A lua Europa tem um oceano interior e está a lançá-lo (aos poucos) para o espaço

Telescópio espacial Hubble detectou a ejecção de materiais da superfície de satélite natural de Júpiter. Análises futuras dessas plumas permitirão estudar o oceano de Europa escondido por camada de gelo.

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A Europa NASA

Pela segunda vez, há indicações de que Europa, uma das luas de Júpiter, expele materiais em forma de plumas que poderão ser vapor de água, anunciou a agência espacial norte-americana NASA numa conferência de imprensa esta segunda-feira (a partir das 19h de Lisboa). A superfície desta lua é formada por uma camada de gelo cheia de estrias. E tudo indica que, por baixo deste gelo, existe um oceano líquido.

“Se houver plumas, podemos investigar o oceano de Europa sem ter de fazer perfurações à superfície”, disse na conferência de imprensa William Sparks, líder da equipa que identificou as plumas, e astrónomo do Instituto Científico do Telescópio Espacial, em Baltimore, nos Estados Unidos.

Juntamente com Encelado, uma das luas de Saturno, Europa apresenta-se como um dos locais do nosso sistema solar que os astrónomos e os astrobiólogos mais anseiam explorar. Qualquer sítio onde haja água líquida no espaço é um especial, já que a água, juntamente com a matéria orgânica e o calor, é um ingrediente fundamental para a existência de vida tal como a conhecemos.

A luz solar nem sequer é obrigatória. Na Terra há formas de vida que não dependem da luz solar, mas da síntese de elementos químicos, presentes nas fontes hidrotermais de grande profundidade, emanações de água quente vinda do interior da Terra e que foram descobertas no oceano Pacífico pela primeira vez nos anos 70. E depois em vários oceanos: ao largo dos Açores encontraram-se várias desde a década de 90.

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As plumas de vapor de água detectadas pelo telescópio Hubble (no sentido dos ponteiros do relógio, na posição das 7 horas) NASA/ESA/W. Sparks/Serviços Geológicos dos EUA

Em Encelado, a sonda Cassini, da NASA, detectou em 2005 plumas no pólo sul desta lua com pedaços de gelo e água. Anos mais tarde, confirmou-se a existência de um oceano total por baixo da camada superficial de gelo. Tanto nesta lua de Saturno como em Europa, pensa-se que a energia necessária para produzir água líquida é originada pelas forças gravíticas entre as luas e os seus planetas. Em Europa, uma das quatro luas detectadas no início do século XVII por Galileu, calcula-se que o seu oceano interior, escondido por uma camada de gelo de várias dezenas de quilómetros de espessura que cobre toda a lua, tenha duas vezes a água dos oceanos da Terra. Mas, no caso de Europa, as suas plumas parecem muito mais difíceis de detectar do que as de Encelado.

Haverá lá vida?

Na nova detecção, a equipa de William Sparks usou o espectrómetro do telescópio espacial Hubble. Este instrumento pode observar na região da radiação ultravioleta do espectro electromagnético. Quando Júpiter está exactamente por trás de Europa, a radiação que o planeta lança passa rente à superfície de Europa e atinge as lentes do Hubble. Se houver moléculas à superfície de Europa que absorvam aquela radiação, então o espectrómetro irá obter a assinatura dessas moléculas na região do ultravioleta.

Durante 15 meses, os astrónomos observaram dez vezes Europa à frente de Júpiter. Em três dessas dez vezes encontraram nos dados do espectrómetro aquilo que poderão ser plumas de material que se eleva até 200 quilómetros em altura e depois cai na superfície de Europa. A maioria das plumas foi identificada perto do pólo sul de Europa, mas uma delas situava-se mais perto do equador da lua.

Esta é a segunda vez que se detectam estas erupções. Em 2012, uma outra equipa liderada por Lorenz Roth, do Instituto de Investigação do Sudoeste em San Antonio, no Texas, detectou plumas junto do pólo sul de Europa. Publicada em 2014, a detecção foi também feita usando o espectrómetro do Hubble, mas com um método diferente.

“Quando calculámos, de uma forma completamente diferente, a quantidade de material necessária para criar aquelas assinaturas de absorção [obtidas pelo espectrómetro], os resultados foram bastante semelhantes aos da equipa de Roth”, diz agora William Sparks, num comunicado da NASA. “As estimativas para a massa são similares, assim como as estimativas para a altitude das plumas. A latitude para dois dos candidatos a plumas corresponde aos resultados daquela equipa.”

Na conferência, os investigadores explicaram que esta informação obtida pelo espectrómetro do Hubble estava no extremo da capacidade daquele instrumento. Ou seja, não é possível para já ter uma definição melhor do que a obtida. Por outro lado, apesar de os resultados serem significativos a nível estatístico, ainda poderá haver uma outra explicação para a existência daquele padrão. É por isso que esta descoberta ainda não é a prova final da existência das plumas.

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Ilustração científica da lua Europa e das plumas de vapor de água (à esquerda, em baixo) NASA/ESA/G. Bacon (STScI)

Mesmo a natureza da substância que estará a ser expelida e a absorver a radiação vinda de Júpiter é uma incógnita. A informação do espectrómetro não diz exactamente que moléculas absorveram radiação e a hipótese de ser água, vapor de água ou gelo, é porque estes materiais são comuns em Europa.

Para se confirmar que as plumas são de facto plumas, serão necessárias mais observações semelhantes mas com uma técnica completamente diferente. Enquanto não houver novos instrumentos, como o futuro telescópio espacial James Webb (da NASA), cabe aos cientistas gizarem experiências inéditas com os instrumentos actualmente existentes. Esta descoberta deverá agora pôr equipas de astrónomos de todo o mundo a trabalhar para esse fim.

De qualquer forma, a serem verdadeiros, estes resultados mostram que aquelas plumas são intermitentes – a lua Europa não está constantemente a lançar material para o espaço.

A NASA está a programar uma missão a Europa para a próxima década. Com mais informação sobre o padrão e a geografia destas plumas, será possível usar essa sonda para analisar directamente o que se liberta misteriosamente do interior daquela lua. E assim tentar responder a uma das perguntas mais importantes da humanidade: haverá vida fora da Terra?

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