Morreu Alvin Toffler, autor de Choque do Futuro
Autor norte-americano previu vários desenvolvimentos económicos e tecnológicos.
O escritor e analista social Alvin Toffler, autor de obras de sucesso que inspiraram vários dirigentes mundiais, morreu em Los Angeles aos 87 anos, anunciou nesta quarta-feira a empresa de consultoria por ele fundada.
O autor morreu na segunda-feira, diz um comunicado da Toffler Associates, sem explicar as causas da morte.
Na sua obra mais célebre, Choque do Futuro, publicada em 1970, Alvin Toffler debruçou-se sobre as mudanças sociais esperadas no mundo. A Terceira Vaga (1980) e Os Novos Poderes (1990) foram outros dos seus best-sellers.
Ao longo da sua carreira, ele previu vários desenvolvimentos económicos e tecnológicos, como a clonagem, a popularidade dos computadores pessoais, a aceleração da transmissão de informação, a invenção da Internet e da televisão por cabo, além do advento dos casamentos entre homossexuais. Foi ele que popularizou a expressão “excesso de informação”.
Vários dirigentes mundiais, como o ex-Presidente soviético Mikhail Gorbatchov ou o ex-secretário-geral do Partido Comunista chinês Zhao Ziyang, confessaram ter sido inspirados pelos livros de Toffler e revelaram que o consultaram mesmo nos anos 1980.
O multimilionário mexicano Carlos Slim afirmou que conseguiu antecipar e apostar em sectores com potencial de crescimento graças às teorias de Toffler, de quem era amigo.
Publicado em 50 países, Choque do Futuro vendeu 15 milhões de exemplares.
O funeral de Toffler em Los Angeles será uma cerimónia privada, estando prevista a realização posterior de uma homenagem pública.
Alvin Toffler nasceu a 4 de Outubro de 1928, em Nova Iorque. Filho de emigrantes polacos, cresceu na zona de Brooklin, com a irmã mais nova. O pai era comerciante de peles e foram os tios – um editor e uma poeta, que viviam na mesma casa que os Toffler –, que fizeram com que um muito jovem Alvin quisesse escritor. “Eles eram intelectuais da era da [Grande] Depressão e estavam sempre a falar de ideias entusiasmantes”, recordou Toffler, numa entrevista dada há dez anos ao The New York Times para o obituário que o jornal agora publicou. Aos sete anos, pouco depois de ter aprendido a ler e escrever, Alvin começou a escrever poemas e ficção – dois géneros para os quais, haveria de descobrir mais tarde por entre várias tentativas de escrita, não tinha vocação.
Em 1946, Toffler entrou na Universidade de Nova Iorque, para estudar inglês. Tinha menos interesse pelas aulas do que pelo activismo político, contou àquele jornal. Uma das causas que defendia então eram os direitos da população negra nos EUA. Dois anos mais tarde, conheceu Adelaide Elizabeth Farrell (também conhecida por Heidi e “uma loira deslumbrante”, nas palavras de Toffler). Viriam a casar-se em 1950.
A mulher foi fundamental para a obra Toffler. Trabalhou com eles nos livros e, embora as primeiras obras, que o notabilizaram como grande pensador, tenham sido assinadas apenas por ele, mais tarde o autor divulgou que se tratava de um trabalho conjunto. Nas obras mais recentes, Já surge o nome de Heidi e esta é apresentada como sendo co-autora dos livros anteriores. “‘Nós’ não é o habitual plural majestático dos autores”, explicou Toffler numa entrevista televisiva há vários anos. “‘Nós’ é, na verdade, duas pessoas. E a outra pessoa é a minha mulher.”
A influência de Heidi começou, porém, muito antes da escrita do primeiro livro. Foi ela que o convenceu a terminar o curso e decidiram depois mudar-se para a cidade industrial de Cleveland. Alvin queria – à semelhança de escritores que admirava, como Jack London e John Steinbeck – ter experiências antes de começar a escrever. Cada um arranjou emprego numa fábrica e começaram a reflectir sobre a produção em massa.
Toffler trabalhou alguns anos como soldador e reparador de máquinas. Em 1954, tiveram uma filha (a única do casal, morreu em 2000) e o então operário, percebendo que não conseguia escrever boa ficção ou poesia, decidiu avançar para outra forma de escrita. Arranjou emprego a escrever para uma revista especializada em soldadura. Pouco depois, foi contratado como repórter num jornal de distribuição nacional editado por um sindicato de tipógrafos e daí seguiu para um jornal diário. Em 1959 deu o salto para uma publicação de renome e tornou-se o editor para assuntos laborais e colunista da revista Fortune, em Nova Iorque. Esteve na Fortune cerca de três anos, antes de sair para se tornar um escritor freelancer para revistas e outras publicações.
Em 1960 foi contratado pela IBM para escrever um artigo sobre o impacto a longo prazo dos computadores. Na altura, estas máquinas existiam apenas em ambiente académico e empresarial e a era dos computadores pessoais estava a duas décadas de distância. Toffler, no entanto, era ecléctico nos temas que abordava. Um dos seus conhecidos trabalhos enquanto freelancer naquela altura é a entrevista ao escritor russo Vladimir Nabokov, autor de Lolita. Foi publicada em Janeiro de 1964, na revista Playboy.
No final daquele ano publicou o seu primeiro livro, que reflecte sobre a produção e o consumo de cultura nos EUA, numa altura em que a economia do país estava em crescimento e uma fatia considerável da população tinha satisfeitas as necessidades materiais básicas.
Com o sucesso de Choque do Futuro, em 1970, os Tofflers dão um novo passo na carreira de pensadores e haveriam de lançar vários livros nas décadas seguintes. Em 1996, já com uma grande reputação, especialmente entre gestores, criam a Toffler Associates, uma empresa de consultoria.
Notícia actualizada às 17h43 de 30/06/2016.