Diane Arbus aquém e além dos monstros
Reavaliada em nova biografia, a fotógrafa nova-iorquina surge como voyeurista e exibicionista indomável. Procurava o erotismo dos outros e oferecia-se como objecto sexual. Se todos somos monstros, a vida dela foi tornar-se o mais possível o monstro que já era.
Ela sabia ser perversa. Em Abril de 1963, o pai hospitalizado em Nova Iorque na fase terminal de um cancro nos pulmões, Diane fotografa-o no leito de morte e comenta que “a degradação gradual é fantástica”, considerando mais tarde que a atitude foi “tremendamente fria”. Em Maio, volta a pegar na máquina e capta o corpo no caixão, repetindo o que fizera em 1955 com a avó materna, Rose Russek, então apontando a câmara à cabeça do cadáver estendido na urna.
A fotógrafa que passou à história como caçadora de deficientes, pobres e excêntricos, mar de gente marginal para os cânones da década de 60 – anões, travestis, gigantes, nudistas, fetichistas, prostitutas –, precisava das emoções extremas e declarava-se incapaz de experimentar sensações de outra maneira.
A fotógrafa que influenciou Jeff Wall, Robert Mapplethorpe, Nan Goldin, Cindy Sherman e tantos outros precisava do bizarro e do dramático para se sentir viva, pois só assim conseguia suportar a angústia e as crises depressivas. A interpretação tem feito escola desde o suicídio de Diane Arbus, a 26 de Julho de 1971, e é agora retomada em Diane Arbus – Portrait of a Photographer, de Arthur Lubow, jornalista americano de 63 anos.
Mas há mais. O autor foge à hipérbole e busca o lugar humano de Diane, o ser contraditório como todos, a pura artista, a mãe dedicada. A mulher sexual, também. Lubow investe neste último aspecto. Encena uma personagem ambivalente, deprimida e eufórica, perversa e amável, entusiasta e insegura, honesta e mentirosa, criança e adulta, cabeça no ar e pés na terra. “Consigo entrar numa sala e saber quem dorme com quem, às vezes até antes de irem para a cama uns com os outros”, afirmou Arbus.
Dominada por um erotismo desmedido, sedutora dos objectos fotografados, voyeurista e exibicionista a todo o tempo – assim surge no livro, ainda que um pouco longe da monstruosidade que Susan Sontag lhe atribuiu em 1973 num artigo para a New York Review of Books que depois faria parte de Ensaios Sobre Fotografia (original de 1977, publicado em Portugal em 1986).
Sontag dizia que Arbus fez de comuns mortais monstros e explorou a dor dos retratados em imagens repelentes que tornaram os espectadores insensíveis. A opinião espalhou-se pelas décadas e pode ter originado nas filhas de Arbus a vontade de controlar em absoluto tudo quanto a seguir se escreveu e mostrou sobre ela, vontade que se mantém.
Lubow escreve que as herdeiras não o autorizaram a reproduzir quaisquer imagens da autoria de Arbus nem lhe deram acesso aos papéis do acervo, até hoje publicados a conta gotas sob a forma de excertos e apenas com autorização de uma das filhas, Doon Arbus.
Amy, a outra filha, “não está directamente envolvida na gestão do património”, explica Lubow em conversa telefónica com o Ípsilon. “É Doon quem toma as decisões. Ela sente que a informação biográfica não acrescenta grande coisa à experiência do público perante as fotos da mãe e que fazer biografias ou crítica interfere na fruição dos espectadores.”
Como seria de esperar, o jornalista não se convence. Se todos pensassem como Doom “não haveria história da arte e muitas prateleiras das bibliotecas estariam vazias”, comenta.
O livro demorou cerca de sete anos a completar e tem origem num artigo que Lubow escreveu em 2003 para a revista do “New York Times” (é também colaborador das revistas “The New Yorker” e “Vanity Fair”). O financiamento veio de uma bolsa do Cullman Center, que funciona junto da Biblioteca Pública de Nova Iorque.
“Doon, através de um intermediário, veio ter comigo para ver se eu escrevia um artigo”, recorda o jornalista. “Entrevistei-a nessa ocasião e ela cooperou bastante. Gostou do texto, mas não queria que houvesse livro. Tentei persuadi-la, fiz o mesmo com pai, Allan, com quem também falei no âmbito do artigo. Ele também me disse que não acredita em biografias e não quis participar.”
Neste passo, Lubow não é claro e sugere que Doon impôs como condição para a existência da biografia a aprovação prévia do texto final, o que o jornalista terá recusado.
“Gostaria muito de ter tido acesso ao acervo, mas mesmo que Doon tivesse concordado não poderia aceitar que houvesse um controlo sobre o que iria escrever. Isso seria um obstáculo ainda maior. Ponderei avançar sem acesso a todo o material e assim fiz, porque se não começasse depressa muitas das pessoas com quem queria falar teriam morrido. Se fosse viva, Diane teria hoje 93 anos. As pessoas que a conheceram estão a ficar velhas ou a desaparecer”, constata.
“Diane Arbus – Portrait of a Photographer” é, portanto, uma biografia não autorizada com material limitado, mas a primeira sobre Arbus em mais de 30 anos escrita com base em investigação própria.
A personagem exerce um fascínio tremendo no autor, o que se nota na forma apaixonada como fala dela, sem parar. De um modo geral, a imagem da artista sai favorecida e nos pormenores amorais Lubow opta pelos factos e pelo contexto, não dizendo mais do que aquilo que fica escrito.
A começar pela relação incestuosa com o irmão, Howard. O facto é conhecido desde pelo menos 1984, quando saiu a biografia de Patricia Bosworth, Diane Arbus: A Biography, com a qual o livro de Lubow tem sido comparado.
Howard Nemerov (1920-1992), que se tornou poeta, com direito a um Pulitzer, nasceu pouco depois do casamento dos pais: Gertrude Russek, descendente de um judeu polaco que chegou a Nova Iorque no fim do século XIX e montou um pequeno império de comércio de peles, e David Nemerov, filho imigrantes judeus da actual Ucrânia. Vão ser um casal próspero, com muito desafogo e alguns caprichos, vários empregados domésticos e uma vida de aparências que o mobiliário francês de imitação em casa parece testemunhar. A fotógrafa viveu a combater a sombra dos pais, sugere o livro.
Nascida a 14 de Março de 1923, a filha do meio, foi baptizada com nome francês por a mãe ter visto um musical de sucesso cuja protagonista assim se chamava (pode pronunciar-se “diéne”). A ela se juntará Renée, nascida em 1928, terceira e última filha.
Howard e Diane partilhavam uma fraternidade intensa que deixava de fora a mais nova. Com base no testemunho da psiquiatra de Arbus, incluído na biografia de Patricia Bosworth e consultado em bruto por Lubow, afirma-se que a fotógrafa considerava pouco relevante a ligação sexual ao irmão. O papel que isso teve no suicídio de Arbus permanece incerto.
Sem aparente relevância aos olhos da própria foram também as aventuras sexuais frequentes, mesmo durante o casamento.
Allan Arbus (1918-2013), o marido, homem protector e sensível que tocava clarinete, fazia fotografia e sonhava ser actor, o que veio a acontecer, começa como empregado no departamento de publicidade da loja dos pais de Diane, a Russeks. O casamento acontece em 1941, contra a vontade de David e Gertrude. Separam-se em 1959, divorciam-se em 1969, mas vão manter-se muito próximos.
Em jovem, Diane “achava misterioso o efeito que tinha nas pessoas, especialmente os homens”, lê-se. “Nunca se libertou dessa fase adolescente em que há mútua exploração. No seu universo nenhuma alternativa estava excluída e uma primeira ligação não impedia outra. Era polivalente”, escreve Lubow. “Independentemente da componente erótica, as relações que estabelecia eram fraternas na essência. Howard estabeleceu o cânone. Allan aperfeiçoou-o.”
No entender do jornalista, Arbus punha no mesmo pé a vida íntima e o trabalho. Quando começou a fotografar sentiu que se tratava de uma actividade “maliciosa” e “muito perversa”, explicou numa conferência em 1970. “O acto de fotografar é uma aventura”, afirmou semanas antes de morrer.
A lista de casos é extensa. Alex Eliot, Pati Hill, Bruce Davidson, Gay Talese e Marvin Israel são apenas alguns. Diane respondia a anúncios de troca de casais, tinha sexo em grupo com pessoas que sentia serem pouco atraentes, fazia propostas sexuais a desconhecidos na rua, insinuava-se a quem fotografava, quase sempre com inocência. Dormiu com quase todas as pessoas que conheceu, revelou a Paul Salstorm, um activista com que fez amizade.
Na segunda metade da década de 60 passou a fotografar sexo em grupo e casais na cama, antes e depois de terem sexo, e em 1966 ficou doente com hepatite B, provável consequência da vida sexual activa. “Mesmo perante a revolução sexual dos anos 60, esta atitude liberal separada de uma ligação emocional era rara entre as mulheres”, nota Lubow.
Em meados da década, aproxima-se de Louis Hardin Jr., conhecido como Moondog, um músico de rua que vivia num quarto infestado de baratas. O encontro serve a Lubow para explicar que Arbus sentia necessidade de ultrapassar a “fronteira do decoro”, fazendo das aventuras sexuais e fotográficas “formas alternativas de se afirmar como pessoa viva e real”.
Acontece que Moondog era cego e por isso nunca se tornou objecto fotográfico ou erótico para Diane. “Ele não poderia dar-lhe a reciprocidade que ela procurava, pois teria de ver e ser vista”, escreve Lubow, reafirmando noutra passagem: “A presença dela era tão sedutora que os retratados, tal como as conquistas sexuais, respondiam com sensualidade, timidez, curiosidade, voluptuosidade, cumplicidade, reconhecimento, desconforto.”
A hipersexualidade diminuía-lhe a ansiedade e a falta de auto-estima, pensa o autor, sem descrever com precisão a origem desses desequilíbrios. Ao confessar ao amante Alex Eliot que gostava de aparecer despida à janela para que um vizinho a apreciasse, o que terá durado anos; ao pensar em dois projectos fotográficos que não chegou a completar, um atlas de pénis, que documentasse a variedade de formas, e uma série intitulada “Homosexuals”, a partir de retratos de jovens gay que frequentavam o jardim da Praça Washington – Arbus não estaria à procura de prazer físico apenas.
Atraíam-na homossexuais, especialmente os extravagantes, ou talvez a atraíssem as pessoas que auto-determinavam e reconstruíam as suas identidades, por oposição aos que jogavam o jogo social. Não era o prazer físico. Arbus procurava descobrir-se e refazer-se da crise existencial.
“Se todos somos monstros (freaks), a obrigação é sermos o mais possível o monstro que já somos”, disse-lhe o editor de moda da Harpar's Bazaar, Marvin Israel, que é quem a encontrará morta em casa.
“Ela estava obcecada por sexo tal como uma pessoa obesa está compulsivamente obcecada por comida”, terá dito a psiquiatra de Diane, Helen Boigon. “A pessoa gorda enche-se e enche-se de comida e nunca está satisfeita, não obtém gratificação. Diane era assim, mas pior. Não conseguia criar laços com nada nem ninguém. Embora quisesse, não conseguia sentir nada.”
A carga sexual no momento do disparo
“A sexualidade é um tema central em Arbus”, resume o biógrafo na conversa telefónica. “Diz-se que foi pioneira a fotografar pessoas esquisitas, mas muitos artistas já tinham feito antes. O que é novo é a intimidade entre objecto e fotógrafa, o que em grande medida se deve à carga sexual no momento do disparo. Os retratados estão muitas vezes a responder a uma energia erótica que vinha dela. Como espectadores das fotografias, estamos na mesma posição de Diane, é como se estivéssemos a ser olhados da mesma forma que ela foi.”
O livro tem 734 páginas, 98 de notas finais, e está dividido em sete partes que por sua vez incluem dezenas de capítulos breves. Contém fotografias de Arbus cedidas por familiares e amigos, mas não fotos feitas por ela. O autor avisa nas páginas finais: “Em momento algum inventei diálogos ou situações.”
Ao Ípsilon, destaca que a revelação principal está na interpretação de que o voyeurismo e o exibicionismo são componentes fundamentais da vida e do trabalho de Arbus.
“Em cartas que escreveu, e pelas entrevistas que fiz a amigos dela, percebi que ela era incapaz de interagir com as coisas de forma directa, sentia que precisava de se ver reflectida na reacção das outras pessoas”, explica Lubow. “Tirar uma fotografia fazia-a sentir-se viva e real; depois, a imagem passava a ser uma prova simbólica de que existia como pessoa.”
A narrativa começa em 1956, Diane a romper com a fotografia de moda que por quase uma década fez ao lado do marido, momento em que nasce a artista tal como a conhecemos.
Allan e Diane tinham sido fotógrafos da Russeks e a seguir à guerra, entre 1949 e 1956, estiveram unidos na criação de editoriais de moda para diversas revistas, como a Vogue ou a Harpar's Bazaar, actividade lucrativa e a melhor opção para quem queria viver da fotografia na ausência de mercado para o documentalismo e as fotos artísticas. Irving Penn e Richard Avedon também tinham começado assim.
Acontece que as modelos de Avedon estavam vivas, flutuavam e tinham graça, enquanto as do casal Arbus era estáticas e artificiais. Diane não gostava do que fazia naquele tempo. Dizia que há um lado profundamente fictício e fútil na moda, porque as roupas não pertencem aos modelos, é tudo arranjado para um certo efeito. E ela precisava do real.
Teve formação com Berenice Abbott, conhecida fotógrafa documental que trabalhou como assistente de Man Ray em Paris, e em 1956 inscreveu-se nas aulas de Lisette Model, imigrante nascida em Viena, fotógrafa autodidacta e antiga aula de pintura em Paris para quem “um corpo feio pode ser fascinante” e a escolha do tema a fotografar obedece à mesma lógica da química sexual: a atracção é que serve de guia.
Model nunca reclamou a responsabilidade pelo caminho artístico que Diane irá tomar a partir do fim da década de 50, sendo muitas as semelhanças entre a linguagem de uma e de outra. Lubow sublinha que Arbus ganhou autonomia e tinha uma intimidade com os retratados que Model nunca procurou. A professora: “Ela precisava de viver em constante euforia”.
No domínio das referências e influências o biógrafo destaca ainda que Diane se candidatou a uma bolsa da Fundação Gugenhiem e conseguiu cartas de recomendação Walker Evans, que documentou a Grande Depressão; Robert Frank, autor do livro “The Americans”; Helen Levitt; e Avedon. A comunidade de fotógrafos de Nova Iorque era pequena e conhecia-se bem.
Andy Warhol foi outro dos artistas com quem Diane se cruzou, ambos apreciadores de pessoas excêntricas, histriónicas e sexualmente ambíguas, ora opulentas, ora miseráveis, ambos fascinados pelos meandros e segredos da sexualidade.
Muitas vezes, o tom do livro é psicanalítico, à procura do simbólico em actos e circunstâncias. Sugere-se que a busca do exótico e do extremo foi a forma que Arbus encontrou para combater a mãe frívola e o pai materialista, pelo quais não sentia especial afecto. Vida e obra como um todo.
“Nesta tentativa de integrar a descrição da vida com a descrição da obra, pensei que o melhor seria fazer capítulos curtos que pudessem funcionar como fotografias”, conta Lubow ao Ípsilon. “É um livro cronológico, mas na minha cabeça cada capítulo é uma imagem, ora panorâmica ora em plano fechado.”
A personagem que Lubow apresenta é eterna criança e sublime perversa, marcada por um individualismo que fará dela um nome sem tempo. Porque foi intimista e não política, Arbus em 2016 continua a ser de agora.
Passam-lhe ao lado as grandes questões que agitam a década de 60 nos EUA. Os hippies de São Francisco não a comovem, são-lhe indiferentes. “As dimensões políticas do feminismo causam-lhe impressão e chateiam-na”, regista o livro.
Na vida pessoal, parecia gostar de alguns estereótipos anteriores à vaga feminista de 60, ainda que a líder feminista radical Ti-Grace Atkinson tenha feito questão de ser fotografada por ela para a capa da “Newsweek” (retrato que nunca foi publicado).
Trabalhou para a Esquire, a New York, a Harpar's Bazaar, as revistas do New York Times e do Times de Londres, fotografou a viúva de Martin Luther King, Coretta Scott King; captou manifestações de apoio e repúdio à Guerra do Vietname, incluindo a Marcha pela Paz de 1967 em Nova Iorque; foi ver de perto o Summer of Love em São Francisco. Mas não foi fotojornalista.
Atraiam-na o mistério e a desarmonia, não a denúncia de inustiças sociais como aos fotógrafos de rua que a precederam, Cartier-Bresson desde logo.
O autor também não a considera fotógrafa documental. O investimento profundo de Diane era nas verdades universais, nos sentimentos “emblemáticos, oníricos e míticos”. Não queria testemunhar a história ou ser repórter de acontecimentos. Envolvia-se com os objectos, tornava-os parte do processo fotográfico.
Não por acaso, captou muitas crianças em Central Park, no metropolitano, em lojas ou no meio de manifestações, nelas buscando a energia a que os adultos já não têm acesso e da qual Diane se alimentava.
A aura infantil era visível na roupa que escolhia, na voz acriançada, numa certa atitude ingénua. Contraditória, como tudo nela, pois sabia vestir-se humildemente quando visitava os pais, assim transmitindo a ideia de que estava mal de finanças, o que em certa medida foi verdade em muitos períodos, mas também punha um aspecto glamoroso perante a amante do marido, que bem conhecia.
Nunca perdeu a marca de classe, sulinha o biógrafo, essa atitude de quem cresceu numa família da alta burguesia, com um pequeno mundo de súbditos, o que a par do talento lhe abriu portas no mundo editorial, nas galerias e nos museus.
Não foi antes de 1960 que os museus americanos começaram a valorizar a fotografia como forma de expressão artística e logo em 64 o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA) compra sete fotografias de Arbus para a colecção permanente, duas das quais são mostradas ao público no Verão seguinte na exposição “New Acquisitions”.
Em Fevereiro de 1967, o MoMA incluiu-a na mostra New Documents, com direito a Norman Mailer, Frank Stella, Gloria Vanderbilt e Leonard Bernstein na noite da inauguração.
Consta que Diane aparecia no museu com frequência para escutar as reacções do público, atraída pela fama ao vivo, na busca de confirmação do seu valor como criadora.
“Em muitos sentidos, é uma pessoa muito complexa, é uma coisa e o seu oposto”, destaca Lubow ao Ípsilon. “É muito amável para os amigos, e ao contrário de muitas mulheres daquele tempo, que se casavam e tornavam mães sem nenhum talento para a maternidade, Diane foi uma mãe presente, muito preocupada com as filhas.”
“Perversa” (no sentido radical de pungente) não é palavra que ocorra a Lubow para resumir Arbus, ainda que apareça no livro, explícita ou sugerida, como quando se refere que Diane chegou a fotografar pessoas a quem jurava não estar a fotografar ou quando confessou a Marvin Israel que tinha inveja da irmã, Renée, por esta ter sido violada em adolescente.
“Terá sido perversa em certas ocasiões, por exemplo ao dormir com o marido da melhor amiga e achar que não havia problema e que a amiga não iria ficar chateada”, reflecte Lubow. “Há quem a considere muito sedutora, isso era parte integrante daquela personalidade.”
No fim da vida, diz à psiquiatra que as duas experiências mais importantes que alguma vez teve foram a menstruação e a maternidade. “Em ambos os casos, o desconforto ou a dor significavam que era capaz de sentir, como se tivesse ali uma prova tangível da sua própria existência”, interpreta Lubow.
É encontrada morta na casa de Manhattan, num dia quente de Julho de 71, dentro da banheira com golpes auto-infligidos dois dias antes. Tem 48 anos. A filha Doon mantém um caso com Marvin Israel. Em Novembro de 72, o MoMA dedica-lhe uma retrospectiva. Arbus já era eterna.