Um som à altura
Da morte de Rudy Van Gelder, o grande engenheiro de som do jazz, fica a consolação dele ter sido devidamente reconhecido enquanto estava vivo.
Da morte de Rudy Van Gelder (R.V.G.), o grande engenheiro de som do jazz, fica a consolação de ele ter sido devidamente reconhecido enquanto estava vivo. Richard Brody, na New Yorker, grátis online, diz que ele estava para o jazz moderno como Raoul Coutard para o cinema. Brody é um crítico de cinema perspicaz: os comentários dele na edição digital da New Yorker sobre excertos de filmes clássicos são sempre interessantes.
No entanto, um engenheiro de som não está para a música como um director de fotografia para o cinema. O bom engenheiro de som é muito mais passivo. Os músicos de jazz gostavam do som que R.V.G. obtinha porque achavam que era parecido com o som que conseguiam quando tocavam ao vivo, para eles próprios. Brody recomenda uma elucidativa entrevista que R.V.G. deu a Steven Cerra em 1995 e que está no excelente blogue jazzprofiles.com.
O que ele diz sobre os defeitos do vinil e as oportunidades da gravação digital continua a ser subversivo, arrogante e verdadeiro. Não era dantes que era bom nem é bom agora nem é amanhã que será. Quase tudo depende da sabedoria e do talento de quem colabora numa gravação.
No Spotify há uma bela playlist de majorlance com 4857 gravações feitas por R.V.G. (506 horas e 12 minutos). Para quem quer ouvir o som à altura do trabalho dele, mais vale usar a versão lossless da Tidal e ouvi-lo álbum a álbum. Depressa se esquece R.V.G. e se passa a ouvir — apenas, impressionantemente — os músicos e a música, mesmo ali, onde estamos.