Gonçalo conquistou o bronze na prova onde chegar ao resultado não basta

Quatro anos depois do irmão, o estudante de Coimbra trouxe medalha para Portugal nas Olimpíadas Internacionais da Informática, que decorreram na Rússia.

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Matemática é, juntamente com a Física, a disciplina que mais cativa Gonçalo Paredes de 18 anos SÉRGIO AZENHA

 Durante cerca de dez segundos tudo o que se ouve no ginásio onde estão dispostas por filas as centenas de mesas com os computadores é o rasgar dos envelopes, a retirada dos enunciados e o começo do bater nas teclas.

Depois da ordem para o começo, cerca de 300 participantes de mais de 80 países tentam resolver, de forma mais eficiente, os três problemas que lhe são apresentados nas Olimpíadas Internacionais de Informática.

Este ano, as provas tiveram lugar em Kazan, na Rússia, e no meio dos 300 participantes estava Gonçalo Paredes, o estudante do 12.º ano que trouxe uma medalha de bronze para Portugal.

A participar pela terceira vez, o aluno da Escola Secundária Avelar Brotero, de Coimbra, chegou finalmente ao bronze. Conta que “no ano passado, quase ganhava” uma medalha e que, na primeira vez que foi, quando andava no 10.º ano, “não conhecia bem” os processos e também “não tinha muita experiência”. Aos 18 anos e com um pé na universidade, confessa que o prémio obtido em Kazan foi “gratificante”.

O interesse pela informática foi suscitado pelo irmão mais velho. Pedro Paredes, que agora está envolvido na organização da equipa portuguesa, foi igualmente medalha de bronze nas Olimpíadas Internacionais de 2012. “Fui um bocado atrás dele, depois acabei por gostar e começar a treinar e fui apreendendo”, conta Gonçalo.

Em Maio, o aluno da Brotero participou na prova de selecção para as Olimpíadas Internacionais na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e ficou em primeiro lugar, tendo-se apurado pela terceira vez para a competição que decorreu na Rússia entre 12 e 19 de Agosto. Aproxima-se a licenciatura de Ciência de Computadores na Universidade do Porto, cujo último aluno entrou em 2015 com pouco mais de 13. Com uma média de acesso de 19,6, a entrada no curso não deve ser um problema para o estudante que ocupa os tempos livres de forma “normal”, com jogos de computador e a ver desportos como o futebol americano ou hóquei no gelo.

Mas Gonçalo tem ainda outra competição antes de se concentrar no curso. Tem a Olimpíada Ibero-Americana da Matemática em Antofagasta, no Chile, em Setembro. Pelos mesmos dias, Gonçalo teria outra Olimpíada Ibero-Americana, a da Física, para a qual também foi seleccionado, mas que se realiza no Uruguai. Tendo de optar, escolheu a de Matemática, uma área que o chama mais e para a qual se sente “mais preparado”.

Matemática é, juntamente com a Física, a disciplina que mais o cativa. Apesar da média elevada, diz que não estuda muito para a escola propriamente dita, mas que dedica mais tempo à preparação de provas como as olimpíadas. Com o raciocínio treinado, torna-se mais fácil obter um bom desempenho nestas áreas. Prefere a resolução de problemas ao “estudar, decorar e despejar” da teoria.     

Ambiente diferente

Quanto ao caminho a seguir depois do ensino superior, ainda não sabe qual será, mas prevê que seja algo entre a investigação e o trabalho numa empresa tecnológica.

Ao longo dos seis dias, dois foram de competição. Em cada um os concorrentes tiveram de resolver três problemas no espaço de cinco horas, com pontuações de 0 a 100.

Em Portugal, a preparação não é tão específica como nos países onde estas competições são levadas mais a sério, explica Gonçalo. O medalhado conta que, em países como os Estados Unidos, há estágios de duas semanas com equipas de 15 alunos que estão lá apenas para se preparar para a competição. Em Portugal, diz, há um estágio online.

O mais comum é “tentar resolver problemas de outros países, de anos anteriores e também estudar alguns tópicos relacionados com informática”, explica, áreas “como estruturas de dados e algoritmos”. No entanto, o estudante refere que a maior parte dos problemas não testa os conhecimentos, mas o raciocínio. “Já houve problemas em que nem sequer era preciso saber programar.”

A forma de resolução dos problemas está muito associada ao pensamento matemático, mas há uma particularidade. “Normalmente os problemas de matemática incidem sobre provar coisas ou chegar a resultados”, aqui “o objectivo não é só chegar ao resultado, mas chegar de forma eficiente”.

Chegados ao espaço das olimpíadas, o ambiente não tem nada que ver com o sentido nas provas nacionais, onde o número de participantes é bem mais reduzido. “É diferente, porque conseguimos sentir toda a gente a pensar, a tentar resolver”, descreve Gonçalo. Em Portugal “é muito diferente”, pois o “ambiente é muito mais fechado e pequeno”. Há até alunos que “se safam bem” noutros espaços, “mas depois lá sentem-se um bocado absorvidos pela pressão”.

Quando foi dada a notícia da medalha de bronze ganha por Gonçalo, muitas vezes foi escrito que “Portugal ficou em terceiro”. Não é bem assim. O jovem explica que o sistema de atribuição de medalhas não é como aquele a que o público está habituado, por exemplo, nas provas de desporto. Nesta competição, um quarto dos participantes recebe a medalha de bronze, um sexto recebe a medalha de prata e um doze-avos a de ouro — ou seja, o aluno que se classificar na primeira metade da tabela recebe prémio. Em Kazan houve 26 medalhas de ouro.

O estudante de Coimbra lamenta que a associação que organiza as provas tenha poucos recursos. A Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade da Informação, que promove a competição com a Universidade do Porto, financia e “tenta arranjar patrocínios”, mas, como não há grande visibilidade, os apoios são poucos. Apesar disso, o país tem conseguido boas prestações na competição que acontece anualmente. Para Portugal, que participa desde 1992, já vieram cinco medalhas de bronze, e as últimas duas foram conquistadas em 2012. 

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