Brasil conquista no futebol o ouro mais desejado

Selecção brasileira derrota Alemanha no Maracanã e conquista o título olímpico de futebol pela primeira vez. Decisão foi para os penáltis e Neymar marcou o decisivo.

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Depois de sofrer, o Brasil festejou no Maracanã REUTERS/Ueslei Marcelino

Não há estádio de futebol mais mítico para um adepto do que o Maracanã, o estádio no Rio de Janeiro que, quando foi feito, tinha capacidade para 200 mil pessoas. Esse estádio como foi construído, já não existe. Existe uma réplica com o mesmo nome e mais pequena. Ainda assim, o nome evoca uma memória muito amarga para o Brasil, a daquele jogo em 1950 que decidiu o título mundial a favor do Uruguai e que ficou para a história como o “Maracanaço”. Mas a 20 de Agosto de 2016, na final do futebol nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o Brasil foi finalmente feliz no Maracanã e da forma mais simbólica possível.

Foi simbólico porque foi em casa e contra a Alemanha (que nada tinha a ver com esta selecção), que, há dois anos, tinha sido o responsável por outro grande desastre do futebol brasileiro, os 7-1 em Belo Horizonte para o Mundial 2014. Foi simbólico porque foi a sofrer até ao fim e até aos penáltis, depois de um empate (1-1) em 120 minutos. E foi também simbólico por o homem que decidiu tudo foi Neymar, que forçou o Barcelona a abdicar dele para poder vir aos Jogos. A equipa foi construída à volta dele, ele era o craque e foi ele quem decidiu. Foi ele quem deu a medalha de ouro que o Brasil mais queria e que nunca antes tinha conquistado.

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Um adepto brasileiro segura um cartaz em que pede um resultado melhor do que o do Mundial de 2014 REUTERS/Paulo Whitake

Se havia adeptos alemães no estádio, não se dava por eles (nem no golo), tal era o sufoco de cor e sons. Quase tudo era amarelo, quase tudo era “BRASIU!”. Nenhuma surpresa aqui. E a selecção brasileira entrou na relva alimentada por essa crença inabalável de milhares de amarelos. Neymar era o foco do jogo brasileiro, coadjuvado por Luan e os Gabriéis.

Mas era difícil porque a Alemanha, mesmo não sendo a versão sub-23 o mais forte possível que os germânicos em teoria podiam apresentar (como aconteceu com todas as outras selecções europeias), tinham o ADN da mannschaft, uma equipa segura a defender, muito confortável quando pressionada e sempre à espreita para criar perigo. Julian Brandt, aos 11’, chegou mesmo a acertar no ferro da baliza de Weverton.

A primeira grande explosão de alegria aconteceu aos 27’. Neymar foi o herói, pela primeira vez, no jogo com um livre perfeitamente executado que não deu quaisquer hipóteses a Timo Horn, guarda-redes do Colónia. Os brasileiros festejavam em permanência, mas tiveram de suster a respiração várias vezes. Brandt, Max Meyer e Sven Bender estiveram bem perto do empate ainda na primeira parte e davam a sensação de que a Alemanha, mesmo a perder, estava no controlo e que a reviravolta seria uma questão de tempo.

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Neymar marcou o golo na primeira parte e o penálti que valeu a medalha de ouro REUTERS/Paulo Whitaker

A segunda parte começou como acabou a primeira, com a Alemanha a pressionar e o Brasil a acusar a pressão, como tantas vezes acontecera nos Jogos. Aos 59’, o golo que os brasileiros não queriam. Max Meyer, jogador do Schalke 04, fez o empate e  relançou a discussão da final. Mas foi aqui que o Brasil voltou a equilibrar, só pecando em muito pela displicência na hora da concretização – Luan foi particularmente perdulário – até porque a organização defensiva da Alemanha estava a abrir buracos.

Não houve golos até ao final dos 90’ e também nada mudou durante o prolongamento de 30 minutos. Assim se chegou aos penáltis. Tal como o Brasil, a Alemanha também nunca tinha sido campeã olímpica de futebol masculino – só a RDA, em 1976 – e iria sair do Maracanã um campeão inédito. A cada penálti concretizado pelos alemães um “ooohhh”, a cada penálti marcado pelos brasileiros, uma grande “yeah”.

Esta sequência repetiu-se quatro vezes e, ao quinto, o alemão Nils Petersen (um dos veteranos da equipa) permitiu a defesa de Weverton. Um guionista de cinema teria feito exactamente isto. Deixar a última estocada para o herói. Neymar avançou para a bola, o estádio encheu-se de silêncio e depois rebentou. O Brasil já tinha festejado nestes seus Jogos títulos olímpicos com judo, vela, salto com vara, boxe e voleibol de praia. Mas havia um que queria mais que os outros. O Brasil reconciliou-se com o Maracanã. E com o seu futebol.

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