Em Ponte de Lima, Fernando Pimenta "vai ser recebido em braços"
O Clube Náutico de Ponte de Lima não vai poder celebrar o 25º aniversário com presente vindo do Brasil, mas promete receber o canoísta em braços.
Quase uma centena de amigos e familiares de Fernando Pimenta juntaram-se no Clube Náutico de Ponte de Lima para ver o canoísta a lutar por uma segunda medalha olímpica. Durante quase toda a prova, Pimenta foi aplaudido e incentivado pelo público, que parecia estar a assistir à corrida na lagoa Rodrigo de Freitas, mesmo nos momentos em que foi perdendo terreno para o espanhol Marcus Walz. No fim, a esperança deu lugar ao desânimo. Mas foi um desânimo fugaz. Não durou mais do que os 3m35,349s que canoísta da casa demorou até chegar à meta. O quinto lugar soube a pouco, mas o orgulho dos limianos não foi abalado.
“Em todos os desportos individuais há a possibilidade de, numa fracção de segundo, tudo poder mudar”, diz o pai de Fernando Pimenta, que partilha o nome com o filho. Ainda que sem medalha nesta prova individual – o canoísta ainda vai participar na prova de K4 1000m –, o pai Pimenta não tem dúvidas de que, em Ponte de Lima, o filho “vai ser recebido em braços”.
Antes da prova, Fernando Pimenta pai estava sereno. Diz estar habituado aos dias de competição do filho e prefere manter a “cabeça no sítio”, afastando o “nervoso miudinho”, natural nestas alturas. Diz que o filho também é assim: encara qualquer competição com “naturalidade e sem ansiedade”. Valores que transmitiu ao filho desde que Fernando começou a praticar canoagem, aos 11 anos, depois de ter experimentado o atletismo.
Fernando Pimenta, uma medalha presa nas folhas das árvores
Diz o pai que parte do sucesso do canoísta, formado no Clube Náutico de Ponte de Lima, está, precisamente, na estrutura familiar que sempre serviu de suporte em todos os momentos da carreira. A ligação a Ponte de Lima e a vontade de representar a terra é também um dos motores do seu êxito. Essa ligação à terra é, sublinha o pai, o único motivo para nunca ter aceitado qualquer convite de outro clube. “Para não estar tanto tempo sem cá vir, acabou por trocar o curso de Fisioterapia em Coimbra, pelo de Reabilitação Físico-Motora, numa universidade mais perto de casa”, conta o pai Fernando.
Para o vice-presidente do Clube Náutico de Ponte de Lima, José Carlos Gonçalves, a relação que Pimenta tem com o coordenador técnico dos limianos, Hélio Lucas, também seleccionador nacional, é uma das peças-chave para que o canoísta tenha coleccionado uma série de bons resultados ao longo dos últimos anos: “Existe uma aliança muito forte entre os dois”, refere. Gonçalves sublinha também o “grande espírito de família” que se vive dentro do clube, que actualmente conta com 250 atletas de diferentes escalões.
O dirigente esperava que “esta família” festejasse, no próximo domingo, os 25 anos de existência do Náutico, com o presente trazido do Rio, para que o clube atingisse a marca de 40 medalhas ganhas. Não foi possível, mas o mais importante, diz, é destacar “o trabalho desenvolvido por um grupo que tenta despertar nos jovens o interesse pelos desportos náuticos, numa terra que tem o rio como centro da actividade diária”. Um projecto que está a ser realizado em parceria com as escolas do concelho, para promover o desporto escolar. De resto, foi através de um programa do mesmo género que Fernando Pimenta chegou ao Clube Náutico.
Outro caso semelhante é o de Duarte Silva, de 17 anos, que conheceu o clube através de um programa escolar desenvolvido em parceria com o Náutico.
Duarte começou aos 14 anos e, três anos depois, foi campeão júnior de K2, no Europeu deste ano, em Pontevedra, Espanha. Assistiu à final de K1 1000 metros com alguns dos colegas de equipa e diz ver em Fernando Pimenta um exemplo de motivação que o ajuda a traçar metas e a continuar no desporto. Tímido nas palavras, não esconde que um dos seus sonhos passa por um dia conseguir chegar a um nível olímpico. Por agora, quer dar um passo de cada vez e aproveitar a entreajuda que existe entre os atletas mais velhos, como é o caso de Pimenta, e os mais novos, que diz treinarem em conjunto sem distinções de palmarés: “Aqui no clube somos todos um.”