Lado negro de Ronaldo rouba alegria de um “leão” a roçar o óptimo

Sporting perdeu (2-1) com os actuais campeões europeus no Santiago Bernabéu, com CR7 a dar início à reviravolta espanhola e a negar uma noite histórica para o futebol português

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O Sporting vendeu cara a derrota em Madrid Curto de la Torre/AFP

O Real Madrid evitou no último suspiro o pior pesadelo no arranque da defesa do ceptro conquistado em Milão, superando ao photo-finish um Sporting que não merecia desfecho tão cruel, num duelo digno de David e Golias que só o golpe de misericórdia de Morata – a rasgar a ferida aberta por Cristiano Ronaldo – roubou o prémio merecido.

Começou, pois, titubeante a defesa do título da Champions, com o Real Madrid a conseguir uma vitória sofrida e imerecida, resultado que esteve longe de ser digno de um verdadeiro campeão.

Cristiano Ronaldo, com um golo de livre e um remate ao poste, fez o que lhe competia, num doloroso dilema ao nível de Jekyll e Hyde.

Mas as verdadeiras estrelas foram os “leões”, sob a batuta de Jorge Jesus, que acabou expulso e inconformado com o destino, a sentir na pele que o bom é, não raras vezes, inimigo do óptimo.

Para este embate, o treinador português recuperou a fórmula que valeu importante vitória sobre o FC Porto, em Alvalade, colmatando com Bas Dost a lacuna deixada pela saída de Slimani para Leicester, apostando num pormenor: o equipamento alternativo, uma forma subtil de camuflar o “leão” e de iludir Cristiano Ronaldo, que assim ficava desobrigado de respeitar a tradição religiosamente cumprida de marcar ao antigo clube.

No guarda-roupa, Jesus encontrou ainda uma peça fundamental, um espartilho que assentou como uma luva aos “merengues”, que iniciaram a defesa do título de saltos altos, dispensando (num tique de alguma arrogância) a virilidade de Pepe.

Zidane deixou o campeão da Europa no banco de suplentes, por troca com o francês Raphaël Varane, e apostou no trio de ataque da final de Milão, com Cristiano Ronaldo, Gareth Bale e Karim Benzema.

Mas o famoso BBC rapidamente percebeu que o preço do metro quadrado estava proibitivo, com o imberbe Gelson Martins a provocar torcicolos e enxaquecas.

O “leão” assumia a sua faceta felina, com Bruno César a rondar o espaço de Bryan Ruiz e a convidar Adrien para zonas que provocaram desconforto aos “galácticos”.

Cristiano Ronaldo ia estudando a melhor forma de cumprir com os pergaminhos de melhor do mundo, tropeçando na primeira tentativa, aproveitada por Adrien para oferecer a Bruno César um momento de aflição na área de Casilla.

Ronaldo respirou fundo antes de experimentar um sprint patenteado, pela esquerda, e uma finta artística sobre Rúben Semedo, que abriu caminho à entrada de Bale.

Mas Cristiano iria precisar de 27 minutos para testar verdadeiramente os reflexos de Rui Patrício, com o primeiro “tiro”, terminando a primeira parte com um livre sobre a lateral, já com Bale em dificuldades.

Este era o dr. Cristiano, o amigo do Sporting, o que é capaz de reconhecer e respeitar quem o ajudou a crescer.

O que o Sporting agradecia para ganhar a dianteira e conseguir o impensável, embora o jogo provasse que era possível atingir o óptimo. O golo de Bruno César funcionou como um soco no estômago do Real, mas, ao mesmo tempo – ainda que lentamente – revelou efeitos secundários, como uma espécie de poção de dr. Jekyll, convocando o monstro Ronaldo... um mr. Hyde disposto a transfigurar-se e a roubar a alegria sportinguista num golo com requintes de malvadez, em cima do minuto 90.

O remate ao poste indiciara o que estava para vir, destruindo todo o trabalho meritório da formação portuguesa, que esteve na iminência de escrever uma página histórica: alcançar a primeira vitória lusa em pleno Santiago Bernabéu.

Uma visão esfumada pela força do lado negro do filho pródigo, uma alegria negada pela cabeça de Morata, a cruzamento de James Rodríguez, para mal dos pecados de Jesus.

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