Catarina e Mariana, a quanto obrigam
A troco da manutenção de um poder efémero e penalizador do futuro do nosso país, o PS entregou de bandeja e de forma subserviente o Governo da nação ao Bloco de Esquerda.
Vivemos hoje numa sociedade de aparências, onde todos querem ser ou parecer aquilo que não são. Costa quer parecer de extrema-esquerda quando é socialista. Catarina quer parecer Primeira-ministra quando é coordenadora de um pequeno partido de extrema-esquerda. Mariana quer ser Ministra das Finanças quando é simplesmente deputada. Centeno quer parecer Ministro, mas não consegue.
Imagine o leitor como seriam os diálogos entre estes personagens. Já estou a ver uma reunião de despacho da Ministra Mariana com o seu secretário de estado Centeno:
Mariana: - Mário, pedia-te que elaborasses uma proposta legislativa no sentido de tributar sem excepção tudo o que se assemelhe a rico, capitalista, empreendedor, empresário ou betinho da linha.
Centeno: - Mas Sra. Ministra, em Harvard aprendi que isso pode afastar ainda mais investidores nacionais e estrangeiros da nossa economia…
Mariana: - Mário, Mário… quantas vezes tenho de repetir que se queres continuar a governar tens de perder a vergonha e abrir os teus horizontes às forças progressistas e anticapitalistas?
É com mágoa que o digo, mas neste jogo do empurra e faz-de-conta, o Partido Socialista, a troco da manutenção de um poder efémero e penalizador do futuro do nosso país, entregou de bandeja e de forma subserviente o Governo da nação ao Bloco de Esquerda. Sim, de facto hoje somos governados por um governo de extrema-esquerda, e os sinais estão todos lá. Vivemos naquilo a que eu chamo de um “PREC com Maldade”.
Sim, com maldade pois assistimos a uma perseguição, sem quartel, sem critério, sem sequer um pingo de vergonha, aos que ajudaram a construir a nossa economia, aos que empreenderam, aos que assumiram riscos e conquistaram por mérito o seu lugar. Ao contrário do que Mariana nos tenta dizer, no seu estilo agressivo e sobranceiro, com as suas propostas estamos a atacar a nossa classe média e a hipotecar o nosso futuro.
Com maldade porque há 40 anos vínhamos de uma ditadura, de uma guerra e de uma descolonização, onde a fractura ideológica era genuína e não artificial e preconceituosa como hoje.
Com maldade, porque nos mentem todos os dias, dizendo que estamos no bom caminho.
Com maldade porque fazem tudo isto com um sorriso nos lábios.
Com maldade porque esquecem os nossos filhos, os nossos netos o nosso futuro.
Com maldade porque não encontro outro argumento racional para em pleno século XXI se adopte uma dialéctica do século XIX, divisionista e maniqueísta, que só divide a sociedade portuguesa que há 40 anos se reconciliou e encontrou um modelo de democracia moderna e livre.
Mas a pergunta que tenho feito ao longo dos últimos meses, e que verdadeiramente me intriga, é outra: porque não ouvimos uma contestação clara e inequívoca a estas opções? O que justifica este silêncio ensurdecedor? A resposta é tão cruel quanto o PREC em curso: as nossas elites falharam. Da política às empresas, passando pela banca, os media ou pela academia. Todos tem a sua quota parte de responsabilidades. Remetem-se ao silêncio porque falharam no plano ético, no plano moral e no plano social. Os seus telhados de vidro são hoje tão finos e transparentes que das gerações de ouro de gestores, políticos, banqueiros do fim do século passado, são poucos os que hoje sobram à frente de grandes empresas, bancos ou partidos.
Para calar o silêncio, precisamos de novas elites, novos protagonistas. Gente com capital social suficiente para, sem preconceitos, dogmas ou quaisquer esqueletos no armário, poder recentrar o debate na pessoa humana, na construção de uma sociedade mais justa e mais próspera. Hoje falamos de pessoas mais educadas, mais conscientes do mundo em seu redor, mais autónomas, mais sonhadoras, mais ambiciosas, mais empreendedoras, mais envolvidas no projecto de felicidade colectivo. Eu quero viver num país que não aponta o dedo a quem poupou numa vida de trabalho, a quem se destacou pelo seu mérito e é premiado. Eu quero viver onde o valor da liberdade de escolha se sobreponha a penalização social, onde as mulheres tenham, de facto, tantos direitos como os homens, onde as minorias se façam ouvir e onde possamos garantir aos nossos filhos um futuro. Neste País não seremos todos mais pobres, neste país podemos ser todos mais ricos.
Gestor, vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais