Esposende vai criar ribeiro artificial para evitar cheias

Obra deverá estar concluída em Outubro do próximo ano e vai envolver um investimento de 4,7 milhões de euros.

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A sul da cidade o canal de drenagem vai desaguar no estuário do Rio Cávado. Hugo Delgado/Arquivo

A paisagem da zona urbana de Esposende vai ganhar um novo ribeiro, cuja construção, prevista para o próximo ano, visa controlar o problema das cheias que todos os anos afectam o concelho. O canal, que formará um anel em torno da cidade, vai receber as águas que o solo não consegue absorver, criando um “rio artificial” que ligará o Rio Cávado ao Oceano Atlântico e uma nova zona de lazer. 

Situada numa planície de aluvião na foz do Cávado, Esposende tem "um problema de cheias, que não tem a ver com a subida do rio no Inverno. O grande problema, explica o presidente da Câmara, Benjamim Pereira, é a água que vem das linhas de nascente que atravessam a cidade e que foram ficando condicionadas ao longo do tempo pelas dimensões das condutas nos arruamentos e pelo aumento das áreas impermeabilizadas com a construção das zonas industriais e da própria auto-estrada [A28]”. 

Com o aumento dos caudais, a autarquia verificou que as condutas de água pluviais que servem a cidade são, neste momento, “insuficientes”. O presidente da câmara relembra a noite de 21 para 22 de Outubro de 2013, em que a chuva intensa inundou o serviço de urgência do Hospital Valentim Ribeiro e danificou dezenas de habitações, estabelecimentos comerciais e fábricas na cidade.

“Os níveis freáticos muitas vezes já estão saturados e, quando vêm esses dias de muita pluviosidade, a água não tem para onde ir” e inunda a cidade, explicou o autarca. Era urgente desviar a água que se acumula em terrenos que são muito planos e onde a permeabilidade dos solos é mínima e, este ano, com a classificação de Esposende como zona crítica, no âmbito do Plano de Gestão de Riscos de Inundação, da Agência Portuguesa do Ambiente, a intervenção entrou nas prioridadades nacionais e vai ser contemplada com fundos comunitários.

Obra de engenharia “verde”

O presidente da Câmara de Esposende explicou que o município “tem regras muito apertadas para a construção de um canal”, por se encontrar integrado no Parque Natural Litoral Norte. Por isso, a solução encontrada foi “integrar a obra nos espaços naturais da cidade” O novo canal vai ser construído em vala a ceu aberto, excepto no cruzamento com outras vias, com taludes de rocha, madeiras, e vegetação. Será um projecto “totalmente com engenharia natural”, sem recorrer a betão armado, assinalou Benjamim Pereira. 

Com a drenagem natural dos terrenos formar-se-á um “rio artificial” que vai permitir o escoamento das águas. A vala vai ser construída como um anel à volta da zona urbana da cidade numa extensão de cerca de quatro quilómetros, que vai ligar o Oceano Atlântico ao Rio Cávado. A Norte, este novo "ribeiro" vai cruzar com a Estrada Nacional 13 (EN13), antes das avenidas Padre Sá Pereira e da dos Banhos, na freguesia de Marinhas, junto à praia de Cepães, estendendo-se até à entrada Sul da cidade, na rotunda da fábrica Solidal, onde vai desaguar no estuário do rio.

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A fauna e flora da região serão também integradas no projecto. Nas margens do rio, vai ser plantada vegetação ripícola, própria de margens de rios e serão introduzidas espécies como a lontra, o morcego e o guarda-rios. “As pessoas vão ver uma área envolvente à cidade totalmente natural. Isto vai mudar completamente a imagem urbana de Esposende”, notou. De cada um dos lados do canal, será traçado um caminho em terra batida para permitir que os agricultores possam continuar a aceder aos campos e para que a população possa usufruir daquele espaço para andar a pé ou de bicicleta. 

Paralelamente ao canal está também prevista a construção de uma nova estrada, com a mesma extensão, que vai unir a EN13 à rotunda da Solidal, adiantou o social-democrata. A via, um projecto previsto no Plano Director Municipal desde 1994, não será construída para já. No entanto, Benjamim Pereira esclarece que o projecto de execução dessa ligação teve de ser feito para "saber exactamente onde se ia situar o canal porque segue precisamente no limite do talude dessa via".

A empreitada referente ao canal está orçada em 4,7 milhões de euros e será custeada por fundos comunitários do Portugal 2020, resultado da candidatura da autarquia de Esposende ao Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (POSEUR) para o concurso destinado a intervenções estruturais de desobstrução, regularização fluvial e controlo de cheias. Na sexta-feira, o Ministério do Ambiente divulgou que, para além da de Esposende, foram feitas mais dez candidaturas no valor de 46,3 milhões de euros para reduzir o risco de cheias em 13 municípios. 

A obra de Esposende deverá arrancar em Maio do próximo ano e estar concluída em Outubro. Nesta fase, a autarquia informou que “já foram assinados acordos com alguns proprietários” e que o município continua a contactar os cerca de 150 donos das 300 parcelas de terreno onde está prevista a construção do canal. O autarca diz acreditar "que 95% dos envolvidos não porão entraves ao projecto". "Apelo a todos os proprietários para que colaborem e não permitam que se perca esta inacreditável oportunidade que conquistamos para resolver um dos mais difíceis problemas da zona urbana de Esposende, mas também de Marinhas e Gandra. Seria demasiado mau e penalizador para quem tanto luta pelo concelho ver ir para outros municípios uma tão significativa verba”, insiste Benjamim Pereira. Texto editado por Abel Coentrão

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