Estava em Kennington Park, reduto português em Londres, quando, contra a corrente do jogo, o mal-amado Éder marca um golo no coração de todos os portugueses de todo o mundo! Não queria acreditar! Que se lixem os 110 minutos anteriores de puro sofrimento e simples desespero, sem Ronaldo, com um Renato desinspirado e uma equipa a acusar o peso de 67 milhões de franceses diante de uma selecção a jogar, confortavelmente, em casa, que se lixem os poucos remates à baliza mais a bola adversária no nosso poste, que se lixe o azar dos franceses e a nossa sorte, que se lixe tudo porque nós marcámos um golo!
E entre abraços, saltos, beijos, gritos e berros, contámos os dez minutos finais ora de pé, ora sentados, ora de pé outra vez, já sem posição, já sem coração, a voz toda ela rouquidão e este sonho tornado, finalmente, realidade, e nós sem acreditar, e nós a saltar, cinco, quatro, três, dois, um, dois minutos de desconto, um, faltam dez segundos, somos campeões, vamos ser campeões, sabemos que daqui a dez segundos, vai acabar, somos campeões!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Os franceses, em larga maioria em Kennington Park, com “um melão“, que não vos conto, mesmo sabendo que entre o golo do Zidane e 1975 foram dez as vezes em que nos ganharam, dez, todas seguidinhas, mesmo sabendo terem eles ganho um campeonato do mundo e dois Europeus, mesmo sabendo terem do seu lado o factor casa e uma presença na final, mas eu quero lá saber, porque hoje nós somos campeões!
Já era hora! Já era hora de o poder dizer, e de poder ver, neste curto tempo de vida, como esta taça é nossa por direito! Os ingleses, atreitos a horas de dormir, e porque não foram eles a vencer a final, desligaram o ecrã poucos segundos depois do apito do árbitro, tiro prontamente saído pela culatra pela quantidade de portugueses nas ruas de Londres entre cachecóis, buzinadelas e estradas cortadas.
E hoje não se dorme! Só é pena ser segunda-feira! Mas não esperem pela demora, porque este cachecol, um terço de verde de esperança e dois terços de vermelho pelo sangue derramado, lá estará comigo, na sala dos professores, para grande dor de cotovelo de todos quantos, amanhã, não são portugueses! Onde estiveste tu a dez de Julho de 2016? Estive a ver Portugal ser Campeão Europeu de Futebol com a minha mulher e amigos chegados num parque em Londres, para onde fui já contam nove anos. E tu?
