. Esse é o meu plano.”
Christian Mortensen (1882-1998)
Christian Mortensen era, nos anos 90, o único homem entre as dez pessoas que viveram mais do que 115 anos. Era um homem pequenino, com menos de 1,60 metros. Morreu nos EUA quando tinha passado 115 anos e oito meses desde o seu nascimento, na Dinamarca. Fez várias coisas ao longo da vida, desde entregar leite a operário fabril. Casou e divorciou-se, sem ter tido filhos. Quando se reformou, em 1950, construiu um barco que usou durante algum tempo.
Com 96 anos, Christian Mortensen foi para um lar na Califórnia, onde morreu. Os relatos sobre o seu estilo de vida incluem tabaco, seja o cachimbo ou os charutos, um vício que manteve desde os 20 anos até tarde. Fora isso, defendia um estilo de vida saudável. “Comam bem e de forma apropriada”, dizia o homem que todos os dias comia papas de aveia ao pequeno-almoço. Quando lhe perguntaram se encontrava alguma razão para ter vivido tanto tempo, respondeu: “Tenho um coração forte, um corpo forte.” Um dia, quando tinha 113 anos, alguém lhe terá perguntado se ainda apreciava a vida. Respondeu: “Bem, apreciar e viver são duas coisas diferentes. Tenho 113 anos. Que prazer pode existir para um homem assim tão velho? Como todos os dias. Ouço a rádio.” Ao longo dos anos que passou no lar, Christian Mortensen terá sofrido várias doenças. Porém, os registos médicos nunca foram oficialmente divulgados.
Maria de Jesus (1893-2009)
Maria de Jesus ficou conhecida quando o Livro Guinness dos Recordes concluiu que ela era a pessoa mais idosa do planeta, em Novembro de 2008. Morreu a 2 de Janeiro de 2009 com 115 anos. Nessa altura, a “supercentenária” vivia com a filha Maria Madalena, já com 84 anos, na aldeia de Corujo, em Tomar. Pouco tempo antes de Maria de Jesus morrer, em declarações ao PÚBLICO, Maria Madalena atribuía a longevidade da mãe aos hábitos frugais e ao facto de ela “nunca ter bebido álcool nem café”.
Nasceu a 10 de Setembro de 1893, na aldeia de Urqueira (Ourém), e viveu em três séculos diferentes. Trabalhou toda a vida na agricultura. Casou com José dos Santos, de quem ficou viúva aos 57 anos, e teve seis filhos. Quando morreu tinha 11 netos, 16 bisnetos e três trinetos.