Os pequenos grandes homens

Podia ser um filme-catástrofe, mas Horizonte Profundo está mais interessado nas pessoas do que nas consequências. Uma pequena surpresa.

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Uma radiografia metódica do decurso da explosão da plataforma petrolífera ao largo da Luisiana
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Uma radiografia metódica do decurso da explosão da plataforma petrolífera ao largo da Luisiana
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Uma radiografia metódica do decurso da explosão da plataforma petrolífera ao largo da Luisiana

Não temos absolutamente certeza que Peter Berg tivesse pensado nos grandes cineastas da Hollywood clássica a fazer Horizonte Profundo. Mas a verdade é que o fascínio do realizador por uma certa ideia da sociedade americana como comunidades que se unem à volta de um objectivo – o desporto de competição em Luzes de Sábado à Noite, a espionagem em O Reino, as forças especiais em O Sobrevivente, aqui a equipa de uma plataforma petrolífera, a polícia de Boston no próximo Patriots Day – transforma-o num parente próximo desses cineastas masculinos como Howard Hawks (sem o seu humor), John Milius (sem o militarismo convicto) ou Michael Mann (sem o virtuosismo visual). Não por acaso, Mann produziu O Reino.

Horizonte Profundo é, também por isso, um filme interessantíssimo: uma radiografia metódica do decurso da explosão da plataforma petrolífera ao largo da Luisiana que se tornou no pior desastre petrolífero de sempre nos EUA. Dando o tratamento do filme-catástrofe hollywoodiano a uma história real de sobrevivência vivida pela “arraia miúda”, pelo americano médio que dá o corpo ao manifesto, Berg dirige um filme que se relaciona com os nossos dias no modo como define heróis e vilões: de um lado, “pequenos grandes homens” decentes que fazem trabalhos sujos para sustentar a família mas que não contam para as contas dos executivos, do outro vilões que colocam as vidas dos outros em perigo ao tomarem decisões puramente monetárias e abstraídas da realidade. Maniqueísta? Certamente que sim. Mas é um maniqueísmo assumido, até essencial para a lógica narrativa da Hollywood clássica em que o filme se instala sem pensar duas vezes.

E essa lógica não fica por aí: está visível nos actores, exemplo dos recursos que o cinema americano mantém muitas vezes no “banco” (é ver como Kurt Russell praticamente toma controlo do filme assim que entra); na ideia de um profissionalismo obstinado e modesto que sempre fez parte do sonho americano; na capacidade de usar a fórmula e o género como bases de trabalho para propor algo sério sem ser sisudo ou patudo. Sim, Horizonte Profundo é um filme-catástrofe, mas é um filme-catástrofe que não se compraz na simples demonstração de efeitos visuais destrutivos, preferindo ater-se à dimensão humana, dramática, dos acontecimentos com uma sobriedade e uma solidez bem-vindas. Não há super-heróis em Horizonte Profundo. Curiosamente, o único filme de super-heróis que Berg realizou era sobre um super-herói que não o queria ser (Hancock, com Will Smith)...

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