A “praia dos fantasmas” de Armação de Pêra é legal e “não tem nada de novo”
Avolumam-se as críticas à "reserva" da praia por parte de vários banhistas. Junta de freguesia quer aumentar areal.
Todos os anos, alguns veraneantes da praia de Armação de Pêra, no Algarve, têm por hábito “reservar” a sua cota de areal colocando as toalhas e os guarda-sóis na praia e ali os deixando para marcar lugar. “Isto não é nada de novo”, diz ao PÚBLICO Ricardo Pinto, presidente da junta de Armação de Pêra. Mas as redes sociais têm destas coisas: um vídeo partilhado no passado domingo no Facebook mostra a praia às 8h da manhã, deserta de pessoas mas repleta de toalhas e guarda-sóis. E as críticas avolumaram-se.
Há quem lhe chame a “praia dos fantasmas”, recordando uma foto do ano passado, onde se vê, às 7h30, um cenário semelhante. Na rede social, há comentários sobre “egoísmo” e sobre a “praia ser de todos”, e há até quem recorde que a prática é “muito antiga por algumas praias de Portugal e de Espanha”. Um dos cibernautas alerta mesmo para o facto de que em Espanha “já se passam multas a quem faz isto”.
“Esta prática já existe há muitos anos”, continua o autarca local daquela freguesia no concelho de Silves. “As pessoas acordam cedo de manhã, deslocam-se à praia e marcam o lugar. Depois vão fazer a sua vida. Muitas vezes são os avós que depois vão acordar os netos e vêm com eles para a praia”, descreve o presidente da junta. Ricardo Pinto recorda que esta é uma praia de “turismo de família” e “uma praia segura”, razão pela qual acredita que os banhistas desenvolveram o hábito de deixar os pertences durante a manhã e na hora de almoço.
“Não acontece as pessoas deixarem os guarda-sóis durante a noite”, esclarece ainda o autarca, contrariando algumas das acusações que se vão lendo por estes dias nas redes sociais. Desde que foi publicado, há três dias, o vídeo da “praia dos fantasmas” soma já cerca de 2000 partilhas e mais de 350 comentários.
“Uma questão moral”
A junta de freguesia já contactou a Agência Portuguesa do Ambiente e a capitania local, que adiantaram que “não há nada na legislação que proíba” esta prática. Contactado pelo PÚBLICO, Rui Pereira, capitão do Porto de Portimão, resume a polémica a “uma questão moral”.
“Não podemos impedir as pessoas de fazerem isto”, diz, embora salientando que estes banhistas “não ganham o direito de propriedade sobre o areal, que é público, por isso correm o risco de que as coisas sejam retiradas e alguém lhes ocupe o lugar”.
Rui Pereira conta que no ano passado a capitania recebeu uma reclamação de um frequentador da praia, mas este ano ainda não houve registo de queixas.
Nos últimos anos, o mar tem vindo a roubar progressivamente espaço ao areal e, à medida que a maré sobe, torna-se difícil a missão de encontrar lugar, “principalmente no mês de Agosto”. Para resolver o problema, Ricardo Pinto conta que seja colocada artificialmente mais areia na praia, uma solução apoiada pela junta “para aumentar a área de areal”. A proposta, orçada em um milhão de euros, já foi apresentada ao Plano de Ordenamento da Orla Costeira, que está em fase de revisão.
A praia de Armação de Pêra tem dez unidades balneares concessionadas, três delas nas mãos da junta de freguesia, cujo presidente salienta que “se tem vindo a verificar um aumento significativo de visitantes". Os concessionários ocupam cerca de 30% do areal, como previsto na lei, deixando o resto da praia disponível para as chamadas “zonas de chapéus-de-sol”.