Passos defende que défice de 2016 pode superar o de 2015
Presidente do PSD e ex-primeiro-ministro, pediu "rigor" orçamental ao Governo socialista chefiado por António Costa.
O presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, avisou, no sábado à noite, que face à execução orçamental conhecida o défice, no final do ano, poderá até ser superior ao verificado em 2015.
“Tudo aponta para que o que temos à nossa frente seja, portanto, um caminho que já não é de voltar ao défice do ano anterior, é de poder até ficar além desse défice”, afirmou o ex-primeiro-ministro.
Discursando em Paços de Ferreira para cerca de 600 militantes que participavam num jantar de homenagem aos autarcas locais, Passos Coelho recordou que em Junho de 2016 a diminuição do défice, face ao mesmo mês de 2015, era de 900 milhões. Um mês depois, acrescentou, esse valor diminuía para cerca de 500 milhões.
E prosseguiu: “Quando soubermos os números de Agosto, vamos ver a que velocidade é que este Governo está a convergir para o défice do ano passado e vamos ver se não o ultrapassa, porque, o que temos daqui para a frente, por decisão do Governo, é um crescimento mais lento, que vai gerar menos receitas fiscais, e vamos ter mais despesa, que o Governo também já decidiu”.
Para o presidente do PSD, “uma vez que as coisas não estão a correr como planeado”, exige-se ao Governo do PS chefiado por António Costa e apoiado pelo BE, PCP e PEV que “faça o próximo Orçamento com um bocadinho mais de rigor” e que “possa apresentar aos portugueses, sem sofismas, sem habilidades, sem fazer de conta, sem joguinhos, aquilo que é realista e aquilo que se pode cumprir”.
Muito aplaudido, o líder da oposição avisou depois a maioria de esquerda que suporta o Governo: “Não vale a pena andarem com conversa fiada, não vale a pena pensarem que tiram o cavalinho da chuva. São os partidos que suportam este Governo que têm a responsabilidade de apresentar e de aprovar um Orçamento que vá ao encontro das necessidades dos portugueses e que resolva as responsabilidades do Estado português”.
Antes, Passos Coelho já tinha recordado que os dados sobre a execução orçamental até Julho apontam para uma diminuição de quase 230 milhões de euros, face a 2015, na despesa com investimento público.
“Onde estão todos aqueles que diziam que nós gastávamos pouco em investimento público, onde estão essas vozes no PS, no BE e no PCP, que se incomodavam, que achavam que era uma vergonha o Estado gastar tão pouco no investimento público”, questionou depois, num tom de voz mais elevado.
Passos recordou até que o seu Governo, “que passou por tantas dificuldades”, investira mais do que “um Governo que hoje se diz de esquerda em Portugal”.
E defendeu: “Hoje temos um Governo que diz uma coisa e faz outra, diz que acabou a austeridade, que o investimento público é relevantíssimo, mas faz como muita da despesa pública, empurra com a barriga, disfarça e vai adiando, para poder dizer que está tudo bem.”
Responsabilizando o executivo do PS pela diminuição no investimento, do crescimento económico e das exportações, segundo Passos, por se ter revertido muitas reformas, o líder do PSD perguntou se “alguém acredita que um Governo orientado por um pensamento comunista, bloquista ou socialista cria confiança nos investidores, atrai o investimento e promove a riqueza”.
Reagindo às afirmações do líder do PSD, o porta-voz do PS, João Galamba, afirmou este domingo: "[As críticas] Não têm qualquer fundamento. Pedro Passos Coelho, depois das suas alucinações com o diabo, parece ter perdido um pouco o contacto com a realidade e agora decidiu criticar números de execução orçamental que são objetivamente positivos."
O deputado do PS considerou que as afirmações do líder do PSD parecem indiciar que ele "não conhece nem leu o Orçamento que ele próprio está agora a criticar". E frisou que Passos Coelho "parece ter esquecido que em contabilidade pública, que é aquilo o que foi falado ontem [sábado], o défice está a baixar cerca de 450 milhões de euros face ao ano passado". O deputado socialistasacrescentou ainda: "Só que o objetivo anual, em contabilidade pública, é que aumente 900 milhões de euros, e o que ele parece estar a falar como se fosse expectável é que a contabilidade pública, que é diferente da nacional, baixe. Não! É suposto que ela aumente. E o facto de estar a baixar mais de 400 milhões mostra que a execução orçamental está no bom caminho". E concluiu: "É um exercício difícil, como sempre dissemos, mas não há qualquer fundamento para as declarações de Passos Coelho ontem [sábado]."
Notícia actualizada às 13h57: acrescenta reaccção do porta-voz do PS, João Galamba