Apelo internacional para salvar gémeos siameses nascidos em zona de guerra síria
Meninos nascidos a 23 de Julho estão unidos pelo peito. Crescente Vermelho negociou a sua transferência de Ghouta, um dos subúrbios mais fustigados pelo regime de Assad. Mas há pelo menos mais 20 casos urgentes para resolver.
Uma campanha do Crescente Vermelho para salvar a vida de dois meninos, gémeos siameses, que nasceram em Ghouta, uma das áreas mais devastadas pela guerra da Síria, já resultou na sua transferência para uma unidade da capital do país. Mas sem uma intervenção cirúrgica altamente especializada, os bebés Nawras e Moaz terão poucas hipóteses de sobreviver, alertam os médicos.
Os gémeos nasceram a 23 de Julho no hospital Zahra de Ghouta, um subúrbio a Norte de Damasco. Estão unidos no peito e partilham os intestinos num abdómen protuberante, mas têm dois corações normais. Numa carta aberta divulgada pela Sociedade Médica Sírio-Americana, o médico Mohamad Katoub explicou que o hospital onde os bebés nasceram não estava apetrechado para responder à complexidade do seu tratamento, e avisou que os gémeos estavam a “ficar sem opções”. “Este é um caso em que o milagre do nascimento destas crianças é ao mesmo tempo a tragédia da medicina na Síria, reflectiu.
Apesar de Ghouta ser um dos pontos mais fustigados pelos bombardeamentos do regime do Presidente sírio Bashar al-Assad, e estar praticamente inacessível para a distribuição de ajuda humanitária, o Crescente Vermelho conseguiu transferir os dois bebés e a sua mãe para um hospital da capital – a localidade, que está sob o domínio dos combatentes rebeldes e cercada pelas tropas do regime desde o início da guerra da Síria, foi alvo de ataques químicos em Agosto de 2014, que mataram mais de 1400 pessoas, entre as quais mais de 400 crianças.
O apelo internacional do Crescente Vermelho funcionou e, segundo a organização, chegaram do estrangeiro várias ofertas para tratar os gémeos. A família espera agora a melhor oportunidade para viajar para Beirute, no Líbano, informou Mohamad Katoub. A transferência dos recém-nascidos foi negociada pelo Crescente Vermelho e pela Organização Mundial de Saúde; de acordo com a representante daquela agência das Nações Unidas na Síria, Elizabeth Hoff, existem pelo menos outros 20 casos de pacientes em risco de vida a necessitar de transporte urgente de áreas debaixo de ataque, incluindo as cidades de Alepo e de Madaya, cercadas pelo regime.
“Estamos disponíveis e preparados para garantir o transporte urgente destes pacientes, que estão desesperados por tratamento médico de emergência. Porque é que tal não é possível?”, criticou o enviado especial das Nações Unidas para a Síria, Staffan de Mistura, acrescentando que as situações mais delicadas que estão identificadas não podem ficar à espera que os actores políticos acertem as condições de um cessar-fogo.
Um dos casos para que a OMS chamou a atenção é de uma criança de dez anos, Ghina Ahmad Wadi, que no início do mês foi atingida por um atirador furtivo a caminho de uma farmácia, quando ia comprar medicamentos para a mãe. A menina foi baleada numa coxa, e os ferimentos foram tão severos que lhe romperam um nervo e causaram uma complexa fractura óssea, que a deixa com dores insuportáveis – e que não pode ser tratada no local. No entanto, as autoridades sírias recusaram até ao momento todos os pedidos para a sua transferência para Damasco ou para o Líbano, onde poderia receber o tratamento de que necessita.