Comecemos pelos factos. Portugal ganha poucas medalhas nos Jogos Olímpicos de Verão. Desde sempre. Em média, uma em cada quatro anos. E se anos houve em que ganhamos mais (máximo de três, em Los Angeles 1984 e Atenas 2004), outros houve em que nada ganhamos (o último dos quais em 1992). Comparativamente com os nossos vizinhos europeus, e analisando apenas os que têm menor número de habitantes, ficamos timidamente abaixo da média irlandesa (1,4), austríaca (3,4), suíça (6,8), sueca (18,5), entre tantos outras. É caso para pensar: estará o problema nos atletas? Na sua qualidade e ambição?
O Rio de Janeiro não foi excepção neste triste enredo desportivo. Apenas Telma Monteiro subiu ao pódio, ficando-se por um “modesto” terceiro lugar. Todos os outros ou ficaram abaixo ou desistiram. Por cá, sentados no sofá ou em mesas de café, fomos perdendo a esperança. “Nem no hipismo?”— perguntávamos. “E o miúdo daquela espécie de karaté?”. “Não havia um tipo bom no tiro?”. Nada. Tudo água.
É certo que o nosso interesse pelas modalidades dura apenas 15 dias e vem só de quatro em quatro anos. É o nosso e o do Governo. Ninguém quer saber. Desconhecemos a percentagem do PIB investida em actividades desportivas, mas estima-se que ande abaixo do 1 por cento, quando a média nos países da União Europeia é de 2. Plano para o desporto escolar ou não há ou é a fingir e apoio efectivo aos atletas apenas quando ganham.
Da parte dos média o cenário é semelhante. Espaço editorial relevante só para o futebol, com pequenas excepções para as variantes de praia e de pavilhão. Ciclismo e hóquei em patins fogem à regra nas grandes competições. Mesmo o serviço público televisivo, que na 2 tem algum espaço para as modalidades, obriga agora (à boleia do modelo dos canais fechados) a que o produto chegue pronto e editado, colocando a responsabilidade (e investimento) em cima das federações. Como não há dinheiro, não há retorno. Logo, não há patrocínios.
No meio de tudo isto, o que sobra? Sobra o esforço individual dos atletas. A sua dedicação de anos. O suporte financeiro das famílias. O sacrifício de quem supera lesões para não desistir. As lágrimas pelos anos de privação. A raiva pelas críticas a que são sujeitos. Sobra o nervo que os faz superarem-se. Sobram muitas vitórias em europeus e mundiais. Sobra um total notável de 24 medalhas em Jogos Olímpicos (17 das quais conquistadas depois do 25 de Abril e quatro de ouro), fruto do talento, treino e enorme dignidade de quem se entrega a troco de tão pouco.
Face ao tão reduzido apoio dos vários governos em Portugal, e desinteresse da comunicação social em geral, a presença no Rio de 92 atletas portugueses de 16 modalidades — com mais de uma dezena a terminar acima do oitavo lugar — foi uma enorme vitória do desporto nacional. E que deve ser celebrada. Se queremos mais, devemos olhar o desporto a fundo e alargar a base de apoio às modalidades. Pelo menos onde existe maior potencial de crescimento. Com isso atraímos novos praticantes, novos patrocinadores, mais mercado. Com isso desenvolvemos o desporto escolar, ganhamos mais medalhas, mais projecção. Com isso aproximamo-nos dos países mais desenvolvidos. Quem sabe se nessa altura o mais estranho seja mesmo não ganhar...