A saudade de quem nunca parte: os emigrantes

Hoje, a minha aldeia ficou mais triste, foi-se muita da alegria que veio com eles, com gente que nos sente, que nos abraça como poucos, que nos agarra sem medida, que não conhece o limite da intensidade

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Marco Gil

Se há coisa que me faz doer a alma é a partida dos emigrantes depois dos melhores dias do ano em Portugal. Eles são patriotas como ninguém e corajosos como poucos.

A Mariza diz que a "vida avança e não espera pela gente" mas, por vezes, não devia ser assim. Aquelas expressões que varrem os rostos de lágrimas e entristecem o coração mereciam que, por vezes, o tempo pudesse intervalar as saudades.

Na realidade, queria que todas as pessoas que se gostam pudessem viver num mesmo sítio, que o tempo e o espaço não fossem indicador de sofrimento e que as fronteiras se encurtassem com a proximidade dos sentimentos.

Quando há mais de um século os nossos primeiros emigrantes valentes se foram sem destino, já levavam a bravura de um povo que merecia nunca ter de sair da "casa portuguesa com certeza" para poder obter um futuro melhor. Porque o pão e o vinho sobre a mesa nunca serão o mesmos e o elemento que bate à porta não sabe como é sentar-se na mesa com a gente.

Ter de partir e deixar para trás o cheiro, as raízes, a essência, o sabor e o coração é das piores coisas que pode acontecer a uma nação tão valente como imortal.

São pessoas que vivem um ano para ter estes dias, que se motivam com os meses do calor no país que é deles, que vive com datas, que abre o peito de felicidade quando vê "Portugal a 200 quilómetros" na última sinalização, que começa a viver quando entra em Portugal. E é a amargura da chegada ao fim dos melhores dias de sempre que me destroça o coração e me faz sentir a tristeza de que deixam para trás tanta parte deles.

Hoje, a minha aldeia ficou mais triste, foi-se muita da alegria que veio com eles, com gente que nos sente, que nos abraça como poucos, que nos agarra sem medida, que não conhece o limite da intensidade. Porque estes 18 dias são os melhores e os segundos contam mais do que os minutos, o ritmo do relógio é feito pelo ponteiro da proximidade e não se desperdiça nada, até ao "último cartucho".

Mas a minha aldeia é sinónimo de todas e de todos os lugares que são porto de chegada a pessoas que escutam em francês ou alemão mas sentem e comovem-se em português.

O abraço que hoje dei ao meu amigo Antony foi o maior de todos, ninguém sabe abraçar como aqueles que se vão mas ficam. Sem a vergonha de chorarmos agarrados mas com o orgulho de sentirmos saudade e apego na hora de não se partir nunca. Porque eles nunca partem, o corpo faz os quilómetros, mas o coração não conhece o passaporte.

O coração de um emigrante tem residência fixa, conhece o cheiro do país pelo detalhe e, se olharmos para o lado, vive sempre um perto de nós. E ainda que não lhe conheçamos a presença nunca na verdade lhes sentimos a ausência. Sei que nós, os que ficamos, sentimos a amargura daquela gente mas a dimensão da tristeza de quem tem que partir e ficar para trás é de um sentimento avassalador.

O tempo não atenua a dor da distância, apenas nos reconforta por mais onze meses. Aqueles onde o tamanho da felicidade no coração é o contra-relógio para as próximas férias em Portugal.

Se eu pudesse pôr ordem nisto nunca permitiria separar quem se ama, não consentiria distanciar a gente do sítio de onde pertence. Mas "a noite sempre se tornará dia".

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