Dois autarcas terão viajado para França a convite da Galp
Dois autarcas, um do PCP outro do PS, viajaram para França a convite da Galp. Isso não fez os comunistas mudarem de opinião sobre o assunto das viagens de políticos a convite de empresas.
A notícia que coloca os autarca de Santiago do Cacém e de Sines no mesmo voo que o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, para Lyon, no dia do jogo Portugal-Hungria, a convite da Galp, foi avançada pelo Observador a meio da tarde de ontem. O PCP logo reagiu, a pedido do PÚBLICO, numa curta nota enviada por e-mail. “A propósito da deslocação ao Europeu de Futebol do Presidente da Câmara de Santiago do Cacém, Álvaro Beijinha, eleito como independente pela CDU, o PCP para lá da maior ou menor relação de influência que a competência das diversas entidades públicas suscite, reafirma a sua posição de princípio quanto à exigência de uma atitude na gestão pública de indispensável separação entre poder político e económico.»
O Observador conta que, além de Álvaro Beijinha, presidente da Câmara de Santiago do Cacém eleito pela CDU, também Nuno Mascarenhas, presidente em Sines eleito pelo PS, foi a Lyon a convite da empresa. De acordo com várias fontes do jornal, os dois terão partilhado o voo que levou o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Fernando Rocha Andrade.
O jornal tentou contactar, desde sexta-feira, os gabinetes de ambos os autarcas para os confrontar com a informação, mas a resposta é de que estão de férias. Já a Galp, repetiu apenas o que já havia dito quando foi revelado o caso dos três governantes: “A Galp não comenta convites individuais».
Na altura, o Governo reagiu pela voz de Augusto Santos Silva e prometeu um código de conduta para clarificar este tipo de situações. Mas o ministro dos Negócios Estrangeiros disse que também que “os secretários de Estado fizeram questão de reembolsar [a empresa] e, ao fazê-lo, o caso fica encerrado”. Apesar disso, Santos Silva viria mais tarde a chamar a si todas as decisões respeitantes à Galp, retirando esse poder ao secretário de Estado da Internacionalização.
Cauteloso, o PCP considerou condenável a atitude dos governantes, mas não pediu a demissão de nenhum dos três. “Nós consideramos, tal como no passado, que situações como estas não contribuem para a necessária separação entre poder político e poder económico e, por isso, consideramos uma atitude criticável”, disse o dirigente comunista Jorge Pires.
Fugindo a falar na palavra "demissão", Jorge Pires preferiu garantir, por várias vezes, que “com os deputados do PCP esta situação não aconteceria” e recusou que o PCP tenha agora uma atitude “branda” por dar apoio à maioria de esquerda no Parlamento - ao contrário das posições críticas em situações semelhantes no passado - e disse que o partido não tem que “decidir o que deve fazer” o primeiro-ministro e o resto do Governo.
“Não se trata de ser cauteloso, ser duro ou mole”, vincou o responsável comunista, insistindo na necessidade de ser o executivo a fazer a auto-análise. “Situações como estas não contribuem para a necessária separação entre o poder político e o poder económico. E essa separação não tem sido feita ao longo dos anos e prejudica a vida democrática do nosso país.”
No caso dos dois municípios agora em causa, o Observador lembra que relação com a Galp “é estreita, tendo uma das suas duas refinarias do país instalada em Sines” e muitos dos seus trabalhadores a residirem no município vizinho, Santiago do Cacém, por onde também passa, aliás, parte do gasoduto que sai de Sines.