CDS vai falar com Hélder Amaral no regresso, “sem intuito persecutório”
Luís Queiró telefonou a Hélder Amaral. Portas diz que não dá "troco" a Monteiro, que não responde "a pessoas que até já fizeram partidos contra o CDS".
Pelo menos ao telefone já falaram. O centrista responsável pelas relações internacionais no CDS, Luís Queiró, já ligou ao deputado Hélder Amaral e trocaram impressões sobre as declarações do segundo que fizeram estalar a polémica ao sugerirem uma aproximação ideológica entre o CDS e o MPLA. Embora não revele o conteúdo dessa conversa, Luís Queiró disse ao PÚBLICO que, quando Hélder Amaral regressar de Angola, o partido irá tentar esclarecer a controvérsia.
Hélder Amaral disse e reafirmou. Na quarta-feira, este vice-presidente do grupo parlamentar declarou, em Luanda, que o partido está muito mais próximo do MPLA e, agora, com “muitos mais pontos em comum”. A direcção do partido respondeu, pela voz do vice-presidente Adolfo Mesquita Nunes, em declarações ao Expresso: “O CDS não subscreve o entendimento das palavras de Hélder Amaral que presumem uma alteração das posições do partido relativamente à democracia e ao pluripartidarismo em Angola.”
Luís Queiró – que era quem estava para ir a Angola, mas não pôde, por razões pessoais – subscreve as declarações de Adolfo Mesquita Nunes, mas acrescenta que é preciso esclarecer o que foi dito: “Vamos falar, procurar conversar com Hélder Amaral, saber se a transcrição é correcta. Não nos identificamos com ela, queremos saber se entre a notícia e a realidade há ou não diferenças, se está fora do contexto. A conversa vai acontecer quando ele cá estiver. Espero que não tenha passado de uma polémica. Tem de se esclarecer, mas sem intuito persecutório”, disse, ressalvando no entanto que, embora o CDS e o MPLA sejam “ideologicamente distintos”, ir ao congresso “faz todo o sentido”, por várias "preocupações": com os empresários, pelo “interesse em manter o contacto com Angola”, pela comunidade portuguesa, pelo espaço lusófono… Aliás, sublinha, o CDS vai “com o mesmo espírito” ao congresso do CASA-CE, partido da oposição ao regime de José Eduardo dos Santos, em Setembro.
Nesta sexta-feira ao Diário de Notícias, embora ressalvando que se trata de uma opinião pessoal que não vincula o CDS, Hélder Amaral reiterou: “Já afirmei que não retiro o que disse.” Esclareceu também que as palavras que proferiu foram em resposta a uma pergunta sobre o que pensava do discurso de José Eduardo dos Santos: “Neste discurso, de facto, constatei sinais de mudança que entendo que devem ser protegidos. Nesses sinais há alguns pontos em comum com as ideias do CDS. Falo, por exemplo, da valorização da iniciativa privada, com críticas explícitas aos negócios ilícitos e da defesa de um Estado mais eficiente. Se passarem das palavras aos actos é uma evolução a que devemos estar atentos. Se for assim, é claro que estou mais próximo do governo angolano.”
Filipe Lobo d’Ávila, que se apresentou uma lista ao conselho nacional alternativa à de Assunção Cristas no último congresso do partido, diz que o esclarecimento de Adolfo Mesquita Nunes foi “pertinente e justificado”, porque “era importante que alguém da direcção viesse esclarecer se estava ou não” de acordo com Hélder Amaral: “Veio tarde, mas chegou.”
Portas reage a ataque de Monteiro
Questionado sobre a entrevista de Manuel Monteiro ao jornal i, que tem como título “O CDS rendeu-se aos interesses de Paulo Portas” e na qual o ex-líder critica a posição do partido em relação a Angola e relaciona a aproximação ao MPLA com a ligação de Portas aos negócios, Filipe Lobo d’Ávila foi claro: “O dr. Manuel Monteiro está fora do CDS há muitos anos, não conhece o CDS que existe hoje, lamento essas declarações, são totalmente disparatadas.”
Luís Queiró limitou-se a constatar “as concepções” que lhe parecem “subjectivas” de Manuel Monteiro, mas acrescentou: “Os interesses de vida de Paulo Portas são uns, os do partido são outros, nem fomos lá por causa do dr. Paulo Portas, nem o dr. Paulo Portas por nossa causa, por amor de Deus!”
O ex-líder do CDS-PP Paulo Portas desvalorizou a polémica em torno das declarações de Hélder Amaral e reagiu, à margem do congresso, onde está a título pessoal: “Nunca dei troco a polémicas de natureza interna, muito menos a pessoas que até já fizeram partidos contra o CDS ou saíram até do CDS. Sendo muito breve, o meu plano é sempre o das relações do Estado português", disse citado pela agência Lusa. Numa frase, respondia simultaneamente às duas polémicas.
“Sabemos que os tempos não são fáceis e precisamente em tempos que são mais difíceis é necessário afirmar os laços de cooperação e o país precisa de construir pontes, não precisa de retóricas de confronto", frisou. "É do interesse de Portugal ter uma relação boa e sólida com Angola e devo chamar a atenção [para que] aquilo que os portugueses, [se] se perderem em certas controvérsias, deixarem de fazer em Angola, será feito certamente pelos chineses, turcos, franceses, ingleses, italianos ou espanhóis", acrescentou.