O rapaz da ambulância de Alepo
Uma criança de cinco anos é o novo símbolo da guerra na Síria.
![](https://imagens.publico.pt/imagens.aspx/canal_videos/videoPortal/Images/201608/Sequence 0370407.Still00170407.jpg?tp=VIDEOS)
Há cinco anos, quando a guerra na Síria começou, Omran Daqneesh nasceu. Na quarta-feira, ao fim do dia, a guerra ia-o matando — o conflito já matou tanta gente, e mata-as a tanta velocidade, que as Nações Unidas deixaram de fazer o registo das baixas.
Na quarta-feira, a casa dos Daqneesh (o rapaz, os pais e mais três irmãos, de um, seis e 11 anos) foi atingida. Ficava em Qaterji, um bairro de Alepo, a cidade do Norte do país que é palco das piores batalhas da guerra, com o governo de Damasco a querer resgatá-la aos vários rebeldes que contestam o regime de Bashar al-Assad.
Omran foi salvo juntamente com três irmãos. Os pais também saíram do edifício vivos, mas a casa ruiu logo a seguir. E a rapariga, a de 11 anos, só se deixou levar para a ambulância quando viu a mãe ser retirada do entulho onde tinha ficado presa. Depois de ser socorrido da casa em ruínas, sentado numa ambulância, coberto de pó e sangue, Omran passa a mão pela cara e tenta limpar-se. A expressão no seu rosto comoveu as redes sociais e as imagens tornaram-se virais.
Silent and in shock, a rescued child after a reported airstrike becomes the face of #Aleppo https://t.co/0fKOhrM7t1 pic.twitter.com/KHp4SCTEO1
— Al Arabiya English (@AlArabiya_Eng) August 18, 2016
Durante a tarde, um dos médicos que o assistiu partilhou uma nova imagem da criança já depois de ser tratada.
His name is Omar Daqneesh and he is 5. Here he is after treatment by some extraordinarily brave doctors in #Aleppo. pic.twitter.com/7WT4oMqExK
— Raf Sanchez (@rafsanchez) August 17, 2016
Os combates em Alepo são considerados dos mais violentos desde o início do conflito. Há zonas da cidade com acesso bloqueado e milhares de civis em perigo de vida. Uns por causa das bombas, outros porque não há que comer, que beber, com que curar doenças ou tratar feridas.
Esta quarta-feira, a União Europeia exigiu uma "paragem imediata" nos combates em Alepo de forma a serem retomadas as operações humanitárias e de socorro. A Rússia, que está a apoiar Assad, em nome do combate contra o terrorismo e o Estado Islâmico, respondeu que, "na semana que vem", começarão "pausas humanitárias" de 48 horas "para permitir a entrega de ajuda aos habitantes de Alepo". Trata-se, explicou em comunicado o Ministério da Defesa russo, de "um projecto piloto" destinado a confirmar que a ajuda é entregue em segurança e à população civil da cidade.
"A data e hora exactas [da pausa] serão determinadas depois de serem recebidos, da ONU, as informações relativas à preparação dos comboios de ajuda humanitária".
A história lembra a imagem de Alan Kurdi, o menino de três anos, também ele sírio, que morreu afogado ao tentar escapar justamente ao conflito que está a destruir o país, atravessando o mediterrâneo no início de Setembro do ano passado, em busca de asilo na Europa. A fotografia do corpo da criança na costa de Bodrum , Turquia, foi amplamente partilhada e tornou-se imagem se tornou o símbolo dos refugiados que morrem ao tentar chegar a solo seguro. As comparações já começaram.
Um correspondente do The Telegraph partilhou também no Twitter uma imagem de Barack Obama e Vladimir Putin que diz estar a ser partilhada entre os sírios nas redes sociais e que pedem a intervenção dos líderes internacionais, que "nada estão a fazer" para a resolução do conflito.
Syrians are tweeting Omran's picture as they ask why the world is doing nothing about the killing in #Aleppo pic.twitter.com/ioXM3Tgmke
— Raf Sanchez (@rafsanchez) August 18, 2016
O mesmo jornalista acrescenta ainda que a família da criança não quer falar com a comunicação social por temer represálias do regime de Bashar al-Assad.
They do not want to talk to the media for fear of reprisals from the Assad regime against their family in other areas #Aleppo
— Raf Sanchez (@rafsanchez) August 18, 2016