Para já o MAAT custou 20 milhões de euros

É um edifício tão rico em experiências que quase precisa de "manual de instruções", diz o presidente da EDP. Ainda não se sabe quanto vai custar exactamente, mas os bilhetes custarão nove euros a partir de Março.

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O Museu tem um terraço com vista para o Tejo, um novo espaço público da cidade visitável 24 horas por dia Miguel Manso/PÚBLICO

A primeira coisa que pensamos quando chegamos à cobertura do novo museu da EDP – o Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT) – é que se trata de uma fantástica pista de skate. Com as suas formas curvas, pequenos degraus perfeitos para saltos, um desnível de 14 metros até encontrar o chão e um plano de 120 metros à frente do Tejo – o comprimento do novo edifício desenhado pela arquitecta britânica Amanda Levete e que nesta segunda-feira foi apresentado à imprensa. Mas se, na semana passada, ainda dava para ter dúvidas, agora já está lá escrito que o skate não é bem-vindo, além de outros avisos em relação à segurança da circulação.

Já junto à grade que cria um miradouro sobre a fachada do MAAT virada ao rio e a sul, António Mexia, presidente executivo da EDP, e Miguel Coutinho, director da fundação da empresa, explicam que a cobertura é visitável 24 horas por dia, com “algumas restrições” como o skate. Não perguntámos a António Mexia como é que os funcionários do museu estão instruídos para enfrentar a tribo do skate, com alguns tiques de contracultura, mas perguntámos se a própria fluidez do espaço não coloca problemas em termos de segurança, e se essas 24 horas em contínuo irão resistir ao uso do espaço público pela cidade?

“Tudo vai depender das pessoas. Da forma como vão interagir com o espaço.” Mas, em Lisboa, sublinha Mexia ao PÚBLICO, “não há nenhum edifício assim fluido que possa ser usado de tantas maneiras”. E promete, em tom de brincadeira, que o edifício vai ter “um manual de instruções” para o público quando abrir definitivamente em Março, explicando todas as coisas que o visitante pode explorar e descobrir no MAAT.

Na conferência de imprensa que se seguiu à visita, António Mexia lembrou que o MAAT passa a ser um espaço urbano com 3,8 hectares, se se juntar o novo museu à Central Tejo, onde já recebem cerca de 250 mil visitantes por ano. “É um investimento privado num espaço público de 20 milhões de euros, o que corresponde a 0,6% do investimento da EDP no período de três anos em que foi construído.”

Ao orçamento inicial de 19 milhões foi acrescentado um milhão, esclarece Miguel Coutinho ao PÚBLICO, mas “esse não é o número final”. “Vamos revelá-lo, mas ainda não é o momento de o fazer, porque não temos o número fechado”, afirma o director da Fundação EDP, acrescentando que as regras da empresa obrigam a tornar essas contas públicas. Já se sabe que, a partir de Março, os bilhetes custarão nove euros, mais quatro euros do que até agora. Quarta-feira, o novo MAAT abre apenas ao público por um dia, numa programação intensa de 12 horas que começa ao meio-dia (até Março está apenas aberto o átrio com acesso à Galeria Oval).

Resolver um enorme problema

A visita guiada com a arquitecta Amanda Levete começou logo cedo com uma viagem de barco para ver o edifício do meio do rio. Já em terra, a arquitecta começa por contar como ficaram “deslumbrados” quando visitaram Lisboa pela primeira vez em 2010 e como a situação do MAAT, enfaixado entre o Tejo e a linha de comboio, lhes trazia “um enorme problema para resolver”. “A verdadeira chave que guiou o pensamento conceptual foi a reconciliação com o espaço urbano e o enraizamento do sítio em Lisboa.” Daí, explica, surgiu a cobertura como um novo “fórum público, em que também podemos voltar as costas ao rio e ver as colinas de Lisboa”, e a ponte que começará a ser construída daqui a pouco, prometeu Mexia, e que vai desembocar no Largo do Marquês de Angeja, já bem do outro lado da linha.

Descemos para visitar o espaço principal, a Galeria Oval, que está enterrada, “uma forma inesperada e contra-intuitiva de começar, porque o edifício é invulgarmente baixo”, explica a arquitecta, uma vez que tiveram de respeitar a cota dos 14 metros de altura que se aplica nesta zona da cidade.

O museu afirma-se como um local que propõe “uma relação menos didáctica entre a arte e o público”, diz Amanda Levete. Junta três disciplinas que não costumam estar juntas e está orientado, com os seus espaços fluidos, para propostas mais experimentais, performativas e site-specific. Enquanto descemos a rampa, a arquitecta afaga o corrimão de lioz, a pedra local, para chamar a atenção para o facto de o polimento que recebeu o aproximar do mármore. Tal como as 15 mil placas de cerâmica que cobrem o MAAT, o lioz é também uma das relações que o atelier de Londres estabeleceu com o contexto lisboeta.

Notícia actualizada a 10 de Outubro: esclarece que o átrio do MAAT permanece aberto até Março

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