Violência no namoro começa cada vez mais cedo: eles tinham 13 anos
Medo da discriminação entre os amigos leva muitos adolescentes a não denunciar. Um relato de um caso real feito pela APAV
Viviam numa “união de facto em horário de expediente”. Eram namorados, colegas de turma e a maior parte dos dias tinham aulas apenas de manhã. As tardes, passavam-nas em casa dele. Sozinhos. Tinham relações sexuais, quando queriam os dois e quando queria só ele. Ela, com 13 anos, não conseguia dizer não. Fazia a limpeza da casa, da roupa, adiantava o jantar. Era espancada. Os pais dele consideravam-na uma “namorada fantástica”. Não imaginavam a violência entre aquelas quatro paredes. À noite, quando chegava a casa, a rapariga fechava-se no quarto. E como era adolescente, os pais não estranhavam. Tinha relações sexuais virtuais com o namorado. Ela despia-se, tocava-se. Ele filmava, sem ela saber.
Um dia, a agressão subiu de tom. Deixou marcas. Mas quando a rapariga disse basta, o rapaz chantegeou-a com os vídeos. Na manhã seguinte, as imagens circulavam pela escola. Ao chegar a casa, o pai deu-lhe uma “sova imensa”. Tinha encontrado a filha em sites de pornografia. Sem saída, abriu o jogo com os pais. Fez queixa. Mudou de escola e de residência. Ele, aluno exemplar e com bom meio familiar, foi perdoado — ainda que a violência no namoro seja crime público.
Daniel Cotrim, da APAV, costuma contar a história em palestras em escolas. Da plateia raramente lhe chegam reacções de surpresa. “Não acham anormal”, conta como quem faz um diagnóstico. “No final, alguns vêm dizer-me que aquela é também a história deles.” Sem tabus. Convencê-los a denunciar, tal como acontece no meio universitário, é mais difícil. “Acham que vai passar, têm medo de serem discriminados pelos pares.” Para os pais, diz o psicólogo, o alerta vem a letras garrafais: ter uma relação próxima com os filhos e uma comunicação aberta é fundamental.