Como escrever e publicar trabalhos científicos

Como sabemos, o mesmo estudo bem espremido pode dar origem a dezenas de artigos diferentes. Aproveita o sumo. E, depois, pega no artigo, altera os dados, ajusta as conclusões, e volta ao mesmo processo. Se a coisa for bem feita conseguirás publicar o suficiente por uma vida

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Alex Read/Unsplash

Anos de pesquisa e publicação resultaram em muitas lágrimas e até em alguma experiência envolvendo o maravilhoso mundo do academismo e da publicação científica. Deixo ao mundo alguns conselhos sobre como fazer e publicar trabalhos científicos de qualidade.

O pré-requisito fundamental do academismo consiste tão-só em desmitificar a ideia de que existe uma coisa apelidada de "verdade". A ciência é, sobretudo, um método de afastamento, aliás, de aproximação da citada, e, para que isso aconteça é fundamental haver rigor e honestidade.

Assim sendo, um dos erros que mais se cometem aquando da realização de trabalhos na universidade ancora no puro "copy-paste", plágio, de conteúdos da net ou impressos, muitas vezes efectuado antes sequer de se conhecer o suficiente sobre o tema em causa. Aconselho, primeiramente, a esquecerem esse objecto de familiarização com a temática do trabalho. A consciência crítica não vos será solicitada, o que se vos pede é para dissertar, realizando primariamente uma revisão da literatura. As melhores revisões da literatura são as que não chegam a ser revistas, basta para isso fazer o referido "copy-paste" mas seguido de um "baralhar das cartas", substituição de termos, modulação do aspecto, tudo o que apagar o fantasma do "plágio". Entretanto, as referências autorais estão lá para vos defender, usem as do próprio texto de base e cacem a "referência" na bibliografia final da fonte; cuidado, evitem as referências antigas e tudo o que se desconfiar ser difícil de arranjar. Se algum docente vos pedir os artigos de base, têm sempre a desculpa do "virtual", ou de terem usado apenas o "abstract" do artigo de base. Se, por qualquer razão misteriosa, decidirem fazer um trabalho de base sem "plágio", ou uma revisão bibliográfica para um artigo, aconselho-vos a esgrimir bem a forma como usam os autores, citem muito e sobretudo de acordo com o que pretendem defender, mas não abusem, usem também alguns autores do "contra", claro está, sem excesso. O melhor mesmo é usarem revisões já efectuadas que se limitarão a actualizar.

Um trabalho de investigação original tem sua arte intrínseca, sobretudo quando se trata de algo feito para publicação. Concentra-te, sobretudo, na metodologia, e não te preocupes muito com a estatística, pois a maioria dos revisores nada entende sobre esta (usa, ou finge usar, métodos complexos, ninguém os perceberá e serão facilmente aceites). Um estudo forte, com amostra louvável, merece revista de prestígio. Escolhe uma em que possuas "cunhas", aliás "conhecimentos". Não, a revisão raramente é "cega" por excelência. Mas se o estudo é fraquito a coisa foi mal feita de início. Um "copy-paste" nas bases de dados pode ser bom para duplicar amostras deficitárias, dando robustez ao trabalho, isto, claro está, se não te tiveres decidido a escrever o artigo directamente sem instrumentos ou bases de dados. Vendo bem, a ficção é um modo de conhecimento da realidade. Já o vi ser feito em muitos sítios e por muitas pessoas, em alguns casos, pode existir o inconveniente dos docentes pedirem as bases de dados ou outro material, e, aí, a coisa acaba por dar uma grande trabalheira, às tantas mais vale fazer o estudo a sério. Mas, com trabalhos da área das ciências sociais e humanas, essa questão não se coloca tamanhamente (o que interessa tamanhamente é o próprio tamanho, a palha ininteligível). E há, também, a solução inovadora: a encomenda de teses ou artigos, obviamente um risco, mas talvez o dinheiro compense, sobretudo se existe pressa em finalizar um trabalho ou grau académico (obviamente, em muitos casos, não vale a pena pagar pelo trabalho, por exemplo, muitos doutorandos assistentes nas universidades limitam-se a espalhar o trabalho relativo às suas teses pelos seus alunos, os quais trabalham à conta da ambição de eles próprios virem a fazer o mesmo com os seus futuros alunos).

Regressando à questão da publicação. Nunca mandes o teu artigo para mais de uma revista, a não ser que tenhas a certeza de que não há revisores em comum entre elas. Se escolheres esperar que uma revista te dê "feedback", arriscas-te a que o estudo perca a valia temporal; como sabes, há que esperar, esperar, esperar muito por uma resposta, e isto é se a derem. Já tem acontecido perderem artigos, ou recusarem a publicação sem justificarem. Mas, alegra-te, também já tem acontecido esperar "eternamente" até que um dia alguém nos avisa que um artigo nosso está publicado algures, sem que tivéssemos recebido qualquer resposta ou aviso. Se acontecer o mesmo artigo ser publicado por mais de uma revista, culpa as próprias revistas, descarta a tua responsabilidade. Não publiques numa revista "paga", a não ser que o negócio pareça compensar.

Como sabemos, o mesmo estudo bem espremido pode dar origem a dezenas de artigos diferentes. Aproveita o sumo. E, depois, pega no artigo, altera os dados, ajusta as conclusões, e volta ao mesmo processo. Se a coisa for bem feita conseguirás publicar o suficiente por uma vida. E, depois, quiçá possas lançar o teu próprio negócio de "produção de conteúdos académicos".

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