Morreu a mulher que beijou ao fim da II Guerra

Greta Friedman, a enfermeira que Alfred Eisenstaedt fotografou em Times Square a dar um beijo a um marinheiro no dia em que terminou a guerra dos EUA com o Japão, em 1945, morreu este domingo, aos 92 anos.

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A famosa fotografia tirada por Alfred Eisenstaedt: o beijo de George Mendonsa a Greta Friedman Alfred Eisenstaedt/LIfe

Greta não conhecia George e nem sequer sabia o seu nome. O que fez, naqueles poucos segundos, em Times Square, Nova Iorque, no dia 14 de Agosto de 1945, só lhe regressou à memória vinte anos depois, enquanto folheava um livro de imagens do fotojornalista alemão Alfred Eisenstaedt. Ali estava, o V-J day, o nome pelo qual ficou conhecido nos EUA o derradeiro final da II Guerra Mundial – o dia da rendição japonesa, já após a queda de Berlim e de Hitler.

A enfermeira, que parece arrebatada por um passe de tango argentino, tem o rosto coberto quase completamente pela mão e pela cara do marinheiro que a beija. Homens e mulheres que passam em redor reparam no beijo, ou no fotógrafo que segura a Leica que o regista, e sorriem. A revista Life coloca a imagem na página 27 da sua edição seguinte, vendida por 10 cêntimos. Mas Greta Friedman não viu a revista. Nesse dia, depois do beijo, voltou ao consultório do dentista para quem trabalhava.

Afinal, fora a Times Square apenas ver para crer. Ouvira a notícia do fim da Guerra mas queria ter a certeza. E fez o que se deve fazer nessas circunstâncias: desceu as escadas e comprovou. Havia festa na rua.

George Mendonsa, o marinheiro que a beijou, saíra a meio de um espectáculo no Radio City Music Hall, logo depois de ser dada a notícia. Foi para a rua comemorar. Estava livre da guerra. “Estava felicíssimo, vi uma enfermeira e beijei-a por pura alegria.”

Greta tem uma versão parecida. “De repente, um marinheiro agarrou-me. Não foi bem um beijo, foi uma comemoração: ele já não precisava de voltar à frente do Pacífico, onde tinha combatido. Não foi romântico, foi apenas uma maneira de dizer: ‘Graças a Deus, acabou a guerra’.”

Ambos tinham razões próprias para festejar. Greta tinha chegado aos EUA com 15 anos. Era uma refugiada austríaca, judia, órfã de vítimas dos campos de extermínio nazis. George era um luso-descendente, filho de emigrantes madeirenses radicados em Newport. George até estava acompanhado por uma “linda rapariga”, com quem fora ao espectáculo, e que viria a ser a sua mulher nos mais de 70 anos seguintes.

Mas nesse dia, em Nova Iorque, muitas outras pessoas deram, ou quiseram dar, o mesmo beijo. E a história de Greta e George foi também a história de Edith Slain, Glenn McDuffie e Carl Muscarello. A controvérsia sobre a identidade do par de Times Square durou até 2012, quando uma investigação rigorosa permitiu concluir que Greta era, com o grau de certeza que se pode ter, a enfermeira nos braços do marinheiro.

Os dois reencontraram-se em Times Square, em 2012. George é um pescador reformado. Greta, que tirou um curso de Artes, dedicava-se então ao restauro de livros antigos. Morreu este domingo, na Virginia, aos 92 anos.

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