Barroso não foi o primeiro a ir para a banca, mas o único a ir directo

Sete ex-presidentes da Comissão Europeia dedicaram à vida política e três foram para o privado. Barroso irá trabalhar com Arnault, um dos cinco políticos portugueses que passou pela Goldman Sachs.

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Durão Barroso é apresentado a Laura Bush por Nicolas Sarkozy perante o olhar de George W. Bush RON SACHS/AFP

Desde que se constituiu a União Europeia, já foram cinco os presidentes da Comissão Europeia que o deixaram de ser e só Durão Barroso saiu directo para o sector financeiro. Recuando mais na história, entre todos os dez ex-presidentes daquela instituição encontram-se três que abraçaram a vida empresarial e Barroso nem foi o único a ir trabalhar para a banca.

Jacques Santer foi um dos ex-presidentes da Comissão Europeia (depois do Tratado de Maastricht) que abraçou a vida empresarial, mas não imediatamente depois de deixar o cargo. O homem que era presidente dos europeus quando foi instituída a moeda única deixou o mais alto cargo da Comissão Europeia em 1999 e de lá foi para o Parlamento Europeu. Só mais tarde integraria uma holding financeira do Luxemburgo, a General Mediterranean Holdings, onde ainda é dado como fazendo parte do conselho de administração. Mas não foi o único a ir parar à banca. 

Gaston Thorn, também ele luxemburguês, saiu da Comissão Europeia para chairman de um grupo de comunicação daquele país, o CLT (em 1985). Mas o sucesso empresarial deste político passou nesse mesmo ano pela presidência do maior banco luxemburguês, o Banque Internationale à Luxembourg (BIL), que é detido em parte pelo Estado e é dos maiors bancos daquele país.

Este seria o político que mais rapidamente fez a transferência da Comissão Europeia para a banca, mais até do que Durão Barroso que cumpriu o período de nojo de 18 meses. Fê-lo para um banco com uma dimensão e gestão diferente do Goldman Sachs. O BIL é um banco comercial nacional, com o Estado como accionista parcial, com uma dimensão mais reduzida, enquanto que o Goldman Sachs é um banco de investimento de dimensão mundial.  

Recuando ainda mais na história da Comissão Europeia, encontra-se o francês François-Xavier Ortoli (presidente entre 1973-1977) que foi administrador de um grupo de imobiliário o Marceau Investissements, e sete anos depois de ter deixado as instituições europeias, foi presidente da petrolífera Total, até 1990. 

Quase todos os presidentes mais antigos e os anteriores aDurão  Barroso optaram pela vida política. O italiano Romano Prodi, que foi o presidente da Comissão Europeia imediatamente anterior a Barroso, saiu da instituição euroipeia e voltou à política italiana, vindo depois a ser novamente primeiro-ministro daquele país. Fez aliás, o mesmo que outro italiano que chegou à presidência, Franco Maria Malfatti, que se demitiu do cargo europeu em 1972 e voltou à política interna.

Também o espanhol Manuel Marín preferiu continuar nas lides políticas. Chegou a presidente interino da Comissão Europeia em 1999, depois de ter sido durante vários anos vice-presidente daquela instituição, e quando saiu voltou à política no país vizinho chegando mesmo a ser presidente do Parlamento de Espanha anos depois.

Outro dos exemplos dos representantes da Comissão Europeia que preferiu a vida política foi Jacques Delors. O francês chegou a ser desafiado a candidatar-se à presidência da França, mas nunca o fez. Decidou-se ao think tank que criou, o Notre Europe, entre outras actividades.

O facto de não ter sido pioneiro na passagem para o mundo empresarial, nem tão pouco ser pioneiro no trabalho na banca, não fez com que Durão Barroso deixasse de ser criticado à esquerda e à direita, em Portugal e no resto da Europa, por ter aceite o convite para ser presidente não-executivo do banco de investimento Goldman Sachs. Em França houve alguns políticos indignados com a decisão e por cá á esquerda ouviu-se também o descontentamento. Passos Coelho disse não ver conflito de interesses, já António Costa preferiu não comentar. 

Poderosos, políticos e da Goldman Sachs

No Goldman Sachs, Durão Barroso vai encontrar outro português com quem, aliás, tem uma relação próxima de longos anos, José Luís Arnaut. Este ex-dirigente social-democrata foi o último a entrar no banco de investimento, é desde 2014 membro do International Advisory Board do Goldman Sachs. Arnaut esteve envolvido, segundo o Wall Street Journal, na decisão do gigante financeiro de emprestar ao BES cerca de 700 milhões de euros nos dois meses anteriores ao colapso do banco.

Com a queda do BES, o Banco de Portugal decidiu que o empréstimo do Goldman Sachs ficaria no "banco mau" e não transitaria para o Novo Banco, tendo assim melhores perspectivas de ser reembolsado. A acção interposta pelo grupo financeiro contra o regulador português ainda corre e vai ser decidida pela justiça britânica.

Além de Arnaut, já passaram pelo banco de investimento vários políticos portugueses e que hoje, na sua maioria, estão ou estiveram em lugares de topo. É o caso e António Borges, já falecido,até Barroso o que mais alto tinha subido na hierarquia do Goldman Sachs: foi durante anos vice-presidente do conselho de administração do banco em Londres. De onde saiu  em 2008, regressando a Portugal e abraçando a vida política, tendo sido vie-presidente do PSD, quando Manuela Ferreira Leite era a líder do partido. No Governo de Passos Coelho foi assessor para as privatizações, e também foi director para a Europa do Fundo Monetário Internacional.  

No Goldman Sachs, houve outro social-democrata que trabalhou com António Borges: Carlos Moedas. O actual comissário europeu esteve no banco de investimento nas áreas de fusões e aquisições, antes de voltar a Portugal e entrar na vida política. Viria mais tarde a ser um dos homens do PSD nas negociações com a troika, depois secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro e por fim nomeado comissário europeu para as áreas da Ciência, Inovação e Investigação.

Houve mais dois políticos com ligações ao PSD com passagem pelo banco de investimento. Foi o caso de João Moreira Rato, que aliás, passou por outros bancos de investimento como o Lehman Brothers ou o Morgan Stanley, e depois dessa experiência foi presidente do Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público (IGCP). Também a actual deputada do PSD, Inês Domingos, foi analista no Goldman Sachs.

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