BE desafia PSD e CDS a dizerem se continuarão a apoiar PPE em caso de sanções

Para Catarina Martins, “Portugal deve ter a capacidade de se desobrigar de respeitar tratados e regras absurdas”. Insiste que os portugueses devem ser chamados a dizer se querem ou não viver num regime de sanções que estão a ser usadas para “pressionar” Governo e maioria de esquerda.

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Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda Nuno Ferreira Santos

A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, desafiou nesta terça-feira o PSD e o CDS a dizerem se continuarão a apoiar o Partido Popular Europeu, ao qual pertencem, em caso de aplicação de sanções. A bloquista lembrou que todos os partidos estão contra aquele cenário, incluindo PSD e CDS que "continuam a fazer parte do Partido Popular Europeu que está a propor sanções". Mas o PS também não escapou às críticas da coordenadora, por ter apoiado, votado e ratificado tratados que estão a fazer “pressão” sobre Portugal.

As afirmações foram feitas nesta tarde, num vídeo na página do Facebook do esquerda.net, na qual a coordenadora respondeu às perguntas que lhe iam sendo colocadas. O tema era a aplicação de eventuais sanções, mas houve perguntas sobre outros assuntos, como a precariedade ou as 35 horas de trabalho.

Catarina Martins voltou a lembrar que a Comissão Europeia está a debater a aplicação de sanções por contas relativas a 2013-2015. Ora, diz a coordenadora, “os portugueses já sancionaram essas políticas” quando votaram nas eleições legislativas, que permitiram uma maioria parlamentar de esquerda. “Estas sanções estão a ser usadas para fazer pressão sobre o actual Governo e maioria parlamentar”, acrescentou Catarina Martins, reafirmado que não faz sentido que esse julgamento seja feito agora, quando diz respeito a contas do passado.

“Portugal deve ter a capacidade de se desobrigar de respeitar tratados e regras absurdas”, disse ainda, lembrando que nunca houve sanções na Europa, porque as metas em questão não fazem sentido e “destroem” economias. Catarina Martins denunciou também a relação de forças na União Europeia, em que Alemanha e França “mandam”, voltou a defender a necessidade de Portugal se desvincular do Tratado Orçamental e colocou novamente em cima da mesa a possibilidade de um referendo no país sobre esta matéria. A ideia, sublinhou, seria permitir aos portugueses dizerem se querem viver neste regime de sanções ou “se querem um país diferente”. Até porque, para um Governo fazer um “confronto tão difícil” como recusar sanções, precisa de ter esse apoio popular, justificou.

Insistiu que o BE é um partido internacionalista e europeísta, que “ninguém acredita hoje em países isolados”, mas que a União Europeia está transformada numa “construção política e económica” que não permite “a coesão que prometia”. Está transformada num lugar onde, continuou, os “estados grandes dominam” e os “pequenos sofrem”. Para Catarina Martins é “possível confrontar a Europa, sim”, sem que tal signifique um discurso nacionalista, sem que tal signifique recusar “todos os laços” ou a circulação de pessoas. Porém, questionou, “se aceitamos” que a Europa funcione “sem democracia, então o que estamos aqui a fazer?” O ponto, esclareceu, não é fechar fronteiras, mas “recuperar algum grau de soberania”.

Sobre o acordo feito com o Governo e de que forma a questão europeia pode fragilizá-lo ou não, Catarina Martins afirmou que o compromisso do BE é para a recuperação de rendimentos e que, “se Portugal não souber defender a sua economia, não haverá recuperação de rendimentos”. Para Catarina Martins, a discussão em torno das sanções desvia a atenção de temas importantes, como a crise dos refugiados, e é ainda “uma boa maneira de pôr o sistema financeiro a mandar nas nossas vidas”. No meio, ainda lhe perguntaram: “Se deixarem a Alemanha ser campeã da Europa de futebol, será que nos livram de sanções?” Catarina Martins riu-se. Nunca fala de futebol. 

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