O punk e as ruas, o KISMIF! na cidade
Durante esta semana, o Porto será novamente palco do congresso Keep It Simple, Make it Fast!. O underground como centro de debate para mais de 220 especialistas de 30 países. Billy Bragg e Don Letts são convidados.
Em 2014, no final do primeiro Keep It Simple, Make it Fast!, ou KISMIF!, para simplificar, era consensual que aquilo que acontecera não poderia terminar ali. Aquilo, expliquemos, é um encontro académico que se expande da Academia à cidade, neste caso a do Porto, para que os temas debatidos, a cultura musical underground e o do-it-yourself, sejam também vida concreta em palcos ou salas de exposição. E, realmente, não ficou por ali. Regressou em 2015 e ei-lo de novo este ano. DIY Cultures, Spaces & Places é o tema do congresso que traz ao Porto mais de 200 especialistas de 30 países, entre académicos, músicos ou jornalistas – e concertos, lançamentos de livros, exposições.
Nascido e organizado pelo Instituto de Sociologia da Universidade do Porto, sob o impulso de Paula Guerra, doutorada em Sociologia e professora da respectiva Faculdade de Letras, e em parceria com, por exemplo, o australiano Griffith Centre For Cultural Research, onde encontramos Andy Bennett, um dos coordenadores do congresso, o KISMIF! tem como oradores em destaque Billy Bragg, o músico britânico que faz das suas canções arma política, Don Letts, o realizador e DJ que documentou o nascimento do punk em Inglaterra e que, no mesmo movimento, levou aos punks o som do reggae e dub jamaicanos, ou Steve Ignorant, fundador dos Crass, banda fundamental do punk britânico.
Ao longo desta semana, na Casa da Música (será ali, esta segunda, às 13h30, que Billy Bragg e Steve Ignorant se juntarão para uma apresentação), ou na Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade do Porto (ali estarão terça, às 11h15, Don Letts, ou, às 12h, a investigadora e crítica musical Gina Arnold, que entre muitos outros acompanhou de perto, na estrada, os Nirvana), far-se-á a reflexão sobre como a cultura underground se relaciona com o seu meio envolvente, como o molda e é moldada por ele.
Algumas respostas serão dadas noutro contexto. Através da exibição do documentário The Parkinsons: A Long Way To Nowhere e do concerto da banda no Teatro Municipal Rivoli, na noite desta segunda-feira. Ou do filme de Don Letts, PUNK: Attitude, que terça-feira, na mesma sala, antecede o concerto dos conimbricenses Twist Connection. E ainda haverá o barreirense Fast Eddie Nelson e os The Jack Shits na quarta, na Faculdade de Artes e Humanidades, e os lisboetas Vaiapraia E as Rainhas do Baile e os veteranos barreirenses The Act-Ups na sexta, no Plano B. Mas não só.
No Palacete dos Viscondes de Balsemão estará patente a exposição O Princípio do Fim, de Miguel Januário. No Rivoli poderemos apreciar a obra fotográfica de Vera Marmelo, que vem documentando há uma década a cena portuguesa das margens. Na Faculdade de Artes e Humanidades, o ilustrador Esgar Acelerado apresenta A Liturgia do Delírio e inaugura-se (quarta-feira, às 16h) a exposição The Man Who Sold The World: a Post Grunge Exhibition, acompanhada do lançamento de um livro-catálogo coordenado por Paula Guerra. Este será, de resto, apenas um dos dez lançamentos a decorrer durante o festival, que incluem quer obras criadas no âmbito da actividade do Instituto de Sociologia, quer livros de investigadores presentes no congresso – Route 666: On The Road to Nirvana, da supracitada Gina Arnold, será um deles.
No final, é pouco provável que todos os envolvidos exclamem em uníssono que “isto não pode ficar por aqui”. No Porto, com o KISMIF!, a Academia saiu à rua em 2014. É pouco provável que considere voltar a fechar-se em casa.