Críticos do PSOE demitem-se para forçar destituição de Pedro Sánchez

Estado de guerra entre os socialistas espanhóis atinge o auge no sábado, com reunião do comité federal.

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Pedro Sánchez AFP/PIERRE-PHILIPPE MARCOU

O Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) está, irreversivelmente, em “estado de guerra". Os críticos do secretário-geral, Pedro Sánchez, lançaram nesta quarta-feira à tarde uma ofensiva para o afastar da liderança. Dezassete membros da Comissão Executiva Federal apresentam a sua demissão. Segundo os estatutos, a demissão da maioria da Executiva suspende o mandato do secretário-geral e deveria levar à nomeação de uma comissão de gestão. Sánchez nega essa interpretação e responde que não se demitirá, mesmo que a sua política seja desautorizada.

O momento crucial do confronto será a reunião, no sábado, do Comité Federal, de 290 membros, o órgão máximo do partido a seguir ao congresso. Adeptos de Sánchez lançaram nas redes sociais um apelo a uma manifestação em Madrid, em frente à sede, durante a reunião.

Os críticos, tendo à sua frente os “barões regionais”, reagem à iniciativa de Sánchez que, na segunda-feira, anunciou a convocação de eleições primárias para a liderança, a 23 de Outubro, e um congresso nos primeiros dias de Dezembro. Os críticos acusam-no de querer ocultar as derrotas eleitorais na Galiza e no País Basco e de pretender anular a oposição interna à sua política de alianças e ao voto do socialista na investidura de um governo do Partido Popular. E, sobretudo, opõem-se frontalmente a “terceiras eleições”. Com o calendário proposto por Sánchez, os críticos argumentam que não teriam condições para organizar uma candidatura alternativa e que um congresso na data proposta apenas exibiria a dilaceração interna do partido a duas semanas das “terceiras eleições”.

A Executiva é composta por 38 membros. Um faleceu, dois demitiram-se há meses. Com os 17 novos demissionários ficou reduzida a 18 membros, ou seja, uma minoria. Os críticos continuam a procurar recolher mais adesões.

Entre os demissionários, cuja lista é encabeçada pela presidente do partido, Micaela Navarro, estão os principais líderes regionais. Susana Díaz, presidente da Andaluzia, não faz parte da Executiva mas é considerada como a grande dinamizadora da oposição interna. Os “barões regionais” são apoiados por figuras históricas do partido, como Felipe González, Rodríguez Zapatero ou Alfredo Rubacalba. Argumentam que Sánchez está a conduzir o PSOE ao “suicídio”.

Na terça-feira à noite, González fez numa televisão um violento ataque a Sánchez. Este ter-lhe-ia garantido que o PSOE se absteria na segunda votação da investidura de Mariano Rajoy, mas fez o contrário. “Sinto-me enganado”, disse González. Acrescentou: “Alguém tem de assumir a responsabilidade política por ir de derrota em derrota até à suposta vitória final.”

Estão em confronto duas linhas irreconciliáveis. Os críticos defendem que o PSOE deve abster-se, de modo a viabilizar um governo PP e depois assumir a liderança da oposição, evitando terceiras eleições que se antevêem catastróficas para o partido. Sánchez acena com um governo alternativo, com o Podemos e o Cidadãos. Pretende recorrer directamente aos militantes colocando a questão noutros termos: devemos ou não permitir um novo Governo do PP?

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