Bowie começa de novo, na Cinemateca
O objectivo do programa é claro: mostrar filmes em que foi actor, filmes que inspirou de forma indelével e filmes em que as suas canções têm uma presença reveladora.
David Bowie morreu, mas não morreu. Ressuscita sempre que alguém o torna o espírito vivo, escutando as suas canções, relendo as suas palavras, revisitando as suas imagens. Sobreviveu e regressa sempre que o chamam. Ora a partir de sexta-feira (1 de Julho) e até dia 29 de Julho é exactamente isso que a Cinemateca Portuguesa, em Lisboa, vai fazer com um ciclo dedicado ao artista britânico, ele que sempre criou e habitou um território alheio a fronteiras (estilísticas e nacionais).
Entre a sala e a esplanada, o objectivo do programa é claro: evocar David Bowie no cinema, mostrando filmes em que foi actor, filmes que inspirou de forma indelével e filmes em que as suas canções têm uma presença reveladora (e não decorativa) ora da biografia, ora do universo estético que originou a obra cinematográfica. Absolute Beginners (1986), de Julien Temple, é a escolha inaugural, pelo sentido do título (Bowie era homem de começos, artista que sabia, como poucos, materializar essa capacidade humana) e como revisitação. Curiosidade a redescobrir (foi um fracasso comercial) a, pelas suas referência visuais e musicais, complementa muito bem as fábulas de Velvet Goldmine (1998), de Todd Haynes (dias 4 e 29) e de O Homem que Veio do Espaço, de Nicolas Roeg (dias 15 e 26). Se este trio traz de volta o Bowie musical no cinema, outros filmes, não menos famosos e marcantes, recordam-no, acima de tudo, como actor. Vejam-no a reencarnar personagens inesquecíveis em Feliz Natal, Mr. Lawrence (1982), de Nagisa Oshima (dias 6 e 8), Fome de Viver (1983), de Tony Scott (dia 7) e em Twin Peaks: Os Últimos Sete Dias de Laura Palmer (1992), de David Lynch (dias 8 e 25).
Já nos filmes de Paul Schrader, Quentin Tarantino, Bernardo Bertolucci e Wes Anderson, aparece invisível, passe o paradoxo, para ser ouvido. No seu lugar, estarão as canções e as memórias das canções. Destaque, para Putting Out Fire que, sobre mais de duas décadas, liga Cat People (1982), nos dia 15 e 26, a Sacanas Sem Lei, nos dias 27 e 30, para “Ragazzo Solo, Ragazza Sola”, a versão italiana de Space Oddity que assombra Eu e Tu (2012), de Bertolucci (dias 8 e 12) e finalmente para Modern Love que faz correr Denis Lavant em Má Raça, de Leos Carax (1986), nos dias 13 e 16.
Há outros filmes a rever no ciclo, mas este pequena notícia fecha-se com uma menção ao incontornável Ziggy Stardust and The Spiders From Mars (1979) de D. A. Pennebaker (nos dias 12 e 27). É o momento em que Bowie se mostra no seu lugar preferido: o palco. Vejam-no a começar de novo.