A reforma dourada de Cancellara e o bronze do costume para Froome

O ciclista suíço voltou a ser campeão olímpico do contra-relógio depois de 2008, enquanto o britânico repetiu o bronze de Londres 2012. O português Nelson Oliveira foi sétimo.

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Nelson Oliveira leva para casa um diploma olímpico REUTERS/Eric Gaillard
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Cancellara ficou com o ouro REUTERS/Eric Gaillard

Quando acabar a época velocipédica de 2016, acaba também a vida competitiva de Fabian Cancellara. Foi o próprio que o anunciou no final do ano passado, mas nesta quarta-feira ficou bem demonstrado que o veterano suíço ainda tinha algo para dar, ao vencer a prova de contra-relógio dos Jogos Olímpicos, recuperando assim o título conquistado em 2008 e que perdera para Bradley Wiggins em 2012. O holandês Tom Doumolin fez prata e Chris Froome tece de voltar a contentar-se com o bronze, tal como acontecera há quatro anos. Como se esperava, o português Nélson Oliveira esteve nos lugares da frente, ao terminar em sétimo.

Foi o regresso à glória olímpica para um dos grandes especialistas de contra-relógio da última década. Há quatro anos, Cancellara era um dos favoritos antes de uma queda na prova de estrada que o limitou no “crono”, mas agora entrou saudável no percurso carioca e o seu avanço no circuito de 54,5km foi esmagador: deixou Doumolin a 47,41s e Froome a 1m02,12s. Dominou o “crono” do princípio ao fim, abrandando apenas na segunda cronometragem intermédia aos 19,7km, em que era quarto. Mas foi uma situação passageira. Quinze quilómetros depois, e até ao fim, esteve sempre na frente, não caiu na descida escorregadia e as pernas não lhe falharam.

“Se foi tão bom, não quer voltar em 2020 para tentar um terceiro título olímpico?”, foi a primeira pergunta que fizeram ao suíço. E a sua resposta foi monossilábica e sem hesitações: “Não!” Depois, elaborou um pouco mais. “Estou muito orgulhoso, ganhar esta medalha em ano de retirada. Sempre são 16 anos. Se esta foi a minha última corrida? Perguntem-me amanhã”, disse Cancellara, deixando no ar a possibilidade de ainda se apresentar nos Mundiais de ciclismo, que se realizam em Outubro próximo, no Qatar — Cancellara já foi quatro vezes campeão mundial de contra-relógio.

Ou seja, daqui a quatro anos não haverá campeões a defender o título nos “cronos”, já que a vencedora da prova feminina, a norte-americana Kristin Armstrong, que conquistou no Rio o seu terceiro título olímpico, também não irá a Tóquio. Mas como a norte-americana de 43 anos só veio ao Brasil depois de voltar da reforma, nunca se sabe. Se bem que ambos pareceram bastante seguros das suas decisões.

Chuva e cautelas

Com a chuva a dificultar a vida aos ciclistas, as cautelas foram redobradas e a descida poucas vítimas fez. Uma excepção foi o quarentão iraniano Iranagh Ghader Izbani, mas o acidente não foi o suficiente para o deixar fora de prova. Izbani também foi um dos primeiros a partir e, por isso, apanhou a estrada mais molhada e sem trajectórias definidas. Nestas condições os últimos a partir acabaram por ser beneficiados.

O maior azarado do dia acabou foi o australiano Rohan Dennis, que teve um furo quando liderava, já após os 20km, e teve de trocar de bicicleta, ficando afastado da luta pelas medalhas — ainda assim, ficou a oito segundos de Froome.

À partida, pelo que a temporada tinha mostrado, a luta pelo ouro seria entre Doumolin e Froome, vencedores dos dois “cronos” na edição deste ano da Volta a França — o holandês também venceu um na Volta a Itália. Por respeito à sua história, Cancellara também teria de ser incluído entre os candidatos, mas não “o” candidato. O desenrolar da prova acabou por provar o contrário. O suíço foi o quinto a contar do fim a partir, Doumolin e Froome foram os dois últimos a sair para a estrada com 90 segundos de intervalo. Cancellara foi dominador, os outros não chegaram sequer perto. Doumolin rodou sempre em tempo de pódio, Froome passou mais de metade da corrida fora das medalhas e, não fosse o percalço do australiano, talvez tivesse ficado fora do pódio.

Nelson, o diploma e o beijinho

Nelson Oliveira entrava para a prova com algumas aspirações, sustentadas pela sua exibição no Tour, em que fez terceiro numa etapa de contra-relógio. Um “top 10” era uma meta realista, uma medalha não seria um optimismo desmiolado, apesar da queda que sofrera alguns dias antes na prova de estrada e que conduziram à sua desistência. O português começou algo lento, rodou mais de metade do percurso fora dos dez primeiros, mas acabaria por acelerar na etapa final, ultrapassando, inclusive, dois que tinham partido primeiro, o espanhol Ion Izaguirre e o alemão Tony Martin.

O sétimo lugar no Rio é consideravelmente melhor que o 18.º de Londres 2012 — chegou ao diploma — e é o melhor resultado de um português no contra-relógio. O ciclista acabou por se mostrar satisfeito com o que fez. “Se calhar até foi melhor do que eu esperava. Sentia-me um bocadinho lento no início, mas até foi o melhor que fiz porque depois ia-me custar chegar à meta. Hoje, se calhar, também não era um dos meus melhores dias. O tempo também não ajudava, mas foi tudo igual para todos. Na última descida a estrada estava um pouco molhada e eu não queria arriscar. Ia com algum medo depois de ter caído na prova de estrada”, disse o corredor no final, garantindo não ter ficado com sequelas da queda alguns dias antes.

Nelson promete que a sua aventura olímpica ainda vai continuar, mas que ainda não é altura de pensar em Tóquio. O que ele queria mesmo era mandar uma mensagem para casa: “Quero mandar um beijinho à minha namorada, que faz anos hoje.”

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