O início do hospital CUF Tejo foi o fim de uma escultura de Vhils

O início das obras derrubou um mural de arte urbana.

Empresa estudou a possibilidade de manter o mural, mas a solução não era viável
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Empresa estudou a possibilidade de manter o mural, mas a solução não era viável. Aqui o mural já meio destruído DR
Empresa estudou a possibilidade de manter o mural, mas a solução não era viável
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As obras levaram à destruição do mural DR
Escultura de Vhils, datada a Fevereiro de 2011
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Escultura de Vhils realizada no âmbito do festival de arte urbana CRONO Rui Gaudêncio
Mural foi pintado em 2014, para assinalar os 40 anos de 25 de Abril
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Mural pintado em 2014 para assinalar os 40 anos de 25 de Abril Rui Gaudêncio

As primeiras obras para a construção do hospital CUF Tejo, junto à Avenida 24 de Julho, em Alcântara, Lisboa, já começaram. E se ainda não foram colocados os primeiros tijolos de uma obra que carrega consigo as preocupações dos vereadores da oposição da Câmara de Lisboa já se começaram a derrubar paredes. E murais. Falamos, em particular, do mural de arte urbana criado para assinalar a comemoração dos 40 anos de 25 de Abril. Em 2015, o mural recebeu uma nova intervenção, desta feita para homenagear a independência das antigas colónias portuguesas.

Esta quinta-feira, com o início das intervenções para a construção do hospital privado, as cores que acompanhavam o caminho entre as estações de comboio Mar e Terra de Alcântara e percorriam a rua Cascais caíram. Entre as obras destruídas estava uma escultura de Vhils de Fevereiro de 2011, e que até agora tinha sido a única obra a resistir à renovação temática desta galeria ao ar livre. Esta semana, o rosto de um homem com um punho cerrado ao alto e esculpido na parede caiu.

A manutenção do mural, integrando-o no projecto do futuro hospital esteve em cima da mesa, mas acabou por não avançar, explicou o grupo José Mello Saúde, responsável pela construção do hospital.

Ao PÚBLICO, a José de Mello Saúde sublinhou, através de uma resposta transmitida pela assessora de imprensa, que “foi equacionada e avaliada pela equipa técnica responsável do mesmo a possibilidade de integração do mural existente no projecto do futuro hospital”. No entanto, a fragilidade da infra-estrutura inviabilizou a decisão. “Esta avaliação técnica concluiu não ser possível a manutenção na localização em que se encontrava, nem a sua transferência, neste caso devido ao estado deterioração da estrutura”, esclarece o grupo.

Esta não foi a primeira vez, nem será certamente a última, que um mural é destruído para dar origem a um novo espaço. Em 2015, o mural de José e Pilar pintado em 2010, inspirado pelo documentário homónimo, foi destruído para dar lugar a um parque de estacionamento

Pedro Soares Neves, co-fundador da Associação Portuguesa de Arte Urbana (APAURB) e um dos envolvidos na iniciava dos 40 Anos 40 Murais, que celebrou as quatro décadas do 25 de Abril de 1974, desvalorizou o derrubamento do mural.

“A cidade está sempre a mudar e a arte muda com ela”, analisa em conversa com o PÚBLICO. “É uma dinâmica de constante mudança, uma dinâmica mais recente. Quem acompanha esta forma de arte urbana percebe que tem um carácter mais efémero e que isso é assumidamente notável”, explica Pedro Soares Neves.

“Quando fomos contactados pela Câmara Municipal de Lisboa para intervir sobre o mural [em 2014] sabíamos que iria ser temporário”, continua o co-fundador da APAURB, falando de algo "normal".  Actualmente, “não estão a desenvolver-se intervenções que vão ficar na cidade para sempre”, conta. E isso abre espaço para a rotatividade e renovação das intervenções pela cidade, acrescenta.

“A arte urbana é mais sobre a dinâmica social que se desenvolve e menos sobre as memórias que ficam”, conclui. Também em 2012, Vhils dizia em entrevista ao PÚBLICO que "o processo é a própria obra". "A evolução do que é por natureza efémero", mesmo que isso se traduza na sua degradação ou no seu desaparecimento. "É preciso destruir para criar", notava Alexandre Farto (Vhils), que o PÚBLICO tentou contactar, mas não foi possível, pelo facto de o artista se encontrar no estrangeiro.

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