Ao terminar mais um ano lectivo na faculdade decidi, com outro amigo, o Ricardo, partir numa viagem à boleia pela Europa e fazendo uso do "couchsurfing" enquanto forma de alojamento — uma ideia tantas vezes prometida e sonhada. Sentíamos que esta era a oportunidade e o momento ideal para saírmos totalmente da nossa zona de conforto. Ainda que ambos já tivéssemos tido outras experiências que nos tinham posto "à prova", pela primeira vez queriamo-nos entregar ao desconhecido e à incerteza do momento seguinte. Depois, mais do que conhecer locais, queríamos conhecer pessoas, sentir o pulso das relações humanas numa Europa que tem vindo a sofrer vários golpes à sua estabilidade, e perceber até que ponto o medo e a desconfiança nos têem influenciado enquanto cidadãos.
Assim partimos de Lisboa no dia 15 de Julho e após 15 dias já apanhámos 32 boleias, atravessámos cinco países (Portugal, Espanha, França, Itália e Suíça), dormimos na rua em Sevilha, acampámos em Nice, fomos recebidos numa comunidade hippie onde nos ofereceram o almoço, assistimos a um fogo de artifício no telhado da casa da nossa "host" em Basileia, ficámos em casa de jovens "couchsurfers" e conhecemos centenas de pessoas com quem temos partilhado a nossa história e a nossa aventura.
O medo do desconhecido
Grande parte dos nossos medos derivam do desconhecido, em qualquer circunstância da vida acredito que é a incerteza e o desconhecimento que nos levam a ter medo, a questão é que muitas vezes acabamos por não fazer determinadas coisas e deixar sonhos por realizar porque temos medo! Por outro lado, esse medo pode esconder coisas verdadeiramente fantásticas, como por exemplo a oportunidade de conhecermos pessoas que podem mudar o nosso destino a qualquer momento e tornar o nosso dia ainda melhor, como a boleia da Anna, uma italiana que a meio da viagem nos convidou a visitar uma aldeia medieval a caminho de Génova, uma das nossas paragens.
Confesso que das únicas vezes em que sentimos medo foi quando ligámos a televisão em Nice, onde estivemos poucos dias após o atentado, e ouvimos todas aquelas reportagens, o que revela muito sobre a forma como nos deixamos influenciar pelos média! Claro que é necessário estarmos constantemente atentos e termos cuidado, diria até que cada vez mais, mas não devemos transformar isso numa obsessão e permitir que esse medo nos impeça de fazer algo. Até agora temos sempre recebido um sorriso quando também damos um sorriso e temos tido autênticas provas de solidariedade e de entreajuda e experienciar o genuíno sentimento de gratidão é fantástico, afinal "onde quer que vás, vai com todo o teu coração".