Cem mil árvores para nos plantar uma ideia na cabeça

Com 81 mil árvores plantadas em cinco anos, projecto vai continuar a tentar mudar a floresta e as mentalidades da Área Metropolitana do Porto

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Iniciativa do projecto em Santo Tirso, realizada em Junho de 2013 Nelson Garrido
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Iniciativa do projecto em Santo Tirso, realizada em Junho de 2013 Nelson Garrido
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Iniciativa do projecto em Santo Tirso, realizada em Junho de 2013 Nelson Garrido

Se mora na Área Metropolitana do Porto é possível que nalgum passeio por uma zona verde das redondezas se tenha deparado com um pilarete em madeira com a seguinte inscrição: “Estamos a criar uma floresta nativa com a ajuda de muitos cidadãos voluntários. Preserve-a”. O alerta resume o que têm sido os últimos cinco anos da bióloga Marta Pinto e da pequena equipa que mobilizou centenas de pessoas e organismos vários em torno de Futuro: o Projecto das 100 Mil Árvores, que tem andado a plantar uma ideia na cabeça de milhares de cidadãos.

É assim todos os Verões, na época dos fogos. Nas últimas semanas, muito se tem falado da importância das espécies nativas para o ordenamento florestal português e para a resistência da floresta contra os incêndios. Mas, há cinco anos, as instituições reunidas na rede informal do Centro Regional de Excelência - Educação para o Desenvolvimento Sustentável (CRE-Porto), fundado pela Católica, a Direcção Regional de Educação e a Área Metropolitana decidiram que era preciso acordar a população para a importância de árvores cujos nomes deixamos de conhecer ou nunca nos foram sequer ensinados.

Assim, os pilriteiros - um arbusto das rosáceas - as pereiras-bravas que vemos em alguns bosques primordiais do Gerês, os azereiros, que também por lá encontramos e que quase desapareceram da paisagem portuguesa, ganharam o seu espaço num projecto que inclui o carvalho-alvarinho (o mais plantado), o carvalho-negral, o medronheiro, ulmeiros, castanheiros, freixos, azevinhos, pinheiros-mansos, cerejeiras, loureiros, sabugueiros, tramazeiras, teixos, aveleiras, gilbardeiras, num total de 41 espécies.

Enquanto o país se atém a combater os fogos - e Marta Pinto, ainda não sabia, há dias, os efeitos destes numa área de intervenção do projecto em Arouca - o grupo coordenador aproveita o Verão para planear as próximas acções de plantio e monitorização e para avaliar o trabalho feito até aqui. E o último relatório sobre o projecto é bem claro quanto à dimensão que ele atingiu. Em cinco anos, houve mais de 11.300 inscrições online nas acções de voluntariado (sendo que mais gente participou, inscrevendo-se na hora), que implicaram a oferta, por parte destes cidadãos, de 36 700 horas de trabalho gratuito. “Gente muito diversa”, de profissões que nada têm a ver com a área, nota Marta Pinto, assinalando que a estes se juntaram os técnicos das autarquias, e do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, entidades com as quais as iniciativas são articuladas, e que contribuiram - muitas vezes aos sábados - com 110 mil horas de trabalho profissional.

Esta capacidade de articulação entre gente dos municípios, das organizações não governamentais, dos baldios, e os voluntários têm sido um dos segredos para o sucesso da iniciativa. “Muitas vezes vemos surgir apelos voluntaristas, para reflorestar uma determinada área ardida, mas sem consequências práticas por falta de coordenação”, assinala Marta Pinto, que em 2013 foi premiada com o “Terre de Femmes” pela Fundação Yves Rocher por causa deste projecto que se alimenta de milhares de plantas produzidas no horto municipal do Porto.

O projecto não se cinge ao plantio das árvores. Organiza também acções de formação para técnicos e voluntários, tentando melhorar o seu conhecimento das espécies em causa, e a melhor forma de as gerir. E depois, é preciso monitorizar a evolução das áreas de intervenção. “As mudanças são sempre lentas, mas estamos a fazer alguma diferença”, admite Marta Silva. A iniciativa das cem mil árvores pretende de facto chegar a esse número - foram 81.369, em 37 espaços, num total de 190 hectares de 15 concelhos, até agora - mas tem outro objecto confessado: reaproximar populações urbanas e periurbanas do meio florestal envolvente, comprometê-las, através do conhecimento, com a evolução destes ecossistemas que não se cingem sequer ao arvoredo, mas a toda a vida que este proporciona e que pode ser geradora de riquezas que têm sido pouco exploradas.  

Apesar de ter sido pensado para cinco anos, o Futuro - O Projecto das 100 mil árvores vai prosseguir. Não apenas porque ainda há quase 19 mil árvores para chegar ao número mágico, mas porque a “magia”, assume Marta, está precisamente no envolvimento das populações, que não pode parar. Com o passar dos anos, o projecto foi-se alargando para outras dimensões, como as acções de  controlo de invasoras ou a organização de rotas de vista a núcleos florestais da região (onde não há só eucaliptos e pinheiros, apesar destes dominarem a paisagem), mas vai continuar a apostar na reflorestação. “Poderíamos fazer mais, mas somos poucos na coordenação do projecto”, diz Marta Pinto que, cinco anos depois, assume que ela própria, enquanto bióloga, aprendeu imenso sobre a floresta portuguesa.

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