A purga de Erdogan vira-se agora para os grandes grupos económicos
Ministério Público emitiu mandados de captura contra 187 pessoas, incluindo donos de alguns dos maiores conglomerados do país. São suspeitos de financiarem a rede de Fetullah Gülen.
O Presidente Recep Tayyip Erdogan ameaçou e, nesta quinta-feira, o Ministério Público turco começou a executar o que tinha sido prometido – para estrangular o que diz serem as fontes de financiamento de Fetullah Gülen, emitiu mandados de captura contra 187 pessoas suspeitas de pertencerem ou canalizarem dinheiro para o movimento do imã radicado nos EUA. Entre os visados estão os donos de alguns dos maiores conglomerados do país.
Mais de mil polícias das brigadas de combate à criminalidade económica participaram em buscas em 204 casas e empresas situadas em Istambul, o motor da economia turca, e em outras 18 províncias do país. Pelo menos 60 pessoas foram detidas, acrescentou a agência pró-governamental Dogan, adiantando que entre os visados pelos mandados de captura está Rizanur Meral, presidente da Tüskon, confederação industrial com mais de 55 mil associados e que é agora suspeita de ligações a Gülen, que Ancara diz ter sido o mentor e promotor do golpe militar fracasso de 15 de Julho.
A estação CNN-Turk revelou que a polícia efectuou buscas nas sedes dos grupos Aydinli e Eroglu, duas das maiores cadeias de pronto-a-vestir, com fábricas e dezenas de lojas dentro e fora do país. Empregando milhares de pessoas, integram ambas a lista 500 da revista Fortune. Igualmente visado foi a conhecida fabricante de doçaria Gulluoglu Baklava, que confirmou a detenção do presidente da empresa.
Os grandes conglomerados, detidos por famílias influentes, são um dos pilares da economia turca, recorda a AFP, sublinhando que o poder económico de vários deles foi importante para a ascensão política de Erdogan e do Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP), no poder desde 2002. Mas o Presidente acredita agora que estes mesmos grupos são o suporte económico do movimento de Gülen, o antigo aliado político que acusa de ter estado por trás do golpe militar.
No início do mês, Erdogan avisara que a purga lançada para libertar a Turquia deste “Estado paralelo” – e que já levou ao despedimento de quase 80 mil funcionários públicos, à detenção de mais de 40 mil pessoas e ao encerramento de quatro mil instituições – iria estender-se às empresas que o financiavam. Logo depois do golpe, foi detido o presidente da Boydak Holding, um dos maiores grupos familiares da Turquia com interesses no sector energético, banca e imobiliário. E na terça-feira, mais de cem pessoas ligadas a uma cadeia de supermercados e ao grupo de construção Akfa foram detidas. Segundo o jornal Hurriyet, o Akfa terá transferido nos últimos quatro anos cerca de 35 milhões de euros para os EUA através de um banco igualmente ligado ao FETO (Organização de Terror Fethullah), acrónimo pelo qual é agora tratado o movimento de Gülen.
Mas esta vaga de detenções é o sinal mais claro de que Erdogan – acusado já de estar a usar o golpe de Estado como pretexto para silenciar opositores – está disposto a levar a sua guerra contra Gülen às últimas consequências, mesmo arriscando agravar a turbulência económica no país.
A nova vaga de detenções coincidiu com os primeiros atentados atribuídos à guerrilha do PKK fora das zonas maioria curda, no sudeste do país, desde o golpe militar. Pelo menos 12 pessoas morreram e mais de 200 ficaram feridas em três explosões, a mais violenta das quais aconteceu na cidade de Elazig, um bastião do AKP no Leste do país, que nunca tinha sido visada pela guerrilha curda. Com o fim da trégua, em 2015, a violência voltou a subir no sudeste da Turquia – com atentados de um lado e repressão do outro –, mas o golpe militar trouxe uma acalmia.
Numa declaração ao país, Erdogan ligou os dois acontecimentos, acusando os seguidores de Gülen de cumplicidade nos atentados. A Turquia, acrescentou, confronta-se com ataques coordenados de várias organizações terroristas que agem em conjunto”.