Guterres, o candidato da Humanidade

Há uma empatia geral que liga Guterres às pessoas nesta epopeia das eleições para secretário-geral da ONU. O facto de ter vivido de perto as mais diversas realidades sociais tornou-o um conhecedor profundo dos maiores problemas do mundo

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Denis Balibouse / Reuters

António Guterres venceu a quinta votação informal para secretário-geral das Nações Unidas (ONU). Começo por referir que escrevo este texto sem qualquer influência partidária e querendo fazer uma análise exclusivamente “humana” ao tema em questão. Independentemente das políticas que tomou e das medidas que seguiu no passado, tenho sentido que há uma empatia geral que liga Guterres às pessoas nesta epopeia das eleições para secretário-geral da ONU, mesmo as que vivem alheadas da realidade política nacional e internacional. Esta empatia, que tentarei esmiuçar adiante, torna-se o reflexo daquilo que deve ser a política: o aproximar às pessoas, o conhecer a realidade e desconstruir conceitos e medidas.

Se se diz que há um afastamento generalizado das pessoas relativamente a questões políticas, creio que tal se deve, entre outras razões, ao facto de esta estar cada vez mais afastada das pessoas. Não sei se me fiz compreender no meio desta redundância, mas passo a explicar. Se a política não conhece efectivamente as realidades que existem e está alheada do quotidiano das pessoas, então isso provoca um afastamento; mais, se as pessoas não são envolvidas na decisão e na tomada de posição dessas preocupações, então mais afastadas estas irão ficar.

Como se pode querer tomar decisões sem se sair de um gabinete? Sem se lidar com as pessoas de carne e osso em vez de papéis e dossiês? Sem se conhecer realmente as culturas, os hábitos, as normas dos povos? É como um médico receitar um medicamento para um paciente que nunca viu.

E é aqui que entra o português candidato ao órgão máximo que representa a Humanidade…

É isso mesmo, Humanidade. O facto de este ter vivido de perto as mais diversas realidades sociais, indo aos piores cenários de guerra, lidando com a fome, a miséria e a opressão tornou-o um conhecedor profundo dos maiores problemas que assolam o Globo, construindo “pontes” entre povos e dialogando facilmente com qualquer um. De tão depressa estar sentado de fato e gravata numa assembleia plenária das Nações Unidas como, no momento seguinte, estar de t-shirt numa favela do Brasil.

Um sentido de Humanidade que, aliás, está presente em si desde os tempos de faculdade, onde o descrevem como sendo sempre o “primeiro a partir, a arriscar, e o último a descansar, a dar a tarefa por finda”.

É por isto que se justifica a empatia que referia inicialmente que se sente em grande parte das pessoas, bem como esta quinta vitória nas eleições e, esperemos, possa justificar a sua nomeação para um cargo que exige um sentido de causa universal e que abrange todos!

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