José de Matos: "Não tenho o mínimo orgulho em ter assinado os prejuízos da Caixa"
Presidente do banco público está a ser ouvido nesta quarta-feira no Parlamento.
O presidente cessante da Caixa Geral de Depósitos (CGD), José de Matos, declarou nesta quarta-feira não ter "orgulho" em ter assinado os prejuízos da entidade nos últimos anos, mas assinalou que nada podia fazer para os evitar.
"Se era preciso que alguém assinasse os prejuízos que a Caixa teve, eu assinei-os, porque era preciso que alguém os assinasse", vincou José de Matos, que fala na comissão parlamentar de inquérito sobre o banco público.
Declarando sentir-se "ofendido" pela eventual ideia de que escondeu prejuízos, José de Matos afirmou que "só esconde prejuízos quem assina lucros que deviam ser prejuízos", frisando ter assinado as contas do banco público mesmo não podendo fazer nada para "evitar os prejuízos".
"Não tenho o mínimo orgulho em ter assinado os prejuízos da Caixa", reconheceu.
Na sua intervenção inicial perante os deputados da comissão de inquérito, o ainda presidente da CGD declarou que não há redução de depósitos no banco com as notícias dos meses recentes.
"Não acreditem quando alguém disse que conseguiu roubar depósitos à Caixa", declarou aos deputados, referindo-se a responsáveis de outros bancos que possam declarar ter ficado com depósitos de clientes do banco público.
O que tem havido pontualmente, admite o gestor, são "pessoas inquietas, que não percebem" o que se passa com a Caixa, e vão aos balcões perguntar informações aos trabalhadores do banco.
Limpeza de balanços e exigências de capital
O presidente da CGD disse que a limpeza do balanço e as maiores exigências de capital por parte dos reguladores explicam os prejuízos acumulados pelo banco público nos últimos anos.
O gestor abordou as questões por trás dos resultados líquidos negativos da CGD e disse que "a limpeza de balanço foi acompanhada por uma radical reorganização da área de crédito a empresas e particulares" e "a esta limpeza vieram juntar-se o aumento dos requisitos de capital".
Segundo José de Matos, "através da implementação do programa de reestruturação a CGD conseguiu mitigar parte relevante dos desvios de capitais", especificando que a palavra "desvios" devia ser entendida única e exclusivamente como a diferença para os novos rácios de capital.
O dirigente da CGD sublinhou que a administração foi aplicando "medidas adicionais para melhorar a sua eficiência e rentabilidade", admitindo, contudo, que estas "não foram suficientes para responder aos requisitos de capital".
De resto, José de Matos vincou que "a CGD cumpriu permanentemente todas as exigências em matéria de capital e de liquidez" e também "cumpriu integralmente as exigências que o memorando de entendimento do programa de assistência internacional previa para a instituição", entre as quais a alienação de activos não estratégicos e da área seguradora.
Sobre o reforço de capital feito em 2012, que resultou da injecção de 750 milhões de euros em capital e da subscrição de 900 milhões de euros em obrigações convertíveis (CoCo) feitas pelo accionista Estado, o gestor vincou que, "em termos relativos, a capitalização da Caixa em 2012 foi a mais baixa do sistema bancário português e uma das mais baixas de toda a Europa".
As audições da comissão parlamentar de inquérito à CGD arrancaram nesta quarta-feira com a audição do presidente do banco público.
Depois de ouvido José de Matos, os deputados ouvem, na quinta-feira, o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, e, na sexta-feira o ministro das Finanças, Mário Centeno.
A comissão parlamentar de inquérito à Caixa, imposta potestativamente por PSD e CDS-PP, tomou posse a 5 de Julho na Assembleia da República, sendo presidida pelo social-democrata José Matos Correia.
A comissão de inquérito vai debruçar-se sobre a gestão do banco público desde o ano 2000 e abordará o processo de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos, actualmente em negociação com Bruxelas.