Ligeira revisão das previsões não foi suficiente para BCE voltar a agir

BCE prevê melhor resultado do PIB este ano, mas revê em baixa previsões de crescimento e inflação nos anos seguintes. Quanto a novas medidas, a resposta de Draghi foi sempre a mesma: “isso não foi discutido”.

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Mario Draghi apresentou novas previsões económicas AFP PHOTO / DANIEL ROLAND

Apesar de ter revisto ligeiramente em baixa as suas previsões para o crescimento e inflação durante o próximo ano, o Banco Central Europeu (BCE) optou esta quinta-feira por não fazer alterações à sua política monetária, sem dar sinais de concretos sobre quais os passos que poderá dar em próximas reuniões.

Depois de ter anunciado em comunicado que as principais taxas de juro do banco se mantinham aos níveis mínimos actuais e que as compras de activos continuariam a ser de 80 mil milhões de euros ao mês pelo menos até Março de 2017, o presidente do BCE, Mario Draghi, revelou em conferência de imprensa uma revisão ligeira das projecções económicas para a zona euro.

Se por um lado, a estimativa de crescimento para este ano melhorou dos 1,6% apresentados em Junho para 1,7%, para os dois anos seguintes o BCE ficou um pouco mais pessimista, prevendo uma desaceleração da variação do PIB para 1,6% tanto em 2017 como em 2018. Nas suas últimas projecções, feitas em Junho, a previsão era de crescimento de 1,7% nesses dois anos.

Outro indicador fundamental para o BCE aferir se a sua política está a surtir os efeitos pretendidos é o da inflação, que a autoridade monetária tem como objectivo colocar num valor próximo de 2%. Mario Draghi revelou que o BCE continua a estimar uma inflação de 0,2% este ano, mas reviu de 1,3% para 1,2% a previsão para 2017, mantendo inalterado valor de 1,6% para 2018.

Perante estes números – que confirmam o ritmo lento a que se prevê que a inflação possa caminhar para valores mais próximos do objectivo declarado do BCE – os jornalistas presentes na conferência de imprensa realizada em Frankfurt questionaram o porquê de o banco central ter decidido não voltar a agir nesta reunião de Setembro. A resposta de Mario Draghi foi invariavelmente a de que “a política do BCE está a ser eficaz”, salientando que a evolução dos indicadores, nomeadamente a inflação, se mantém dentro do cenário base definido. “Por agora, as mudanças não são tão substanciais que justifiquem uma decisão de agir”, disse Mario Draghi.

O presidente do BCE não fechou a porta a futuras medidas, dizendo, como já vem sendo hábito, que o banco “está pronto a agir caso seja necessário”. No entanto, recusou dar pistas em concreto sobre quando e como é que essas novas medidas poderão vir a ser tomadas, algo que foi recebido com alguma desilusão nos mercados. A resposta mais vezes repetida por Draghi foi: “isso não foi discutido”.

Muitos analistas esperavam que o BCE decidisse já nesta reunião reforçar o seu programa de compra de activos e, por isso, nos minutos seguintes ao anúncio da decisão e no decorrer da conferência de imprensa, o valor do euro face ao dólar subiu, um resultado que mostra a existência de dúvidas nos mercados sobre a disponibilidade do BCE aplicar uma política mais agressiva de combate ao risco de deflação.

O máximo que Mario Draghi fez foi indicar que o BCE tem equipas a analisar de que forma é que o banco tem condições, no actual cenário de taxas de juro muito baixas, para encontrar no mercado títulos de dívida pública elegíveis numa quantidade suficiente.

De resto, o presidente do BCE tentou reforçar as duas ideias que mais tem tentado passar nos últimos meses. Primeiro que a política monetária do BCE está a produzir efeitos, evitando que os choques negativos sofridos pela economia da zona euro (como o “Brexit”) se sentissem de forma clara. Entre as provas apresentadas, está, segundo Draghi, a queda das taxas de juro na concessão do crédito às empresas e às famílias.

O presidente do banco central defendeu ainda que a fragmentação no mercado de crédito (que levava a que as taxas fossem muito maiores em Portugal do que na Alemanha, por exemplo) “acabou”. E garantiu que “não se vêem riscos de acumulação de dinheiro” por parte das pessoas em resposta às taxas de juro tão baixas.

A segunda ideia é a de que, para além da política monetária, outras políticas têm de contribuir para a recuperação. Neste capítulo, a Alemanha foi claramente visada por Draghi que disse que uma redução dos excedentes na balança de transacções correntes na zona euro “seria bem-vinda” e defendeu que “os países que têm espaço de manobra orçamental devem usá-lo”, especificando que “a Alemanha tem espaço de manobra orçamental”.

Para completar esta ideia de que os estímulos económicos não devem ser apenas monetários, o presidente do BCE defendeu ainda que “o argumento para que os salários sejam mais altos é inquestionável”, referindo-se aos países que têm obtido ganhos por serem mais competitivos”. 

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